O cineasta espanhol Pedro Almodóvar exibiu nesta terça-feira (17/5) em Cannes o seu filme mais recente, Julieta, o quinto de sua carreira a disputar o principal festival de cinema do planeta, um drama sobre uma mãe dominada pela dor ao ser abandonada pela filha. Julieta, o 20º longa-metragem da carreira de Almodóvar, foi recebido com entusiasmo e já pode ser considerado um dos favoritos à Palma de Ouro, que será anunciada no domingo.
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Na entrevista coletiva após a exibição, o espanhol respondeu perguntas sobre seu envolvimento no caso Panama Papers, lista em que seu nome e o de seu irmão aparecem por suposto envolvimento com uma empresa 'offshore'. "Meu nome e o do meu irmão estão entre os nomes menos importantes que aparecem nos Panama Papers", se defendeu o diretor. "Se rodassem um filme sobre o tema, meu irmão e eu não seríamos nem sequer figurantes, mas a imprensa espanhola nos tratou como se fôssemos protagonistas".
"Há tantos nomes, não sabemos nem sequer qual é o assunto, não houve uma investigação", completou. "Se a você não impediu de ver o filme, e você gostou, isto é o essencial para mim. É o que que espero do público", respondeu a um jornalista o cineasta de 66 anos, provocando aplausos.
De acordo com o jornal on-line El Confidencial, que publicou no mês passado parte dos documentos, os irmãos Almodóvar tinham uma offshore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas em 1991, mas não estava claro se a empresa chegou a ter capital.
Agustín Almodóvar reconheceu no mês passado em um comunicado que a empresa foi criada "ante uma possível expansão internacional" de sua produtora de cinema, mas "se deixou morrer a empresa sem atividade porque não se encaixava com (sua) forma de trabalhar".
A mãe mais vulnerável de seus filmes
Julieta, inspirado em três contos da escritora canadense Alice Munro, fala da luta de uma mãe para sobreviver ao abandono de sua filha, que de um dia para o outro decide se afastar completamente de sua vida. "Sempre me senti muito bem dirigindo e descrevendo as mulheres, o universo feminino e a maternidade. É um tema que a mim sempre resulta muito atrativo", disse Almodóvar, que com o filme retorna a um tema que na realidade nunca abandonou, três anos depois de "Os Amantes Passageiros".
Mas Julieta, a protagonista, não é apenas mais uma das mulheres do catálogo de Almodóvar, e sim "a mãe mais vulnerável" de toda sua filmografia. "Julieta é uma vítima de perdas irreparáveis emocionalmente, que a vão minando como pessoa (...) até transformá-la em um zumbi que caminha pelas ruas, sem direção, sem esperança", explicou o diretor.
Julieta é interpretada por duas atrizes, Adriana Ugarte na fase jovem e Emma Suárez na maturidade, duas caras novas entre "as garotas de Almodóvar". "Por um lado queria imitar o meu mestre Luis Buñuel", disse o cineasta. Em "Este Obscuro Objeto do Desejo", o diretor surrealista escolheu para interpretar o papel de Conchita duas atrizes, Carole Bouquet e Ángela Molina.
Mas ele também disse não confiar nos efeitos da maquiagem para envelhecer uma atriz. "Queria que se observasse na atriz o tempo que passou, os anos de dor no olhar. Isto é impossível de maquiar", concluiu.
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