Música
Festival gratuito de MPB e jazz reúne Maria Gadú e Tony Gordon no Recife; confira entrevistas
Evento ocorre neste sábado (1º), no Parque de Santana, em Casa Forte
Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco
Publicado em: 01/10/2016 10:12 Atualizado em: 01/10/2016 11:00
Tony Gordon e Maria Gadu dividem o palco do festival e encerram a programação da noite. Foto: Cíntia Duarte/Divulgação |
Dedicado ao jazz, blues e à MPB, o Festival BB Seguridade de Blues e Jazz ocupa neste sábado (01) o Parque de Santana, em Casa Forte, Zona Norte do Recife, onde Maria Gadú, Tony Gordon, Hamilton de Holanda e o grupo pernambucano Uptown Blues Band, entre outros artistas, se revezam no palco em shows gratuitos. Na programação, a entrada de Maria Gadú em cena, acompanhada pelo paulistano Tony Gordon - expoente da soul music brasileira - se destaca: ela entoa clássicos de Etta James, Miles Davis, Nina Simone. É uma pausa na turnê do álbum Guelã, lançado no ano passado.
"É diferente de tudo que ela já fez, do que vem fazendo. Todo o repertório foi escolhido por ela e é chiquérrimo. Cantar At last ao lado de Gadu foi uma surpresa para todos, inclusive para a gente. É uma honra, um orgulho", diz Tony Gordon, que se prepara para lançar disco solo produzido pelo filho, Will Gordon. Para ele, a gratuitade do evento é fundamental à difusão do blues e do jazz: "No Brasil, essas cenas sempre são minoria. É uma minoria que produz e uma minoria que consome também. Mas são cenas eternas. Nunca deixei de trabalhar tocando jazz e blues no Brasil", avalia, aos 30 anos de carreira. Além da dupla, que encerra a programação, se apresentam o baixista Dudu Lima, o guitarrista Stanley Jordan e os grupos Blues Etílicos, O Bando, Orleans Street Jazz Band e Uptown Blues Band - esta última, a única representante pernambucana na grade.
"Os parques públicos e os lugares abertos são perfeitos para esse tipo de festival, porque a ideia é que a música seja tocada para toda a família. Filhos, tios, avós, primos, pais... Faz com que as pessoas se encontrem entre si, além de promover o encontro da população com os artistas, com a música produzida por eles", opina o bandolinista e compositor Hamilton de Holanda, filho de pernambucanos. Ele se apresenta com o percussionista Thiago da Serrinha e o acordeonista Marcelinho Caldi, e, além dos projetos Samba de Chico e Caprichos, homenageia o pernambucano Naná Vasconcelos com a inédita Nafrenavo.
SERVIÇO
Quando: 1º de outubro (sábado), 14h30 às 22h30
Onde: Parque de Santana (R. Jorge Gomes de Sá, Casa Forte)
Quanto: Entrada gratuita
>> PROGRAMAÇÃO
14h Orleans Street Jazz Band
14h30 Uptown Blues Band
15h30 O Bando
16h30 Hamilton de Holanda
18h Blues Etílicos
19h Stanley Jordan e Dudu Lima
20h30 Maria Gadú em show de blues com participação de Tony Gordon
>> ENTREVISTA: Tony Gordon, músico e arranjador
O paulistano Tony Gordon acompanha Maria Gadú no festival. Foto: Site oficial/Reprodução da internet |
Esse tipo de show aberto ao público é muito legal. O mais legal são os artistas brasileiros, a grande maioria do time escalado para o festival, tocando a música mundial, o blues, o jazz. Eu tenho um orgulho da cultura, da formação do músico brasileiro. O blues, tocado por um brasileiro, é diferente. E isso é incrível, é muito bom.
Acha que o blues, o jazz e a MPB tradicional têm o mesmo espaço que outros segmentos? O que falta para se tornarem mais populares? Essa popularização é necessária/urgente?
Eu acho necessária e urgente a informação de boa música, seja blues, jazz, MPB, bossa nova... Eu acho que a boa música é que precisa de uma visibilidade maior.
Tem algum novo projeto engatilhado? Algo será gravado/produzido em breve?
Sim. Trinta anos de carreira se passaram... Nisso, nasce filho, filho cresce, e hoje ele vem com um repertório e diz "pai, queria te produzir", e é um orgulho, um presente ser produzido pelo meu filho. A gente está montando um trabalho inédito. Temos cinco músicas prontas. Vamos lançar um disco juntos, finalmente. Acho que tudo chega na hora certa, quando você sente que chegou o momento de fazer aquela coisa, naquele sentido. Depois de tantas coisas diferentes que a gente já fez. Tudo tem seu momento. Chegou a hora.
