Televisão Autora de Justiça, Manuela Dias se consolida como novo nome da dramaturgia da Globo Nova minissérie está prevista para agosto na Globo

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/07/2016 16:00 Atualizado em:

Manuela Dias é autora de série ambientada no Recife. Foto: TV Globo/Divulgação
Manuela Dias é autora de série ambientada no Recife. Foto: TV Globo/Divulgação


A relação da autora Manuela Dias com Pernambuco se consumou quando ela assinou o roteiro do longa-metragem Deserto feliz (2007), de Paulo Caldas. Uma das locações do filme é o prédio descomunal Holiday, na Zona Sul do Recife, que se repete na minissérie Justiça, produção da Globo prevista para agosto, cuja história se passa na capital pernambucana. "Viajei muito por Pernambuco. Sempre me senti atraída pelo cenário e imaginário do estado e a visceralidade com que as pessoas tratam questões de honra e amor. Era o solo ideal para fincar as histórias de Justiça", avalia Manuela, de 38 anos, considerada a nova aposta da emissora na área da dramaturgia.

Em Justiça, a segunda produção da autora, situações ficcionais se confundem com a realidade. Manuela, que assina a minissérie após a primeira experiência como autora principal em Ligações perigosas (Globo), inspirou-se em um caso da vida real para criar histórias independentes, mas que se conectam, sobre injustiças. A produção narra casos de quatro personagens presos por sete anos, que lidam com diferentes sentimentos após o cumprimento da pena.

O formato da trama apresenta um diferencial. Programada para a faixa das 23h, de segunda a sexta-feira (com exceção das quartas-feiras), a trama dividirá capítulos com diferentes protagonistas por dia, um modelo que lembra o seriado Sessão de terapia (GNT). São 20 episódios no total.

Ao explicar a renovação no padrão, Manuela se refere à televisão brasileira como um espaço para experimentação no audiovisual. Entre os projetos de que ela participou em 20 anos de Globo, estãoo a adaptação do Grande Sertão - Veredas, dirigida pelo Walter Avancini, Os Maias, de Luiz Fernando Carvalho, Hoje é dia de Maria, de Luiz Fernando, e Você decide, de Geraldo Carneiro.

>> Entrevista Manuela Dias

A minissérie fala sobre injustiças. Como surgiu a escolha do tema?
Justiça segue uma linha do que apelidei de “dramaturgia de rua”. A vida invadindo e inspirando a ficção. O embrião da ideia foi um caso real. A moça que trabalhava na minha casa me pediu ajuda pra tirar o marido dela da cadeia. Ele estava preso por ter matado o cachorro do vizinho que invadia o terreno dele e matava as galinhas e os patos. Na hora me deu um estalo sobre a questão da justiça, essa dimensão pessoal das leis. As leis atuam na nossa intimidade. O marido preso deixou a cama dela vazia. É aí que está a força da questão, na cama vazia. Daí nasceu a minissérie.

Justiça narra a história de uma maneira não linear. Como optou pelo formato?
O formato nasceu junto com o conteúdo. Meio e mensagem. A narrativa no fundo é linear, mas são várias narrativas lineares e paralelas. Quatro histórias independentes que se cruzam espacialmente. Justiça não é uma minissérie sobre o sistema penal, mas uma pesquisa audiovisual sobre o que é justo. As histórias de Elisa e Vicente, Fátima e Douglas, Rose e Débora, Maurício e Antenor compartilham um mesmo espaço urbano. Existe um drama que brota da questão espacial. São histórias ligadas por um tema e por uma cidade.

Por que investir em um formato de dramaturgia não comum na televisão aberta?
 A televisão do Brasil é uma das melhores e maiores do mundo. Só quando estive no Emmy, em Nova York, como colaboradora da novela Joia rara, escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, junto com produtores e criadores do mundo todo, tive a real dimensão da TV Globo. Somos muito mais conceituados do que conseguimos perceber por aqui. A televisão brasileira é e sempre foi um espaço de experimentação. Além disso, em todo mundo, desde que os efeitos especiais invadiram o cinema, a TV se tornou o grande espaço de experimentação para o audiovisual. Os melhores roteiristas de televisão dos Estados Unidos e do mundo, cansados de escrever para ETs e super heróis, migraram para a televisão criando séries como Sopranos, Revenge, Lost, Game of thrones, In treatment, Downton Abbey, e a lista segue. Atrás dos roteiristas foram os grandes atores como Kevin Space, Glenn Close, John Malkovich, Jeremy Irons e Maggie Smith, entre outros.

