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Recifense ganha prêmio de roteiro em Cannes

Bill Labonia venceu o prêmio de melhor roteiro, na categoria TV Series - Drama, no Cannes Screenplay Contest - academia do tradicional festival de filmes

Roteiro premiado foi escrito com inspiração na série Arrow, exibida no Brasil pela Warner. Foto: Warner/Divulgação

Um dia depois de o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho ser aplaudido pela seleção do longa-metragem Aquarius para a principal mostra competitiva do Festival de Cannes, outro recifense fez bonito na capital do cinema na França. Nesta quinta-feira, o roteirista Bill Labonia, de 35 anos, venceu o prêmio de melhor roteiro, na categoria TV Series - Drama, no Cannes Screenplay Contest - da mesma academia do tradicional festival de filmes.

A história vencedora se chama Broken Family, escrita como episódio sugerido para a série Arrow, exibida no Brasil pela Warner. Morando em Vancouver, no Canadá, desde o início do ano passado, Labonia conversou com o Viver sobre as dificuldades de adaptação ao mercado norte-americano de filmes e o impacto da premiação em sua carreira. Além disso, o autor falou sobre seus próximos projetos, como o workshop que passará por algumas das principais capitais do país a partir da próxima semana, incluindo o Recife.

Entrevista // Bill Labonia, roteirista

Qual era o objetivo por trás de Broken Family?

Escrevi como um Spec Script, um roteiro que você escreve sem ter pretensões comerciais, apenas para compor o portfólio. Esse portfólio serve justamente para isso. São roteiros que podem ser distribuídos para produtoras e festivais, sem a preocupação de violar direitos autorais. Como roteirista, eu tenho que manter todos os anos um portfólio composto de um longa, um piloto de drama, um piloto de comédia e um filme para TV. Broken Family é o meu piloto de drama mais recente. Trata-se de um episódio para a série Arrow, apenas para inscrever em festivais.

Há quanto tempo você escreve roteiros?

Desde que me lembro, sou um apaixonado por cinema, e roteiro sempre foi meu foco. Sempre desejei fazer mais do que filmar, queria criar histórias que as pessoas pudessem ver e se identificar. Vejo o roteiro como uma forma de expressão. É um desafio imenso contar uma boa história em apenas duas horas. Meu primeiro roteiro, se é que posso chamar assim, escrevi quando tinha por volta de 14 anos. Naquela época, os filmes de super-heróis existiam apenas nas mentes de nerds, como eu. Escrevi um roteiro para um filme dos X-Men que gostaria de ver. Nessa época, trabalhava em uma pequena locadora de vídeos em Candeias, e passava o dia vendo filmes e me inspirando em escritores como Kevin Smith e Quentin Tarantino.

E quando essa paixão virou profissão?

Em 2005, larguei o curso de Ciência da Computação, no Recife, no quarto período, para cursar cinema, no Rio de Janeiro. Naquela época estava disposto a seguir o meu sonho. O primeiro grande obstáculo foi convencer minha família a aceitar o fato de eu largar, na metade, um curso relativamente seguro para me arriscar pelos caminhos de uma profissão totalmente insegura. Mas eu estava decidido que aquele era o único caminho para mim. Escrever era, e ainda é, a única coisa que sinto verdadeiro prazer em fazer.

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Bill mora no Canadá. Foto: Acervo pessoal

Em 2014, eu voltei de Los Angeles para o Recife e abri um estúdio de fotografia e audiovisual. Eu estava concorrendo a uma bolsa para estudar roteiro na Vancouver Film School. O processo foi longo, e se arrastou por meses. Já tinha esquecido completamente da possibilidade quando recebi a ligação de que tinha ganho o concurso e que a escola queria me oferecer uma bolsa para o curso de roteiro no ano seguinte. Assim começou minha corrida para me mudar para o Canadá.

E como foi a adaptação ao novo mercado?

Foi dura. Eu estava acostumado com o modelo brasileiro, onde o cineasta muitas vezes também é o roteirista. É um cinema de autor, onde o poder é bastante centralizado. Quando cheguei no Canadá, descobri uma coisa que não sabia. Esperava um mercado menor, porém organizado. Só depois que cheguei, descobri que o Canadá é quase que uma extensão de Hollywood. Não existe diferença. Muitas das produções do cinema e TV norte-americano são produzidas e filmadas no Canadá. Vancouver é a cidade que mais aparece em filmes e séries no mundo todo. Aqui, conheci o cinema business. Onde a missão é entreter e dar dinheiro. E uma coisa não pode existir sem a outra.

Qual o impacto deste prêmio em sua carreira?

O timing não poderia ser melhor. No fim do ano passado, lancei meu primeiro livro, Roteirista Empreendedor - um guia de roteiro de cinema para iniciantes. O livro acabou virando curso e fui convidado pela Redhook a levar esse workshop para oito capitais do Brasil, incluindo o Recife. É uma forma de respaldar tudo aquilo que eu tento passar para os novos roteiristas através do meu blog. Sinto que isso vai inspirar muitos jovens brasileiros que assim como eu, têm o sonho de chegar em Hollywood. E isso pra mim vale tanto quanto o prêmio em si.

Qual a ideia central destes workshops?

O objetivo principal é oferecer às pessoas que pensam em escrever profissionalmente as ferramentas necessárias para encarar o mercado. E o fato é que eu já passei por muitos cursos de cinema e roteiro, mas nenhum deles prepara quem está começando para o que vem depois. Ninguém te prepara para o que vem depois da formatura, o que fazer com um roteiro debaixo do braço... Sinto uma urgência em preencher esta lacuna e mostrar aos roteiristas iniciantes que uma atitude empreendedora e uma visão realista do mercado são as chaves para dar os primeiros passos na carreira.

 

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