Em entrevista, o autor falou sobre a transformação constante de sua produção criativa, lembrando que busca se entregar sempre a novas formas de escrita. A respeito de sua última obra, A resistência, Fuks destaca a importância de escolha da voz narrativa. "Para tratar de assuntos tão íntimos, tão pessoais, me pareceu importante abordar a questão da forma mais direta e sincera possível, e a voz em primeira pessoa, em tom que evoca o confessional, foi a única possível para isso".
Entrevista // Julián Fuks, escritor
Seus livros foram indicados ou premiados em alguns dos maiores prêmios da literatura brasileira, como é seu processo criativo de escrita? Ele muda a cada obra ou há algo de constante?
Sempre admirei a rigidez de certos escritores, autores que se mantêm fiéis ao mesmo programa estético durante toda a vida, mas tenho me sentido cada vez mais incapaz de alcançar essa constância. Aos poucos, fui percebendo que, para me manter fiel a mim mesmo e ao meu projeto, tenho que me transformar constantemente, tenho que me entregar sempre a ideias novas e novas formas de escrita. Cada livro, então, convoca algo como um novo estilo, cada conteúdo exige sua forma própria, e assim o processo de escrita se faz outro a cada momento.
Quando escreve, você pensa e planeja que tipo de reflexões e diálogos quer criar e possibilitar ao leitor?
É evidente que é preciso calcular a cada palavra o efeito que o texto provoca no leitor, ponderar as muitas interpretações, os vários sentidos possíveis. A escrita é sempre um gesto comunicativo, uma relação entre dois, que não existe na ausência de um leitor. Mas a vontade dos leitores também não pode se tornar uma camisa de força, um limite intransponível para a liberdade do escritor. Se o escritor quer apenas agradar, pode acabar produzindo uma obra óbvia e anódina, sem qualquer valor.
Qual seria a importância da literatura na sociedade atual, em meio a tantos conflitos?
A utilidade da arte, a utilidade da ficção, é um debate que vem sendo travado há séculos e que nunca alcançará qualquer resposta definitiva, qualquer certeza derradeira. A importância da literatura oscila entre um tempo e outro, uma língua e outra, um continente e outro, sendo algo sempre contingente. Talvez já tenha se passado o tempo do choque, da arte para causar ruído. Hoje, nas circunstâncias que temos vivido, neste mundo em convulsão que parece tão dado a retrocessos, à revogação de direitos, ao retorno de autoritarismos, penso que a literatura deve se fazer mais precisa, mais contundente, mais incisiva, na tentativa de dirimir uma situação de pleno desentendimento.
Em A resistência, suas memórias, histórias familiares e criações fictícias se misturaram ao longo do livro? Por que motivo a escolha de narrar em primeira pessoa?
Sim, é uma narrativa de autoficção, construída a partir de uma série de vivências familiares. Tem como ponto de partida a adoção do meu irmão, antes que eu nascesse, e a militância dos meus pais durante a ditadura militar argentina, a perseguição de que foram vítimas, o exílio no Brasil. Para tratar de assuntos tão íntimos, tão pessoais, me pareceu importante abordar a questão da forma mais direta e sincera possível, e a voz em primeira pessoa, em tom que evoca o confessional, foi a única possível para isso. Mas é claro que o livro não retrata de maneira literal a experiência vivida: há ficção na medida em que há construção estética, a constante escolha da forma mais expressiva de narrar essas histórias.
O que mais influencia suas criações literárias? Suas próprias experiências, os livros que leu, as pessoas que conhece?
Tudo influencia. Não sou um sujeito dos mais inventivos, não tenho uma imaginação abundante.
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