Kleber Mendonça Filho durante as gravações de Aquarius. Foto: Divulgação

Após jejum de oito anos, o Brasil está de volta ao Festival de Cannes, evento mais prestigiado da Sétima Arte, e com um toque pernambucano. Trata-se do filme Aquarius, do cineasta Kleber Mendonça Filho, que fará sua estreia na mostra competitiva do festival, concorrendo ao prêmio Palma de Ouro.

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A indicação foi anunciada em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (14), mas já era sabida pelo diretor desde a semana passada. "Recebemos a notícia de que o filme tinha entrado para a seleção especial, mas a partir daí, ele podia ir para as mostras especiais ou ser exibido fora de competição. Na quinta, soubemos que estávamos concorrendo à Palma", contou Kleber ao Viver, por telefone.

Neste ano, o festival ocorrerá de 11 a 22 de maio, com júri liderado por George Miller (Mad Max: Estrada da fúria). Kleber agora corre para finalizar o filme, que já está em avançada fase de pós-produção. "Está, essencialmente, pronto. Só estamos fazendo ajustes finais como correção de cores e som", afirma o pernambucano que está no Rio de Janeiro para concluir Aquarius.

Esta é a primeira indicação de um filme brasileiro à mostra competitiva desde Linha de passe, de 2008, dirigido por Walter Salles. O cineasta também concorreu em 2012 com a adaptação de On the road, de Jack Kerouac, mas esta era uma produção internacional. Caso vença, Aquarius será o segundo filme nacional a vencer o prêmio, 54 anos após O pagador de promessas, de Anselmo Duarte.

Rodado no segundo semestre de 2015, com locações no Recife e em Tamandaré, Aquarius traz a veterana Sonia Braga no papel da crítica aposentada Clara, que também possui o dom de viajar no tempo. Ela é a última moradora do Edifício Aquarius, um dos últimos resquícios da Boa Viagem pré-especulação imobiliária.

A vida pacata da escritora, no entanto, é abalada com a chegada de uma empreiteira, que planeja demolir o Aquarius e construir um novo prédio de luxo. Além de Sonia, o elenco conta com nomes que já trabalharam com Kleber em O som ao redor (2012), como Lula Terra, Irandhir Santos e Maeve Jinkings, dentre outros, como o global Humberto Carrão.

Sonia Braga em cena de Aquarius. Foto: Divulgação

A indicação chega para coroar uma excelente fase no cinema pernambucano que já teve filems como Boi neon, de Gabriel Mascaro, premiados em Berlim e Toronto, além do próprio O Som ao redor, lançado no Festival de Rotterdã. O lançamento em Cannes também deve abrir novas portas para a distribuição internacional do filme. Sobre a estreia nacional, Kleber afirma ainda não ter data, mas tudo indica que será exibido no segundo semestre. "Estamos trabalhando com a Vitrine Filmes, mesma distribuidora de O som.... A esperança é que chegue nos cinemas ainda neste ano".

Entrevista >> Kleber Mendonça Filho, cineasta

Como foi sua reação ao saber da escolha do filme para a mostra competitiva?
Na semana passada, recebemos a notícia de que o filme tinha entrado na seleção especial, mas isso não nos dá garantias porque ele podia ser exibido nas mostras especiais, ou correr por fora da competição. Foi com a coletiva de hoje (quinta-feira) que tivemos a confirmação que estamos na disputa pela Palma de Ouro.

Você está concorrendo com nomes como Paul Verhoeven, Pedro Almodóvar e Sean Penn. O que acha disso?
Para mim é estranho porque tem muita gente ali que eu respeito, que foram importantes na minha formação. Não posso nem pensar muito sobre isso senão acabo endoidando! (risos).

Como anda o processo de finalização do filme?
Rodamos o filme em agosto e setembro, no Recife, e logo depois iniciamos um processo de montagem. Foi corrido, mas o filme está essencialmente pronto. Agora é a fase de fazer pequenos ajustes como a correção de cores e som.

Você tem data para o lançamento no circuito nacional?
Quero muito que saia ainda neste ano e estou trabalhando para que aconteça. Estamos repetindo uma parceria ótima com a Vitrine Filmes, que também distribuiu O som ao redor.

Ser indicado a Cannes abre mais portas para a distribuição internacional do filme?
Sem dúvidas, é importante. O mundo inteiro está em Cannes, todos os olhos voltados para lá. Para O Som..., já foi importante ter sido lançado em Rotterdã, agora imagino que será melhor ainda.

Você já falou com Sonia sobre a indicação?
Sim, mantemos contato desde o fim das gravações. Ela está muito feliz e mandou avisar que já comprou um par de sapatos novo! (risos).

+ O Brasil em Cannes
Se o Brasil foi indicado poucas vezes à cerimônia do Oscar, o mesmo não pode ser dito do Festival de Cannes. Em 70 anos de história, o evento já teve 31 filme indicados à Palma de Ouro, sendo o primeiro Sertão (1949), de João G. Martin.

A lista de indicados traça um panorama das mudanças do cinema nacional no período, como o cinema novo de Glauber Rocha, indicado por Deus e o Diabo na terra do Sol (1964), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1968), pelo qual o cineasta também venceu Melhor Diretor.

Sonia Braga, protagonista de Aquarius, também já foi indicada em 1985, com O beijo da Mulher-Aranha, de Hector Babenco. O último filme brasileiro indicado, Linha de passe (2008), não levou a Palma de Ouro, mas rendeu o prêmio de Melhor Atriz a Sandra Corveloni.

+Cannes 2016
Presidido por George Miller, o festival deste ano terá ainda a estreia do novo longa de Woody Allen, Café society, com Jesse Eisenberg e Kristen Stewart. Fora de competição, o festival, que será celebrado de 11 a 22 de maio, exibirá The BFG, de Steven Spielberg, e Money Monster, de Jodie Foster, anunciou a organização. Vários cineastas consagrados estão na disputa pela Palma de Ouro, como o espanhol Pedro Almodóvar, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, o americano Sean Penn, o canadense Xavier Dolan, o americano Jim Jarmusch e o britânico Ken Loach.