George Martin não teria sido George Martin sem os Beatles. Mas os Beatles tampouco seriam os tais não fosse por ele. Martin, falecido na manhã de quarta-feira (9) aos 90 anos, já era um nome de prestígio na cena musical londrina quando ficou sabendo que Brian Epstein empresariava um grupo pop que a maioria dos selos da época havia recusado.
[SAIBAMAIS] Tinha então 36 anos e era o homem de frente do selo Parlophone, subsidiária da EMI. Marcou o encontro com Epstein para 13 de fevereiro de 1962. Não saiu muito impressionado da gravação que ouviu, mas gostou dos vocais de John Lennon e Paul McCartney. Naquela época, vale dizer, só artistas solo emplacavam nas rádios.
Até então, Martin não tinha se encontrado frente a frente com o grupo. O contrato, que dava à banda 1 penny para cada disco vendido, só veio alguns meses depois. E houve restrições – ele descartou de cara Pete Best; a substituição da bateria ocorreu em setembro, com a entrada de Ringo Starr.
E foram nove anos intensos que definiram o que se conhece hoje como música pop. Martin conseguiu transformar em realidade as aspirações criativas dos Beatles. E além de produtor, foi também músico – com formação em piano e oboé, após a Segunda Guerra Mundial trabalhou no Departamento de Música Clássica da BBC.
Os créditos são muitos e valiosos. Foi de Martin o arranjo de cordas que está ao fundo de Eleanor Rigby; a sugestão para um quarteto de cordas em Yesterday. Ele ainda executou o solo de piano de In my life. Mas sua obra-prima foi o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), divisor de águas não só dos Beatles como da música pop. “Sem meus instrumentos e meus arranjos, a maioria dos discos não teriam soado como o fizeram. Se teriam sido melhores, não sei. Não é modéstia de minha parte, tento traçar uma imagem factual da relação” com os Beatles, disse Martin em certa ocasião.
HOMENAGENS
Na quarta, Paul McCartney e Ringo Starr prestaram as devidas homenagens. Nas redes sociais, McCartney escreveu: “Ele foi um verdadeiro cavalheiro e um segundo pai para mim. Ele guiou a carreira dos Beatles com tamanha habilidade e bom humor que se tornou um amigo verdadeiro para mim e minha família. Se alguém mereceu o título de quinto beatle, esse alguém foi George”, escreveu numa rede social, acrescentando que o parceiro foi “a pessoa mais generosa, inteligente e musical que tive o prazer de conhecer”. Em sua conta no Twitter, Starr e sua mulher, Barbara, escreveram: “Vamos sentir falta de George”, desejando ainda “paz e amor” para a família de George ao lado de uma foto do produtor.
Logo depois do anúncio da morte de Martin, as mensagens de pêsames começaram a chegar. “As lendas estão voltando para casa”, escreveu o músico Lenny Kravitz em referência a Martin, um “produtor visionário”. “Sir George Martin era um gigante da música – junto aos Fab Four criou a música pop mais duradoura do mundo”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro britânico, David Cameron. “Descanse em paz, George Martin. Estou tão chateado que não tenho palavras”, escreveu Sean Lennon sob uma foto de George Martin no Instagram.
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Ainda assim, o título que o acompanhou por décadas não dá conta de outros trabalhos. Martin, com o fim da banda, continuou trabalhando com McCartney e Starr. Mas também com Jeff Beck, America, José Carreras, Celine Dion, Earth Wind and Fire, entre outros. Ainda atuou como regente de orquestras. O último single que produziu foi a versão de Candle in the wind, de Elton John, para o funeral da princesa Diana, em 1997.
Proclamado “sir” pela Rainha Elizabeth em 1996 (um ano antes de Paul McCartney), Martin supervisionou, nos anos 1990, a pós-produção de Anthology, série de álbuns e documentário sobre os Beatles. Dez anos mais tarde, com seu filho Giles, embarcou no espetáculo Love, do Cirque du Soleil, em cartaz até hoje em Las Vegas. O projeto resultou no álbum homônimo, com trechos de 130 canções dos Beatles. Foi um beatle até o fim.
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