Buenos Aires - O ator Jon Bernthal faz jus ao aclamado Demolidor interpretado por Charlie Cox na série original da Netflix. "É a mais fiel interpretação do personagem", alardeia o showrunner Steven DeKnight. O Justiceiro, codinome do ex-militar Frank Castle, que viu a família ser morta em sua frente e quer vingança, não foi um papel que ele aceitou levemente. "Não queria me divertir", disse em entrevista coletiva a jornalistas latinos promovida pela Netflix, na Argentina, há três dias.
"Há soldados que foram à guerra com o emblema de Justiceiro estampado em suas fardas". Aos 39 anos, casado e pai de três filhos, Jon contou detalhes da vida pessoal e revelou ter enveredado por caminhos sombrios para interpretar Castle. "Não estou interessado em heróis ou vilões". Os 13 novos episódios de Demolidor - uma das cinco séries adaptadas dos quadrinhos da Marvel: Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Defensores - entrou em streaming nesta sexta-feira. Leia a entrevista completa abaixo.
Justiceiro tem uma base de fãs enorme. Você se sentiu pressionado?
É um papel icônico, que já existe para a audiência e que significa muito para muita gente. Reconheço que os fãs de quadrinhos são incrivelmente apaixonados e muito inteligentes. São muito fiéis e têm sido extremamente bons para mim, agradeço muito. Quero muito retribuir, não os decepcionando. Quando meu nome foi divulgado para o papel, a reação foi muito bondosa e me deixou muito grato, mas também assustou para cacete porque só há uma maneira de fazer certo, não é? O respeito que este personagem tem... soldados foram à guerra e morreram com o emblema do Justiceiro em suas fardas.
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Frank Castle é um personagem moralmente complexo. Como você o defende?
Nunca seria capaz de entender este personagem se não fosse um marido e um pai. Tudo começa aí. Se este sentimento de amar alguém mais do que ama a si mesmo não está nos seus ossos, no seu sangue, se você não entende o que é dar livremente sua vida por alguém, você nem começa a entender o que é perdê-lo. E não há maior ferramenta do que a imaginação. E a partir daí fui entender o que é esse personagem, a imaginar circunstâncias sombrias. Não é meu papel julgá-lo. Nem defendê-lo. Meu trabalho é acreditar nele, entendê-lo, abrir meu coração para ele, simpatizar com ele. Eu eu sinto tudo isso. Sinto. O Frank Castle que começa em Demolidor não é o Justiceiro.
Quem é ele, então?
Ele é um soldado, que volta da guerra e passa pelo evento incrivelmente traumático de ver a esposa e os filhos serem assassinados na sua frente. Ele está cheio de raiva, dor, vergonha, autodepreciação. A vida como ele conhecia acabou. A missão dele é completamente pessoal. E por esta missão ser tão pessoal, não tem como julgá-lo. Ele não está preocupado com moralidade ou com bandidos. Ele só quer fazer os responsáveis pela morte da família pagarem. No decorrer dos episódios, uma filosofia vai crescer e ele se torna mais o Justiceiro. Não estou interessado em heróis ou vilões. E sim em entender o personagem.
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Seu personagem em The walking dead também era complexo moralmente. Você se sente atraído por papéis assim?
Sou atraído por camadas, por danos, por personagens ricos, que você não consegue decrifar logo. Sou imensamente grato pelas oportunidades que tenho tido. Amo minha família. Amo meu trabalho e é isso que sou. Não acredito que sou pago para fazer o que amo tanto. A forma da Netflix entregar conteúdo é incrível porque você pode fazer algo tão bom quanto virar as as costas para a audiência, ter coragem de dizer 'não ligo', vou fazer isso mesmo que você não entenda, que não esteja comigo, que não acredite. E, alguns episódios depois, ganhá-la de volta, explicando o porque de se ter feito o que fez. Isso é um grande alimento para o ator.
Você acha então que diretores e produtores que lhe enxergam em papéis assim?
Talvez. Procuro interpretar cada um deles com individualidade, de acordo com as circunstâncias em que estão. Se diretores e produtores enxergam assim, ótimo. O que faço é viver um personagem de cada vez. Não apenas estando na pele deles, mas nos ossos, os interpretando com honestidade. Se for um projeto que me toque, não ligo se é herói, vilão, cinema, televisão ou o que seja, fico desesperado para estar nele.
Quão difícil foram as cenas de luta para você?
Difíceis. A série é muita ambiciosa em termos de ação. Tenho experiência em lutar em filmes, fiz alguns e as cenas de combate em Demolidor têm qualidade de cinema. A maior dificuldade é o tempo, a agenda. No cinema, uma cena como a de Demolidor levaria três meses sendo ensaiada, antes de rodar. Em Demolidor, você tem uma luta nova por semana, além dos diálogos. Phil Silvera, coordenador das coreografias e dos dublês, é absolutamente genial para mim. Ele não apenas tenta coreografar lutas legais. Ele coreografa lutas focadas nos personagens, basedas na história. Cada pessoa luta de um jeito. E como praticante de boxe e um pouco lutador, defendo que a luta revela tanto do personagem quanto a atuação. Era muito importante para mim fazer isso certo. Phil não poupa ninguém e é muito ambicioso no quer. Na TV, geralmente não há este tipo de luta porque não há tempo.
O assédio dos fãs mais extremos, depois de The walking dead e que deve aumentar após Demolidor, incomoda?
Quando você lê um quadrinho, usa muito a própria imaginação e isso dá um sentimento de propriedade. Algumas vezes, incomoda sim – mas os fãs inteligentes, leais, gentis e graciosos são maioria. Eu vivo uma vida simples. Considerando como cresci e o caminho que trilhava, essa profissão, essa arte salvou a minha vida. Sou pai, sou marido. Me tornei um homem de muitas maneiras, tenho casa. Então, sou muito grato. Sou fã. Sei que ao afirmar ser fã de alguém você se expõe. Então, procuro deixar meus fãs confortáveis.
De quem você é fã?
Dos meus filhos. De heróis? Alguns, mas todos já foram embora: Bob Marley (ícone do reggae), Willie Nelson (cantor e compositor country).
Você assiste alguma série em maratona?
Sim. Making a murderer... é impossível não ver esta em maratona. Minha esposa passou a noite assistindo e quando acordei perguntei: 'o que você está fazendo?'. Ela: 'você não tem ideia'. (ri)
Vocês brigam pelo controle?
Temos três bebês, então o tempo que sobra para a TV, precisa ser aproveitado (risos)... você faz o que precisa fazer. Mas nós nos respeitamos muito.
(A jornalista viajou a convite da Netflix)
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