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Alceu Valença 70 anos, sete capítulos: o excêntrico bicho maluco beleza

No segundo capítulo da série dedicada às sete décadas do pernambucano, a excentricidade que lhe é peculiar vem à tona em forma de arte

Alceu Valença é conhecido pela excentricidade: resgata fantasias dos carnavais e encarna personagens históricos. Foto: Blenda Souto Maior/Arquivo DP

Capítulo dois de sete: o excêntrico

É fevereiro de 2012. Alceu Valença recebe jornalistas em sua casa em Olinda. Homenageado do Carnaval do Recife (tributo compartilhado com o pintor olindense José Cláudio), ele fala em espanhol, veste armadura prateada, tem lança e escudo em mãos. “Sou Dom Quixote de La Mancha”, anuncia, revelando o personagem daquele ano. É evidente que o tempo ajudou a maturar um Alceu Valença excêntrico: o músico divulga série de vídeos nos quais canta seus sucessos no banheiro, onde diz se beneficiar da acústica, engatinha no palco para lembrar a infância, desmente a própria morte nas redes sociais, dá vida a alter-egos nos carnavais.

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“Não há, no mundo, pessoa mais original do que Alceu! Em Olinda, onde guardamos as fantasias, ele eventualmente acorda com uma vontade imensa de ser Maurício de Nassau, Cabral, um pirata... certo dia, vestiu-se de toureiro e passou o dia falando um espanhol meio inventado. As pessoas chegavam lá casa e não entendiam nada, pois o personagem o dominava!”, revela Yanê Montenegro, companheira de Alceu há 18 anos.

Cantor fez série de vídeos cantando no banheiro. Foto: Facebook/Reprodução

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“São vários hábitos peculiares. Há alguns anos, voltávamos de Manaus para o Rio num voo que decolou às 5h da manhã. Todos no avião dormiam e Alceu resolveu escutar músicas dos Beatles que seu filho Rafael salvara em seu telefone. Escolheu aleatoriamente um álbum e me consultou: ‘este é bom?’. Era o Abbey road. Eu falei: ‘pode escutar, é maravilhoso’. Dali a um tempo, com os fones no máximo, Alceu gritava ‘porra, velho, isso é bom pra c******!’, vários passageiros despertaram”, lembra Julio Moura, assessor e braço direito de Alceu há mais de sete anos. Julio ofereceu “sorriso amarelo” à tripulação. Ele está acostumado, a singularidade do amigo é perene.

Neste ano, o músico encarnou Lampião para cumprir agenda de carnaval - divulgando o filme A luneta do tempo, dirigido por ele e lançado em março no circuito nacional. Antes, foi mosqueteiro, árabe, toureiro, bobo da corte. Uma tarde em seu quintal, com vista para as ladeiras de Olinda, é suficiente para o músico conduzir os interlocutores mais atentos através das sinapses velozes de sua mente: a tecnologia, os filhos, a filosofia moderna, a madeira que reveste o piso do primeiro andar, os quadros nas paredes, os aboiadores, os Beatles, Elvis Presley, Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Geraldo Azevedo, o suco de acerola tirada do pé. “Está tudo conectado, uma coisa se liga à outra, então vou falando, falando… eu não me perco. Se você se perder, me diga”, se diverte Alceu.

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