Música Maestro Forró é novo imortal da Academia Pernambucana de Música Músico regente da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério foi eleito por unanimidade e passa a ocupar a cadeira número 16

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/11/2016 11:37 Atualizado em: 24/11/2016 11:33

Maestro Forró passa a ocupar a cadeira que pertencia ao Maestro José Menezes. Foto: Ricardo Fernandes/DP
Maestro Forró passa a ocupar a cadeira que pertencia ao Maestro José Menezes. Foto: Ricardo Fernandes/DP


A lembrança revisitada nos últimos dias pelo Maestro Forró já tem alguns anos e começa assim: o músico avistou de longe o maestro José Menezes, mas decidiu esperar que ele fosse embora. Precisava entregar exemplares do último disco naquela mesma loja, mas temia o encontro. Menezes era um crítico feroz do trabalho de Forró. Dizia que os arranjos concebidos por ele eram exageradamente acelerados, não correspondiam às tradições do frevo.

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Ainda assim, por não poder esperar mais, Forró decidiu enfrentá-lo: abriu a porta da Passadisco, ponto de encontro da cena musical recifense e foi recebido com entusiasmo. Ali, Menezes o elogiou pela primeira vez. Disse acompanhar seu trabalho, os projetos, as apresentações. Conversaram sobre as carreiras, a música instrumental, os discos mais marcantes. Não imaginariam que, anos mais tarde, o Maestro Forró ocuparia a cadeira deixada por José Menezes na Academia Pernambucana de Letras, da qual tomou posse na terça-feira (22), em cerimônia realizada no Teatro Arraial, no Centro do Recife.

“Descobri naquele dia a nossa ligação afetiva. Ao listar algumas de suas principais composições, Menezes mencionou o frevo Tá faltando alguém, que a minha mãe cantava na minha infância, como canção de ninar. Eu não sabia que era dele. Aquilo me emocionou”, lembra Francisco Amâncio da Silva, o Forró. Eleito por unanimidade novo imortal da APM, ocupante da cadeira de número 16, ele foi convidado pela presidente da instituição, Leny de Amorim, a formalizar candidatura ainda em 2013, após o falecimento de Menezes.

A partir de então, teve o currículo analisado e o nome submetido ao voto dos 30 membros da academia. “Entre os imortais, há várias referências para mim, ídolos, inspirações. Nunca pensei em estar na mesma lista que o Maestro Duda, por exemplo...”, analisa Forró. Ele vê o novo título como incentivo ao projeto de eruditizar o popular e popularizar o erudito, essência da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério.

Tem sido um ano de reconhecimento: em fevereiro, Forró foi homenageado do Carnaval do Recife e, em dezembro, será destaque da programação do XIX Virtuosi - Festival Internacional de Música de Pernambuco. No dia 10 do mês que vem, às 19h, participa de concerto gratuito na Bomba do Hemetério, com músicas natalinas arranjadas para orquestra e coro.

>> DUAS PERGUNTAS: Maestro Forró, músico

Poderia apontar, em linhas gerais, as raízes do seu projeto de popularização da música erudita? Como ele se desenvolve?

Eu sempre fiz um trabalho sustentado por alicerces acadêmicos, mas faço misturas, e nem todo mundo entende. Meu trabalho de popularizar o erudito e eruditizar o popular aponta, entre outras coisas, para a Zona da Mata pernambucana, onde nasceu meu pai, Zé Amâncio do Coco. Os ritmos de tradição popular ficaram marcados em mim. Por coincidência, foi também na Zona da Mata, em Nazaré da Mata, que nasceu o maestro José Menezes. Nós temos essa influência em comum. A partir disso, convivi com o trabalho erudito do meu irmão, [o pianista] Maestro Gil, e a formação popular do meu pai. Aos 5 anos, eu já tocava zabumba acompanhando Seu Zé Amâncio. E a efervescência musical da Bomba do Hemetério consolidou minha formação. Decidi desburocratizar a música em geral.

A que tipo de "burocracia" se refere?
À convivência saudável entre as diferentes linguagens da música. Defendo uma produção musical acessível, sem barreiras, baseada na comunicação irrestrita, abrangente. Há um tipo de academia que não dialoga com outro tipo. Por exemplo, há músicos que só consideram músicos os que leem partitura, que tiveram formação erudita. E há outros que pensam o contrário, que só são músicos aqueles que não dependem de partituras. Estes são chamados de brincantes pela primeira corrente. Mas as pessoas precisam entender que uma coisa não invalida a outra. Eu tive a sorte de ter um pouco das duas formações e quero defendê-las, mesclá-las. Estudo todos os dias, incansavelmente, a linguagem acadêmica. Mas estudo também a comunicação direta, sem amarras, para somar ambas.

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