Depois de Ligações perigosas, esse é o segundo trabalho como autora titular na Globo. Pensa em escrever uma novela?
Escrever novela é um sonho, um plano e um objetivo. Como dramaturga brasileira, será um prazer e uma honra fazer parte desse time de criadores que tem figuras emblemáticas responsáveis por alimentar o imaginário brasileiro desde Gloria Magadan, Janete Clair e Dias Gomes, com mestres atuantes como Sílvio de Abreu, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Walcyr Carrasco. Novos e grandes talentos como João Emmanuel Carneiro, Duca Rachid Thelma Guedes, Lícia Manzo, Izabel de Oliveira e Filipe Miguez, entre outros.

Com 20 anos na Globo, você acompanhou muitas mudanças, como crescimento da TV por assinatura, internet, boom de seriados e surgimento de serviços de streaming. Quais os desafios de escrever uma obra nesta realidade?
O desafio é sempre uma boa história bem contada, não importa a mídia ou a concorrência. Desde sempre foi assim que surgiram os grandes clássicos, seja em livro, folhetim, cinema, teatro ou TV. Sobrevive e impacta o que tem força. Agora, de onde vem essa força é a verdadeira questão. Acredito que as histórias que, de alguma forma, conseguem tecer um fio na malha imaginária que expande a nossa experiência de vida e nos ajudam a processar eventos marcantes como o amor e a morte de quem amamos são as que sobrevivem.

Você teve aulas de roteiro com Gabriel García Márquez. Quais recordações você guarda desse momento?
O Gabo, assim todos o chamavam, era e segue sendo, apesar de ter morrido, uma figura inspiradora. Aprendi com ele a não perder tempo com o que não faz o meu coração vibrar. O coração é o alvo de um contador de história e não a cabeça. Passei um mês tendo aulas diárias com ele em Cuba, numa turma de nove pessoas, cada uma de um país. Foi uma experiência transformadora e muito rica. Acredito que buscar e investir em experiências como essa, é que lapidam nosso olhar para o mundo.

+ As quatro histórias:

Cauã Reymond vive homem que quer vingar a morte da mulher. Foto: TV Globo/Divulgação
Cauã Reymond vive homem que quer vingar a morte da mulher. Foto: TV Globo/Divulgação
Maurício e Atenor:
O contador Maurício (Cauã Reymond) cumpre pena por praticar eutanásia na esposa, a bailarina Beatriz (Marjorie Estiano). Ao sair da cadeia, quer se vingar de Antenor (Antonio Calloni), responsável por atropelá-la e fugir sem prestar socorro.


Personagem de Jesuíta Barbosa mata a namorada, interpretada por Marina Ruy Barbosa. Foto: TV Globo/Divulgação
Personagem de Jesuíta Barbosa mata a namorada, interpretada por Marina Ruy Barbosa. Foto: TV Globo/Divulgação
Elisa e Vicente:
O sentimento de vingança se confunde com o de justiça da personagem. A professora Elisa (Débora Bloch) não consegue superar a morte da filha Isabela (Marina Ruy Barbosa), assassinada pelo noivo, Vicente (Jesuíta Barbosa), após descobrir o caso dela com o ex-namorado. Vicente cumpriu sete anos na prisão.

Enrique Diaz vive Foto: TV Globo/Divulgação
Enrique Diaz vive Foto: TV Globo/Divulgação
Fátima e Douglas:
Mãe de duas crianças, Fátima (Adriana Esteves) cumpriu pena por tráfico de drogas, mas não praticou o crime. A farsa foi armada por Douglas (Enrique Diaz) e Kellen (Leandra Leal), que tinham o objetivo de vingar a morte do cachorro assassinado por Fátima. Fora da cadeia, ela pretende levar a vida normal.

Na trama, Jéssica Ellen foi presa injustamente por tráfico de drogas. Foto: TV Globo/Divulgação
Na trama, Jéssica Ellen foi presa injustamente por tráfico de drogas. Foto: TV Globo/Divulgação
Rose e Débora:
Filha de empregada, Rose (Jéssica Ellen) é presa injustamente por tráfico. Ela guardava as drogas que seriam consumidas pelos amigos, incluindo Débora (Luisa Arraes), filha da patroa da mãe de Rose. Quando sai da cadeia, ajuda Débora, mesmo sem ela ter colaborado a provar a inocência, a superar o trauma de ter sido estuprada pelo personagem do pernambucano Pedro Wagner.



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