Antes mesmo de ser alfabetizado, Eugenio Jerônimo já ensaiava versos na casa onde morava, em Iguaracy, Sertão do Pajeú. Até a adolescência, quanto decidiu trocar o semiárido pelo litoral, passava dias criando rimas sobre a chuva que tardava a levar os rastros da seca. Decidido a escrever o segundo livro da carreira, o poeta popular uniu o talento às lembranças da infância ao imprimir memórias e sentimentos nas páginas do livro Gramática do chover no sertão (Nordeste Cartonero, R$ 15). O lançamento será neste sábado (5), às 12h, no Mercado da Madalena (Canto Sertanejo, Box 15). No espaço, o autor fará um recital.
No material, o ritual da chuva é narrado poeticamente em uma tríade: Poemas a granel, Versos de sete polegadas e Paiol de pilhérias. “O livro se propõe a descrever o ciclo da chuva no Sertão. Ao todo, são três partes: a primeira, composta por versos longos, a segunda, formada por poemas menores, e a terceira com linguagem cômica”, comenta o escritor. Além da relação dos sertanejos com a água, o livro reúne temas como as manifestações culturais do povo nordestino e a ganância que permeia a cultura de massa.
Repleto de sotaque - enfatizado através das rimas - Gramática do chover no sertão revisita a tradição oral sertaneja. “Reencontrei as estruturas poéticas da poesia popular ao abordar o passado. É bom ver que, apesar de terem surgido novas mídias e formas de comunicação, a oralidade ainda resiste, e eu busquei evidenciar isso”, destaca Eugenio Jerônimo. Um dos representantes da poesia popular, o escritor trata os versos como uma arte artesanal, feita - e lapidada - através da originalidade do autor. “Existe a equivocada visão de que a arte popular é espontânea. Ora, isso é uma ignorância. Espontaneidade é do plano da realidade, não do plano da literatura, e menos ainda da poesia. Como toda expressão artística, a poética popular é invenção”, completa Jerônimo.
Antes de narrar o ritual da chuva no Sertão, o pernambucano tinha se debruçado diante de temas urbanos. No primeiro livro da carreia, Aluga-se janela para suicídio, lançado em 2009, o escritor externou percepções acerca da violência urbana. Mudido de pensamentos poéticos, o poeta popular enxergou fantasia na temática real e, muitas vezes, cruel.
>>TRECHOS
“Hábeis mãos solteironas de uma tia/De fazenda poupavam certa sobra/De boneca faziam prima obra/Um botão de ser olho se fingia”
“Vê-se o homem uma gaita assoprando/Numa espiga de milho do monturo”
Serviço
Lançamento do livro Gramática do chover no sertão, com recital
Quanto: R$ 15 (Nordeste Cartonero)
Quando: hoje, às 12h
Onde: Mercado da Madalena (Canto Sertanejo, Box 15)
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