Pelo inusitado da referência em seu título, Pineal nasce livre de associações, correspondências: é um cômodo limpo, preenchido por estética psicodélica e por mantras com sotaque pernambucano. O segundo disco da banda pernambucana Tagore faz alusão à glândula de mesmo nome - também chamada de epífise neural, comumente associada à mediunidade e à transcendência - e chega à internet na sexta-feira, véspera do Festival No Ar Coquetel Molotov, quando o grupo apresenta novo repertório no Recife, sua cidade natal.
Confira o roteiro de shows no Divirta-se
É um trabalho imersivo, dançante, luminoso, retrô. Mudo e Pineal, primeiras faixas a ganhar videoclipe, anunciam a atmosfera dos anos 1980: paetês, jogo de luzes, pista de dança e câmera lenta são tomados como recursos contrários à efemeridade das coisas, relações, épocas. Pineal se impõe contra a passagem fugaz - ou, ainda, o desperdício - do tempo.
São odes à permanência, às coisas capazes de se prolongar, convites à observação dos instantes, ao registro destes. Enfileiram passado - não necessariamente remoto - e presente, evocando perdas, transformações, saudades. “Não diria que [o efêmero] me incomoda, mas me fascina desde muito novo. Perceber o deslizar do tempo sobre o espaço. Hoje em dia eu diria que isso é mais ‘palpável’, porque temos registros de tudo a todo momento, existe um referencial constante de um passado recente, onde tudo era diferente”, explica Tagore.
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Julio Castilho (baixo, guitarra e teclados), Caramurú Baumgartner (percussão e teclados), Emerson Calado (bateria), João Cavalcanti (baixo, guitarra e teclados) e Diego Dornelles (baixo, guitarra e teclados) completam a formação. Após o show no Coquetel Molotov - que ocorre no sábado, a partir das 13h (abertura dos portões), na Coudelaria Souza Leão, na Várzea -, eles seguem em turnê pelo Sudeste e Sul do país, quando aproveitam para promover campanha de financiamento colaborativo a fim de lançar o álbum em vinil e CD.
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PSICODELIA
"Sempre curtimos bastante sonoridades psicodélicas, fosse com os Beatles ou com o Ave Sangria, nos encanta o mar de texturas que é possível explorar, afim de provocar os sentidos do ouvinte, seja por um minuto ou dez. Mas o reforço na preferência por essa estética veio em 2012, com a descoberta do Tame Impala, projeto do produtor australiano Kevin Parker. A forma como ele 'colore' as camadas sonoras nos chamou a atenção desde o primeiro momento. De lá pra cá, assimilamos essa nova influência de forma gradativa."
ATUALIDADE
"Sinto que estamos vivendo um período em que o som dos anos 2010 está sendo definido por bandas que, sim, carregam um tom psicodélico em suas produções. Dentre essas bandas, podemos citar os neozelandezes Connan Mockasin e Unknown Mortal Orquestra, o canadense Mac Demarco, que inclusive já se apresentou em Olinda, além do próprio Tame Impala."
"Eu não falaria em nostalgia, mas acho que o fato de hoje em dia podermos gravar sozinhos em um quarto, talvez, esteja guiando o processo criativo por caminhos mais introspectivos. É como se cada um desses artistas entrasse em sua própria bolha pra nos devolver essas versões atualizadas da psicodelia de outrora."
MISTICISMO
"Muitas culturas holísticas consideram a pineal nossa via de conexão "medíunica" com outros planos, menos densos que esse em que vivemos. Como o processo de composição pra mim é muito incrotolável, eu me sinto como uma antena, recebendo essas ideias de algum outro lugar. Acho que está muito místico o nosso papo, né?"
ESTÉTICA
"A identidade visual da capa do disco e singles foi toda desenvolvida pelo Caramurú Baumgartner, nosso tecladista. Ao passo que a identidade dos clipes ficou por conta dos parceiros da Toca Audiovisual, produtora gaúcha sediada em Santa Maria (RS). Ambos os projetos tiveram como norte, cores mais vibrantes, em alusão à sonoridade presente no disco."
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