Como tem sido a experiência de dividir o palco com os artistas envolvidos nesse projeto? Como avalia a troca de bagagens entre vocês?
É muito rico, sempre, dividir palco com outros artistas, com outras influências. É sempre muito bom, tudo muito rico. É uma troca de energia, um aprendizado constante, uma emoção muito grande. Afinal, os músicos, cantores, a gente vem aqui numa posição muito privilegiada. Então, trocar energia boa, de música, que não traz coisa ruim, só traz coisa boa nesse momento, é incrível.
>> ENTREVISTA: Hamilton de Holanda, bandolinista e compositor
Hamilton de Holanda mescla jazz, samba, chorinho e MPB sobre o palco. Foto: Felipe Diniz/Divulgação |
Eu vou desde muito pequeno para o Recife, para as praias próximas. Minha família é de Moreno. Sempre frequentei Pernambuco, estou sempre por perto. Tenho um carinho muito grande pelo estado, é um lugar com incrível quantidade de manifestação cultural de todos os tipos, com ritmos maravilhosos, instrumentistas, compositores, cantores. É um estado muito cultural, e essa relação familiar me deixa ainda mais íntimo. Amo o frevo, já compus vários frevos. Tenho grandes amigos no estado, e o público é sempre carinhoso, generoso comigo.
Pensa que a música instrumental ainda precisa se aproximar mais do público? Falta algo para torná-la mais popular?
Eu acho que a música instrumental sempre vai precisar se aproximar do público, assim como qualquer outra música. Cada vez mais, sinto o interesse de jovens pela música instrumental. Essa coisa de tornar mais popular não é a gente que diz, não cabe ao músico. É o público quem decide. Seja quem for o artista, cantor, instrumentista, ele precisa mostrar seu trabalho. E as pessoas que trabalham com isso precisam promover eventos, shows, festivais que aproximem o artista e sua música do público. Quanto mais iniciativas, melhor. Quanto mais a música instrumental se aproximar das pessoas, mais fácil desconstruir esse estigma errado de que é uma música difícil, elitista, impopular. Quando, na verdade, todo mundo se emociona ao ouvir Brasileirinho ou um chorinho, um forró com acordeon.
A MPB está se tornando mais popular?
Penso que a MPB, o jazz e o blues já são músicas populares, são músicas mundiais. O jazz e o blues deixaram os Estados Unidos há décadas e se espalharam pelo mundo. Pixinguinha se aproximou do jazz, Tom Jobim também, com a bossa nova. A MPB se torna cada vez mais popular e, ao mesmo tempo, mais clássica. Ela nasceu popular, mas o tempo a transforma em algo clássico.
O que preparou para a apresentação? Poderia comentar um pouco o repertório?
O show será feito com Thiago da Serrinha, percussionista, e Marcelinho Caldi, acordeonista. Dois grandes músicos. São compositores, músicos completos. Faremos o repertório misturando Samba de Chico, com composições de Chico Buarque e homenagem ao samba, mas eu vou tocar também faixas do meu projeto Caprichos, um projeto de cunho educacional. Compus 24 músicas como desafios instrumentais para o bandolim, mas que servem também para outros instrumentos. Vou tocar Capricho do sul, Capricho do Carmo. Vou aproveitar a oportunidade de estar no Recife e tocar uma música que eu fiz no começo do ano, quando nosso querido Naná Vasconcelos faleceu. Eu ja tive oportunidade de tocar essa música em alguns lugares, inclusive fora do Brasil, e agora vou poder tocá-la no Recife pela primeira vez, com muita emoção. Chama-se Nafrenavo, uma mistura do nome de Naná com o frevo. Devo tocar, ainda, músicas conhecidas do público nordestino, composições de Sivuca, por exemplo. E o que a surpresa do encontro com o público proporcionar. Porque cada vez que eu toco, eu deixo esse encontro influenciar a música e a improvisação acontece. Tenho certeza que será muito emocionante essa apresentação.
Entre as suas referências/inspirações, algum nome pernambucano tem destaque? Como vê a música do estado enquanto fonte de referência?
A cultura pernambucana é fantástica. Talvez seja o estado brasileiro com mais gêneros e manifestações culturais. É uma fonte de inspiração sempre. Adoro o Capiba. Marcos César, grande professor de bandolim, foi uma referência para mim no início da carreira. Dominguinhos é uma influência constante também na minha música. E o frevo, que é um presente de Pernambuco para o Brasil. Poder fazer frevo, tocar frevo... Já tive a alegria de ver um frevo meu gravado pela Spok Frevo Orquestra. A cultura pernambucana é sempre uma fonte de inspiração para mim.
