Viver

Editora que publicou matéria sobre assédio de cantor Biel é demitida do Portal IG

Estagiária que sofreu assédio foi desligada da empresa há uma semana

Por causa do episódio, Biel foi impedido de carregar a tocha olímpica e teve um contrato de R$ 400 mil quebrado. Foto: Biel/Divulgação

O caso do MC Biel, denunciado por ter assediado sexualmente uma repórter que trabalhava no Portal IG, teve novo desdobramento polêmico nesta sexta-feira. Uma semana depois de a vítima do assédio ter sido demitida, a editora-executiva Patrícia Moraes, autora das matérias que relataram o caso, foi desligada pelo site. Patrícia, responsável pelas áreas de entretimento e mulher, teria ficado surpresa com a demissão. Ela trabalhava no IG desde 2013.

Na semana passada, a justificativa do portal para demitir a repórter que denunciou o assédio foi que a empresa estava passando por um "processo de seniorização". Nesta sexta-feira, essa versão caiu por terra diante da demissão da editora-executiva. Há três anos na empresa, Patrícia já havia trabalhado para as revistas Quem e Caras, além da TV Cultura. Coincidentemente, de acordo com os jornalistas do portal, apenas a repórter e a editora que estavam envolvida no caso de Biel foram demitidas.  

Nesta quinta-feira, uma semana após ser desligada, a ex-repórter do portal IG afirmou em comunicado oficial que ainda "busca entender o porquê" da demissão. Na ocasião, a empresa declarou ter tomado a decisão por uma questão de reestruturação. A atitude gerou uma campanha de repúdio nas redes sociais, envolvendo jornalistas, feministas e os próprios usuários.

No texto, a repórter diz "que seu objetivo sempre será o de defender a sua honra como mulher e também de sua classe profissional" e agradece o apoio recebido. Leia o comunicado na íntegra:

"Ex-repórter do IG, por seus advogados, vem apresentar nota de esclarecimento sobre os últimos acontecimentos: Após a divulgação pela mídia, dia 03/06, do episódio envolvendo a repórter e o MC Biel, o portal IG determinou que a mesma se licenciasse de suas atividades por tempo indefinido. A jornalista optou por voltar ao trabalho poucos dias depois. Neste momento, diante de sua demissão no dia 17/06, busca entender oporquê desta atitude e os possíveis reflexos em sua carreira. Seu objetivo sempre será o de defender a sua honra como mulher e tambémde sua classe profissional. A jornalista agradece todo o apoio que tem recebido e a mobilização de diversos grupos indignados com o ocorrido, reiterando sua vontade de ter todos os fatos esclarecidos ao público no momento oportuno".

De acordo com a Revista Imprensa, a demissão de Patrícia foi atribuída a "corte de despesas", uma vez que era a última executiva do veículo, tendo assim o maior salário da redação. Entretanto, o real motivo do corte seria o envolvimento dela em denunciar o assédio sofrido por sua estagiária. Tanto é que outro profissional assumirá o cargo de editor-executivo.

Patrícia Moraes assinou a primeira reportagem que denunciou a má conduta de Biel contra a estagiária e teria sido impedida de divulgar novas notícias sobre o caso desde a última sexta-feira (17), por ordens da direção do iG.

O movimento #jornalistascontraoassedio criticou a postura do iG em sua fanpage, "É simbólico que, prestes à nossa campanha completar uma semana, com mais de 2 milhões de pessoas alcançadas só por esta fanpage, alguém que ajudou a tornar público um caso escabroso contra uma jornalista e mulher tenha esse destino. Quem sabe agora as entidades de classe – a maioria, num silêncio absolutamente omisso e sepulcral – venham a público fazer valer a representatividade que juram carregar? Patrícia, toda a sorte pra você. NÃO NOS CALARÃO".

No dia 3 de junho, a estagiária do Portal IG, de 21 anos, denunciou o cantor Biel na 1ª Delegacia da Mulher de São Paulo por assédio sexual. Ele é acusado de, durante entrevista coletiva, chamá-la de "gostosinha" e dizer que a "quebraria no meio" e que a "estupraria rapidinho". A jornalista participava de rodada de entrevistas com outros colegas sobre o novo disco de Biel na capital paulista. Alguns áudios foram divulgados.

À imprensa, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Paulo Socchi, criticou a segunda demissão relacionada ao episódio de assédio. "O sindicato já se posicionou claramente condenando o assédio sexual da estagiária e se solidariza com ela e agora com a editora. Condenamos do princípio ao fim a atuação da empresa nesse caso. A empresa expôs a estagiária, não a defendeu quando ela sofreu a agressão, puniu a vítima ao demiti-la e agora pune a outra jornalista que estava fazendo o trabalho de divulgar uma informação" disse, segundo a Revista Imprensa.

Por causa do episódio, Biel foi impedido de carregar a tocha olímpica e teve um contrato de R$ 400 mil quebrado. A Tilibra desistiu de exibir um comercial gravado com o artista. De acordo com a colunista Renata Reif, do iG, a empresa preferiu não associar a imagem do MC à nova linha de cadernos escolares. Para quebrar o contrato, a marca precisou pagar uma multa. A propaganda seria exibia em julho.

Desde a divulgação do episódio, internautas têm discutido o assunto e direcionado perguntas ao Portal IG na página oficial no Facebook do site, que foi alvo de vomitaço. #QueMico, uma paródia feminista da música Química, interpretada por MC Biel, foi divulgada no canal do Youtube Contra Regra. "Tá apelando, hein. Que que é isso, hein? É machista, hein. Cultura do estupro eu não vou aceitar", diz a versão, com 25 mil visualizações. A música original foi retirada da trilha sonora da novela Haja coração, da Rede Globo, após a denúncia.

Assista à paródia #QueMico:

[VIDEO1]

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...