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Agora em livro, Spotlight se soma a outras obras para refletir sobre o jornalismo

Independência, perseverança e condições de trabalho alicerçaram o ofício jornalístico narrado no longa-metragem. Foto: Kerry Hayes/divulgação

Sociólogo espanhol Manuel Castells. Foto: www.teinteresa.es/reprodução da internet

Filósofo suiço Alain de Botton. Foto: www.smh.com.au/reprodução da internet

A despeito do avanço de outras formas de se fazer jornalismo, o filósofo suíço Alain de Botton considera indispensável refletir sobre a relação entre a mídia tradicional e o cidadão comum. Em Notícias - Manual do usuário (Intrínseca), ele relembra o aforismo de Hegel: “As sociedades se modernizam quando o noticiário passa a ocupar o lugar da religião como principal fonte de orientação e como referência de autoridade”. Para Botton, de fato o espectador espera, ao consumir informações por meio da mídia, “ter revelações, aprender o que é certo e o que é errado, conferir sentido ao sofrimento e entender como funciona a lógica da vida”.%u2028%u2028
 
O autor se refere ao noticiário como “o mais influente meio de educar as populações” e considera ele bem à frente das escolas no papel de “dar o tom da vida pública e moldar as impressões que temos da comunidade para além dos limites de nossa casa”. Nesse espaço, formam-se as realidades políticas e sociais. Da parte dos espectadores, no entanto, há uma espécie de prazer em estar sob o domínio da enxurrada de informações sobre os mais diversos assuntos. Na interpretação do filósofo, o noticiário pode representar “um alívio do peso claustrofóbico de vivermos em nossa própria companhia, de a todo momento tentarmos fazer justiça ao potencial que temos, de lutarmos para convencer umas poucas pessoas em nossa limitada órbita de conhecidos a levar a sério as ideias e necessidades que transmitimos”.
 
Para aprofundar as reflexões, ele analisa notícias reais, divididas nas áreas de política, internacional, celebridades, desastres e consumo, além de imaginar como seria um noticiário ideal (leia mais no boxe), capaz de atender a necessidades profundas dos espectadores e torná-los pessoas melhores. “Talvez a sociedade precise de ajuda para lidar com o que o noticiário vem causando a todos nós: inveja e terror, alegria e frustração. Tudo aquilo que nos tem sido dito e que, no entanto, desconfiamos que às vezes seria melhor nunca ter sabido”. %u2028
 
Nos sonhos...
Crítico do modelo nos meios de comunicação de massa, o filósofo Alain de Botton imaginou um noticiário ideal, de acordo com cada editoria:

Noticiário político - Deveria provocar interesse pela mecânica complexa das sociedades, ajudar a nos mobilizar de maneira inteligente por uma reforma e aceitar limitações sem gerar fúria. Criar uma nação harmoniosa e tolerante na imaginação do público, tornando possíveis os momentos de orgulho e a empatia coletiva. Acompanhar não só as atividades de quem está no poder, mas os males sistêmicos que impedem o progresso da comunidade.%u2028%u2028

Noticiário internacional - %u2028Deve abrir nossos olhos à natureza da vida de outros países, acima e além dos momentos de crise dramáticas e sanguinolentas, que paradoxalmente bloqueiam nossa capacidade de sentir empatia e de nos identificarmos. Precisa nos fornecer retratos ricos, sensoriais e, eventualmente, pessoais de outras nações. Deveria nos ajudar a humanizar o outro, fazendo-nos a abandonar nosso provincianismo globalizado.%u2028

Noticiário econômico - Deve investigar, de acordo os preceitos do filósofo suíço, no livro Notícias: Manual do Usuário, as inúmeras abordagens teóricas inteligentes e viáveis que podem concretizar versões mais sadias e satisfatórias do capitalismo de mercado, permitindo-nos descartar tanto o cinismo desnecessário presente em várias notícias quanto a indignação imatura. %u2028%u2028

Noticiário de desastres - As tragédias dos outros deveriam nos lembrar de que muitas vezes também estamos muito perto de nos comportar de forma amoral, tacanha ou violenta. Os acidentes que todos os dias ceifam nossos semelhantes deveriam servir para nos demonstrar quanto sempre estamos expostos ao risco da morte súbita e de ferimentos. Assim, ficaria claro que devemos comemorar cada hora livre da dor com gratidão e generosidade.%u2028

Noticiário de celebridades - Deveríamos ser apresentados às pessoas mais admiráveis da época - via critérios maduros e sutis - e orientados sobre como obter delas inspiração e conselhos.%u2028
 
Noticiário de consumo
Deveria nos alertar para o fato de que, na sociedade agressivamente comercial, é muito complicado gerar uma felicidade genuína ao gastar dinheiro.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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