Como recebeu o reconhecimento de melhor solista instrumental da música brasileira? O que representa a premiação? O que ela sinalizou para você?
A gente faz música pelo sentimento, pela possibilidade de transformar uma música em um abraço, de fazer carinho no ouvido do público, ou mesmo de me emocionar sozinho naquele momento. Eu realmente faço música para isso. Os prêmios são consequências. Uma consequência muito boa, é claro. Fico feliz porque eles indicam que eu estou num caminho bom, no caminho certo, que faz bem à música brasileira. Receber o prêmio de Melhor Solista foi uma dádiva. Me estimula, me incentiva a seguir fazendo o trabalho que eu faço, a procurar alguma composição que ainda não fiz, encontrando novas parcerias pelo mundo. A música tem esse poder de fazer as pessoas se encontrarem. Como profissional da música, um prêmio desse é uma luz que é colocada em cima do meu trabalho.
Como tem sido o feedback de Mundo de Pixinguinha? Como surgiu a ideia de transportar a obra dele para o jazz?
Tem sido um sucesso. Tanto de público, entre as pessoas que comentam comigo, os fãs. Quanto dos jornalistas, críticos, pessoas ligadas à música, ao mercado da música. O feedback é maravilhoso. Na verdade, o projeto está na segunda fase. A primeira fase foi o CD. Mas o Canal Brasil registrou as imagens em vídeo e agora lançamos o DVD. Fico feliz, porque foi uma ideia que surgiu espontaneamente. Já viajo para fora do Brasil há 16 anos, participando todos os anos de festivais de jazz, world music, música instrumental, em vários países da Europa, nos Estados Unidos. Nesse tempo, fiz muitos amigos, músicos ligados ao jazz. Em determinado momento, tive vontade de fazer um disco em homenagem à obra de Pixinguinha, e o Marcos Portinari, que é meu parceiro de trabalho, produtor artístico, sugeriu que convidássemos meus amigos estrangeiros, ligados ao jazz, para oferecer uma leitura das músicas de Pixinguinha sob o ponto de vista mundial. Foi assim que surgiu, da ideia de mostrar a música de Pixinguinha ao mundo, compartilhar o trabalho dele. Alguns dos músicos que participaram não conheciam a obra dele. Além disso, outros músicos, críticos de outros países conheceram Pixinguinha. Muita gente do ramo passou a olhar para a obra dele com mais carinho. Conseguimos nosso objetivo, que era divulgar a obra de Pixinguinha e colocá-lo dentro do contexto do jazz. Foi uma troca de experiências maravilhosa.
Como se desenrolou a produção desse projeto? Como se deu, em linhas gerais, essa troca de experiências?
Foi um trabalho bem trabalhoso. A gente precisou articular uma produção que envolvesse vários países. A gente teve o patrocínio do projeto Natura Musical, e eu fui a Roma, a Paris, a Nova York, à Espanha, a Lisboa, gravei com diferentes músicos. Gravei no Brasil também. Em termos de produção foi bem trabalhoso, mas o resultado valeu a pena.
Como desenvolveu o projeto Alegria? Como se deu o trabalho com as crianças?
O projeto Alegria surgiu da oportunidade de fazer um concerto com a Orquestra Mato Grosso. O maestro Leandro Carvalho me convidou para que eu sugerisse um repertório. Há muito tempo eu queria fazer um trabalho com repertório voltado ao público infantil. Meu sempre presente parceiro Portinari botou a pilha, falou: vamos fazer. Era algo que já queríamos. Fui escolher o repertório, compartilhei com o maestro, com Portinari, mas faltava algo autoral, então me propus e compus a Suíte da Infância, com três movimentos. Juntamos com as músicas conhecidas, trilhas da Pantera cor-de-rosa, do Super Mario, do Sítio do Pica-Pau-Amarelo. E eu gravava a parte do bandolim e passava para o Vitor Santos, o arranjador. Depois, foi só ensaiar. Foi uma coisa bem prática. Era impressionante como, nos ensaios, concertos e gravações, nas primeiras notas que tocávamos das músicas, já vinha uma alegria muito gostosa. Eu olhava para o rosto dos outros músicos e já sentia aquele sentimento, aquela viagem que a gente faz, da era das pedras, dos Flinstones, do mundo de fantasia que a música inventa pra gente. E é maravilhoso. Além disso, são músicas que exigem dedicação instrumental. É para crianças, mas é para adultos também. Eu diria que é para crianças de zero a cem anos. Ou mais.
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