A quem um assassino em série tenta matar tantas vezes? Esta é uma das questões levantadas pela psicóloga e professora pernambucana Marcela Monteiro no livro Assassinos seriais: o poder da sideração e do superego arcaico (Editora Prismas, 268 páginas, R$ 54), lançado nesta segunda (21), na Faculdade Boa Viagem (Rua Jean Emile Favre, 422, Imbiribeira), às 19h.
Na obra, uma das primeiras de autoria brasileira a desvendar o comportamento de assassinos em série à luz da psicanálise, dois casos são analisados pela pesquisadora, que credita a complexidade do tema à escassez de fontes literárias encartadas no país. Chico Picadinho (Francisco da Costa Rocha, acusado de esquartejar mulheres em São Paulo) e o Vampiro de Niterói (Marcelo Costa de Andrade, acusado de matar garotos no Rio de Janeiro) são os personagens centrais do estudo, desenvolvido a partir de depoimentos recolhidos e gravados pela psicóloga nas prisões.
Marcela chegou a entrevistar, ainda, o alemão Michael Gerard Klein, acusado da morte de três mulheres em Paulista e detido no Recife. “Porém, ele exigia vantagens em troca da entrevista. Por isso, optamos por não incluir Klein na publicação”, explica. A obra é fruto de tese de doutorado da professora, que analisou o caso do Maníaco do Parque no mestrado e planeja estudar os canibais de Garanhuns no pós-doutorado. “As obras nacionais costumam explorar os casos pelo viés jornalístico, histórico. Não há literatura científica no Brasil em torno do tema. O objetivo é desvendar características dos assassinos, desvios de personalidade. Isso não resolve os problemas psiquiátricos dos criminosos já acusados, mas ajuda a prever comportamentos semelhantes”.
Poderia explicar, em linhas gerais, os dois conceitos abordados no livro: sideração e superego arcaico?
Superego arcaico tem a ver com a forma de funcionamento do nosso psiquismo, que vai trabalhar mais questões do inconsciente, relacionado a comportamentos e atitudes mais agressivas, que Freud chama de pulsões de morte. Sideração foi um conceito que eu desenvolvi ao longo do doutorado. Se refere a uma forma de funcionamento da mente dos assassinos. Durante a interação, a conversa, há um sentimento de hipnose por parte do interlocutor. Nós experimentamos uma espécie de atordoamento, não só pela gravidade dos temas, mas pela forma coloquial, tranquila até, com que eles os abordam. Quem está do outro lado do discurso se sente hipnotizado. As vítimas sentem isso. Elas nem sempre são sequestradas e levadas à força, elas acompanham a vítima. É uma espécie de sedução. É uma capacidade psiquíca dos assassinos.
O que mais chamava sua atenção no contato com os assassinos?
A forma como eles relatam os eventos com riqueza de detalhes, sem nenhum tipo de afetividade, de culpa, nenhum sentimento, a não ser o próprio prazer de cometer os atos. O processo de tortura, a captura das vítimas, os abusos sexuais chamam mais a atenção deles do que o assassinato em si.
Leia a notícia no Diario de Pernambuco