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Série na HBO aprofunda o drama de um matador de aluguel

Terceira temporada de Sr. Ávila mostra o protagonista mais sombrio

Na terceira temporada, o assassino de aluguel Ávila assume o posto máximo da "empresa". Foto: HBO/Divulgação

São Paulo - O lado depressivo e solitário de Ávila, assassino de aluguel e personagem-título da série da HBO, afeta diretamente o ator Tony Dalton em alguns momentos da filmagem. Após sequências de gravações densas, há situações em que o norte-americano prefere não falar com ninguém. "É um personagem que vive na escuridão", resume o ator, em entrevista coletiva de lançamento da terceira temporada de Sr. Ávila, que estreia neste domingo, às 21h, na HBO.

Popular na televisão mexicana, Sr. Ávila é mais uma produção sobre personalidades ambíguas e complexas. Está na lista de séries que invertem a lógica de "mocinhos e vilões", ou seja, mais uma história sobre anti-heróis, um tipo comum em seriados recentes da produção norte-americana, como Breaking bad (AMC) e House of cards (Netflix). "A grande diferença de Ávila para os outros anti-heróis é que Dexter (Dexter, Showtime) tem motivação passional para matar, por exemplo. Algo que Ávila não tem. É uma forma de ofício", compara o roteirista Walter Slavich, criador e roteirista da produção ao lado do irmão, Marcelo.

A morte soa natural na série. É um objeto de trabalho. O personagem-título é um homem que, nas primeiras temporadas, assumia uma vida dupla: de pai de família que trabalhava como corretor de seguros de vida e matador de aluguel. "Por mais que seja capaz de certas atrocidades moralmente discutíveis, Ávila é do tipo que sofre. Não é mau por ser mau. Ele só é mau quando tem que cumprir um objetivo", justifica Walter. Em um dos momentos mais importantes do seriado, ele matou o chefe e o padre que lhe era confidente. Com isso, assumiu o posto máximo do negócio, cujo foco é a morte sob encomenda.

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Os novos episódios mostram a ascensão e a adaptação de Ávila como Senhor dos Senhores. Os próximos desafios são compreender a função, conquistar o respeito dos matadores de aluguel subordinados e se sustentar no posto. Linares, novo personagem vivido por Miguel Pizarro, ajudará Ávila com informações sobre a organização criminosa. Sem relações afetivas, já que perdeu o filho recentemente, Ávila se torna mais frio. "A única pessoa em que confiou teve que matar. Como fazer para seguir sem ter em quem confiar?", completa Walter.

Ávila passa a ser atormentado por lembranças do passado, como recordações do amigo que matou nos primeiros episódios da série. Entre os novos conflitos, ele terá que lidar com o pai da detetive Erika Duarte (Ilse Salas), disposto a esclarecer a morte da filha. Com as investigações, ele descobre uma nova corporação de crimes, que envolve governo e polícia. Ainda entre os conflitos da nova temporada, o policial Sánchez lidará com um novo parceiro.

Com dez episódios, a terceira temporada será exibida simultaneamente nos Estados Unidos, que antes só transmitia a produção após o lançamento nos países latinos. Gravada inteiramente no México, o formato se assemelha a produções norte-americanas. Há quem diga que a série é mais popular que Game of thrones no México. O primeiro episódio do terceiro ano mostra evolução da trama. Além das atuações, fotografia, estética, roteiro e texto têm qualidade. Para fãs de trama com ação, reviravoltas e personagens imprevisíveis, a série é um prato cheio.

- A repórter viajou a convite da HBO

>> Três perguntas para Tony Dalton

Roberto Ávila é um personagem bastante complexo, sombrio e está dentro de um arco dramático pesado. Em três temporadas, o personagem evoluiu muito. Como foi o encontro com o personagem?

Com três temporadas, eu conheço ele melhor que ninguém. Mas a princípio, começamos buscando em documentários sobre assassinos e sobre serial killers. Tem muitos de assassinos que falam como se movem e como reagem. Também buscamos um animal, que era um cavalo, que sempre está muito presente em Ávila (na forma como se porta). Ele parece nervoso, é um animal grande. Assim começamos…

Na primeira temporada, Ávila tem um caráter mais humano, com relações familiares. Na segunda e terceira, ele se torna mais frio. Você percebe isso?

Agora na terceira temporada isso é justamente um tema que o diretor e eu buscamos muito. É justamente onde está a humanidade do personagem, onde podemos vê-la. No início, ele tem uma família. Na terceira, já não tem mais. Ele não tem ninguém com quem falar. Antes, tinha o Senhor dos Senhores. Bem ou mal, ele poderia se expressar. Há muitos momentos onde pode ver pequenos pontos de humanidade. Obviamente esse personagem está cada vez mais se afastando de ser uma pessoa racional e normal. Ele está entrando em um mundo cada vez mais de assassino, de doente mental. Nesta terceira, já está falando com fantasmas. Quando você vê o personagem parado, pensando, ali você encontra um pouco de humanidade dele. No resto do tempo, ele passa matando as pessoas.

Você acha que uma pessoa como Ávila é possível?

Não sei se cheguei a ver algo assim, mas que existem pessoas que se dedicam a matar gente profissionalmente, não tenho dúvida. Acredito que isso acontece o tempo todo. Uma das coisas de que gosto do mundo de Ávila é que existe a empresa de assassinos e funerária, um submundo fechado, de regras, de relojoeiro, de um senhor. Isso me encanta. Não é só mais um tipo que tem uma pistola e sai matando.

>> Mortes em série

Assassinos de ocasião

A justiça criminal é o fio condutor da série How to get away with murder. A cada episódio, Anneliese e estagiários recebem casos diversos de crimes praticados por clientes. Mas, além disso, eles mesmos fazem vítimas. Na série Bloodline, a crise familiar chega ao paroxismo através de um crime. Em Orphan black, os clones de Tatiana Maslany matam para sobreviver.

Tráfico mata

Histórias sobre impérios de drogas sempre rendem vítimas. Em Breaking bad, Walter White passa de professor de química e pai de família a chefão da da metanfetamina, sem medo de eliminar adversários. A Rainha do Sul, Weeds, Narcos exploram a faceta assassina relacionada ao narcotráfico.

A ira da vingança

Vingança é um tema universal na teledramaturgia. Revenge, como o próprio nome sugere, conta a história de Emily Clarke, criança que tem o pai acusado de terrorismo. Ao acreditar na inocência dele, decide se vingar dos Graysons, família responsável pela acusação, e não titubeia a sujar as mãos. Nas novelas brasileiras, é um tema constante, como em Avenida Brasil e Babilônia.

Psicopatia

Encerrada há três anos, Dexter ainda é lembrado como das maiores produções de serial killers. Identificado como um psicopata, o analista forense mata assassinos de inocentes e tem que provar a culpa de cada um. The Following beira o surreal com uma seita de assassinos em série liderada por um professor e inspirada na literatura de Edgar Allan Poe. Em Hannibal, Dr. Lecter desenvolve relação doentia de "respeito" pelas vítimas e faz dos corpos esquartejados ingredientes para uma gastronomia sofisticada e particular.

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