Sétima arte Pontos de vista da periferia são expressos em mostras de cinema em cartaz no Recife Exibição dos filmes é gratuita e vai até sexta-feira

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/03/2016 11:11 Atualizado em: 15/03/2016 14:17

Foto: Antônio Carrilho/divulgação
Foto: Antônio Carrilho/divulgação
A sétima arte é ponto de partida para reflexões sobre temas políticos, econômicos e sociais em duas mostras de cinema gratuitas e em cartaz no Recife. Sexualidade, justiça, religiosidade e violência são alguns dos assuntos abordados a partir de filmes exibidos na primeira edição da Mostra Internacional de Cinema Periférico, promovida pela Universidade Federal de Pernambuco (Av. Prof. Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária). Organizado por alunos do curso de cinema, o evento privilegia produções alternativas, cujas impressões traduzem o olhar de periferias de vários países. As sessões acontecem diariamente, até sexta-feira, no auditório da biblioteca central (sempre às 16h) e na área externa do CAC (18h30).

Ao mesmo tempo, no Centro do Recife, o Cineclube CineRua projeta curtas-metragens ligados à temática da mobilidade, somente nesta terça-feira (15), às 18h30, em frente ao Teatro do Parque (Rua do Hospício, s/n, Boa Vista). Na programação do CineRua, cuja ação faz parte da Mostra Ambiental do Recife, estão Homem na estrada, Calma Monga, calma!, João Batista e Poeta urbano. Este último, misto de documentário e ficção dirigido por Antônio Carrilho, narra a saga de um vendedor de jornais de poesias em trânsito entre Olinda e Recife. A questão da mobilidade surge quando o protagonista recita poesias no ônibus e pega caronas.

“O curta tem argumento meu, mas o roteiro e a produção do filme contaram com o trabalho de pessoas que participaram efetivamente desse universo da poesia marginal. Todas as situações filmadas reproduzem situações que de fato aconteceram em algum momento, então isso já dá uma força de verdade ao filme”, comenta Carrilho.

Entrevista Fernando Weller //Doutor em comunicação, professor de cinema da UFPE e cineasta

Por que dedicar uma mostra de cinema a produções periféricas?
O sentido da mostra é iniciar uma discussão profunda sobre a noção de periferia nos dias atuais. Ela põe em análise as relações entre centro e periferia, que eram de dependência, e hoje são reconfiguradas. Hoje temos periferias no centro e também centros dentro da periferia, no sentido de que se pode ver a presença do cinema industrial, que segue o modelo Hollywoody. Queremos refletir sobre o novo lugar da periferia no contemporâneo.

Quais as características marcantes dos filmes brasileiros periféricos?
São produções que fogem ao modelo industrial tradicional. É uma produção muito rica e diversificada que não é feita pelo olhar dos grandes centros e que é mais original exatamente por isso.

O caso dos estereótipos existentes em filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite, chegam a ser prejudiciais?
São filmes realmente estereotipados e muito negativos. Contudo, para nós que pensamos e discutimos cinema, é preciso enxergar o que essas produções têm de contemporâneo, o que mostram da realidade brasileira, o que dizem sobre o lugar da periferia, mesmo que façam apologia da violência. 


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