A literatura está de luto. A escritora e poetisa Lucila Nogueira faleceu, aos 66 anos, na madrugada deste domingo (25), no Hospital Santa Terezinha, no Recife, em virtude de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico. Nascida no Rio de Janeiro, em 1950, a escritora foi uma das grandes expoentes da chamada Geração 1965, cujo conceito foi criado pelo jornalista do Diario Tadeu Rocha.
Em outubro, a escritora foi internada no Hospital dos Servidores depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e uma insuficiência renal com baixa taxa de glicose, chegou a se recuperar, mas foi internada novamente em meados de dezembro. A morte da escritora chegou a ser divulgada por amigos, de forma equivocada, no dia 22 dezembro deste ano. A família chegou a desmentir a notícia mas confirmou o estado grave de Lucila. O velório acontece neste domingo (25), a partir das 10h, na sede da Academia Pernambucana de Letras (APL), onde Lucila é imortal e ocupou desde 1992 a cadeira 33. O sepultamento será às 15h, no Cemitério de Santo Amaro. A poeta deixa três filhas e três netos.
Além de imortal e escritora, Lucila ainda era professora do curso de letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A escrita fez graduação em direito, mestrado em letras e doutorado em letras pela mesma universidade. Foi colaboradora do suplemento literário do Diario, editado pelos poetas e escritores César Leal e Marcus Prado. Mais tarde, com o fim do suplemento, colaborou com o caderno cultural do jornal, o Viver.
Lucila também foi curadora da Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas (Fliporto), entre os anos de 2007 e 2008, quando a festa ainda era realizada no município. Lucila publicou diversos artigos, mais de 30 livros e orientou importantes nomes das letras e do jornalismo cultural pernambucano. A escritora foi a primeira mulher brasileira a representar o país no Festival Internacional de Poesia de Medellín, na Colômbia, em 2006.
Relações de amizade e carinho
Seu primeiro livro, Almenara, ganhou, em 1978, o prêmio de poesia Manuel Bandeira, concedido pelo Governo do Estado. O mesmo ocorreu com Quasar, no ano do centenário do poeta pernambucano. Suas obras foram traduzidas para outros idiomas, como o francês. Enigmática e magnética, querida tanto por alunos e colegas da UFPE quanto por colegas escritores, Lucila gostava de ousar nas roupas e nas perucas que ela usava como expressões de seu estado de espírito. Passou por um câncer no início da década, mas nunca desanimou em seguir na literatura. Sua obra poética traz os arquétipos femininos revestidos com uma sensibilidade muito particular.
Entre sua obra crítica e ensaística, se destaca sua tese de doutorado sobre João Cabral de Melo Neto, O cordão encarnado, no qual defendia uma visão original sobre o poeta: a de que sua obra tinha, sim, a ver com posicionamento político. Lourival Holanda, colega de departamento, afirma que Lucila foi muito marcante na universidade. "Ela fez muito bem à nossa geração. Tinha um modo muito especial não somente de fazer, mas de ser poesia. Ela tinha singularidade. A gente achava Lucila exótica, mas ela era a poesia dela. Teve sempre um caráter muito forte e criou uma sensibilidade poética em todos os alunos com quem conviveu".
O escritor Raimundo Carrero, outro amigo da escritora, destaca a perenidade de sua obra e a habilidade que o artista tem, por meio de sua obra, de driblar a morte. "Lucila foi uma escritora que conheci ainda nos anos 1960, quando eu começava a trabalhar no Movimento Armorial, e ela surgia com a uma poesia impressionante. Os versos dela tinham a força da poesia universal e a nostalgia da poesia portuguesa, de sua origem. Casou-se com um amigo meu, Sérgio, que morreu há algum tempo. E ele foi um escritor que me ajudou muito naquele momento da adolescência em que todos precisamos de orientação de alguém. Ele era um líder em prosa, mas, por alguma razão, foi ser poeta. O primeiro livro dele tinha forte influência de João Cabral de Melo Neto. E foi Sérgio quem me emprestou Noites do sertão, de Guimarães Rosa, que foi um livro importantíssimo para mim. Lucila vinha sofrendo muito desde a década de 1980. Não sei se ela descansou, como diz o povo, mas sei que essa partida significa que Lucila agora está livre da doença física".
O também escritor e professor da UFPE Anco Márcio concorda com Carrero ao exaltar a obra de Lucila como algo que vai resistir ao tempo. “Não são as suas ações dignificantes ou vergonhosas, nem as suas virtudes ou as suas fraquezas, o maior legado que um artista deixa para os pósteros é a sua própria arte. Neste caso, Lucila deixa-nos uma poesia que encerra uma das grandes vozes da sua geração. Com a sua morte, a poesia de língua portuguesa não fica menor, pois a sua poesia continuará para sempre à disposição de todos que queiram nela encontrar o melhor da sua passagem entre nós".
Acompanhe o Viver pelo Facebook:
[VIDEO1]
Leia a notícia no Diario de Pernambuco