TV 'A prisão é um personagem', diz elenco sobre quarta temporada de Orange is The New Black Cultura do estupro, transfobia, corrupção e violência entre as detentas também permeiam nova fase da série

Por: Adriana Izel - Correio Web

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/06/2016 18:01 Atualizado em: 16/06/2016 17:42

No trailer da quarta temporada de Orange is the new black, as ameaças a Piper denotam teor violento da nova fase. Foto: Netflix/Divulgação
No trailer da quarta temporada de Orange is the new black, as ameaças a Piper denotam teor violento da nova fase. Foto: Netflix/Divulgação

A soma de 100 novas presas ao contigente da Penitenciária Litchfield, cujas regras e estrutura ganham protagonismo a partir de agora, marca a quarta temporada de Orange is the new black, com 13 episódios disponíveis no catálogo da Netflix a partir de amanhã. Mais caótica e violenta, a rotina na prisão condiz com a evolução da personalidade de Piper (Taylor Schilling), cujo verniz social é continuamente limado desde o início da série, baseada no bestseller homônimo da escritora Piper Kerman. “Eu vou enterrá-la”, ameaça a furiosa Maria Ruiz (Jessica Pimentel) no trailer da nova fase, quando a protagonista será intimidada e precisará buscar proteção.

“A prisão é como um personagem nessa temporada. Vamos ver o sistema carcerário, mas vê-lo realmente. O que é, se o sistema é corrupto e como isso afeta as pessoas. Essa temporada está cheia de momentos em que você segura a respiração e fica assustada”, anuncia Selenis Leyva, que dá vida à personagem Gloria Mendonza. O tráfico de calcinhas usadas comandado por Piper, motivador de seu conflito com Maria (Jessica Pimentel) e do estreitamento entre o presídio e o mundo exterior, colide diretamente com as novas regras prisionais. O trailer deixa entrever as cenas de intimidação e tortura da mais sombria das temporadas de OITNB. “Eu ficava assustada sempre que lia o script. Teve uma cena que demoramos 22 horas para gravar. É até difícil reviver cada momento, mas foi necessário”, reforça Selenis.

A relação entre Pennsatucky e Big Boo continua a dar tom tragicômico a série, após os estupros sofridos pela primeira. Foto: Netflix/Divulgação
A relação entre Pennsatucky e Big Boo continua a dar tom tragicômico a série, após os estupros sofridos pela primeira. Foto: Netflix/Divulgação
O envolvimento entre Poussey (Samira Wiley) e Soso (Kimiko Glenn), o casamento de Lorna Morello (Yael Stone), o retorno de "Red" Reznikov (Kate Mulgrew) à cozinha e a dependência emocional do agente Healy (Michael J. Harney) pela detenta ganham seguimento como arcos cômicos da trama. A perseguição a Alex Vause (Laura Prepon), a recuperação de Tiffany "Pennsatucky" Doggett (Taryn Manning) após os estupros sofridos na temporada anterior e o desgaste físico e emocional de Sophia Burset (Laverne Cox), vítima de transfobia, recortes mais pungentes, desequilibram a combinação sutil entre drama e humor que caracterizou a série. A produtora executiva responsável, Jenji Kohan, continuará à frente do programa na quinta, sexta e sétima temporadas, já confirmadas pela Netflix.

>> Fique por dentro

Primeira temporada:
A história gira em torno de Piper, sua adaptação e suas relações com o mundo fora da cadeia. A trama acaba com um final surpreendente que faz com que a protagonista passe mais tempo cumprindo pena na detenção.

Segunda temporada:
Após aumentar sua pena, Piper é transferida de prisão. A temporada ficou marcada por ampliar o foco da série para as personagens até então secundárias, que já haviam roubado a cena na temporada estreante.

Terceira temporada: Ainda com foco em contar as histórias do que levou cada detenta para prisão, a prisão está sob direção de Joe Caputo que precisa privatizar o presídio e com isso sofre com redução de verba e cria muitos problemas para as presidiárias.

>> Três perguntas: Jackie Cruz e Selenis Leyva


A superlotação do presídio impõe novas regras às detentas. Foto: Netflix/Divulgação
A superlotação do presídio impõe novas regras às detentas. Foto: Netflix/Divulgação
Apesar de a série ser inspirada na história da Piper, é difícil vê-la como a única protagonista. Como é ter várias personagens fortes dentro de uma mesma série?
Jackie Cruz:
Isso é o que torna a série é ótima. Não é só sobre uma pessoa. Comecei com duas falas e achei que estaria em apenas um episódio. Então, eles pediram para eu voltar. São personagens interessantes para se apaixonar.

O seriado ficou marcado por discutir temas relacionados as causas LGTB. Qual é a importância desse papel da trama?
Selenis Leyva:
Estamos lidando com temas que eram tabus, como ter uma personagem transexual com tanta força. Empatia é o mais importante. Eu e Laverne (Cox) conversamos muito, pois tenho uma irmã transgênero. Para mim é muito importante que minha irmã tenha uma voz, uma representação e isso tem sido feito de um jeito lindo. É preciso mostrar essa honestidade e iniciar essas conversas, estamos educando as pessoas sobre o que é ser uma lésbica, uma bissexual, uma transgênero... Tem coisas nessa série que estamos começando a criar conversas em todo o mundo e estamos muito orgulhosas de fazermos parte disso.

Qual é a importância de representar uma personagem latina em Orange is the new black?
Jackie Cruz: Eu sou uma latina na América do Norte, então finalmente estou me vendo na televisão e pessoas como eu. Acho que isso torna a série em algo muito popular. As pessoas estão se vendo na televisão e podem se relacionar com a gente.

Selenis Leyva: É uma história que não é feita para latinos, mas para o mundo todo. Esses personagens são muito humanos. Ter um elenco latino grande é muito importante, principalmente, pelo sucesso da série. Espero que Hollywood preste atenção e continue abrindo as portas, porque nós podemos fazer dinheiro (risos).

>> Tabus
Buenos Aires
- A discussão em torno do sistema prisional é mais um acréscimo entre os assuntos tabus abordados por Orange is the new black. Para Selenis, é importante que o seriado dê voz a uma situação que acaba sendo esquecida. “Costumamos tentar esquecer sobre essas pessoas (presas) porque há um estigma. A realidade é que a série mostra que há mulheres que fizeram coisas horríveis e outras que estiveram lá por um erro pequeno. É importante mostrar que há muito mais no nosso sistema, principalmente, nos Estados Unidos, onde há um problema em reabilitar essas pessoas”, completa a atriz.

Por conta da temática, boa parte do elenco se envolveu em ações relacionadas às mulheres aprisionadas. Selenis Leyva e Jackie Cruz, essa última dá vida a personagem Marisol “Flaca” Gonzales, contaram que, com ajuda de Piper, elas começaram a colaborar com a organização Women's Prison Association. “Participamos de uma campanha chamada Segunda chance, em que ouvimos as histórias delas e dividimos as nossas. O que Jenji fez em Orange is the new black foi me fazer olhar essas pessoas de uma forma diferente”, conta Jackie Cruz.

Antes, OITNB, como é conhecida a série entre os fãs da internet, já havia dado luz a questões como aborto, transexualidade, bissexualidade e homossexualidade. “Acho que não estamos só lidando com diferentes tipos de mulheres, mas estamos expondo coisas que o mainstream da televisão não costumava mostrar. Acho que abrimos portas para várias conversas no mundo”, analisa Selenis Leyva.

*Adriana Izel viajou a convite da Netflix



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