Televisão
Drama pornô recria nascimento da indústria do sexo a partir do submundo das ruas
Série da HBO The Deuce reúne criadores da premiada The Wire
Por: Tiago Barbosa
Publicado em: 17/09/2017 11:30 Atualizado em: 17/09/2017 11:24
Maggie Gyllenhall interpreta uma garota de programa e futura atriz de filmes pornôs. HBO/Divulgação |
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O seriado toma emprestado o apelido dado à Rua 42 da Times Square, coração da cidade, e conta com a assinatura de David Simon e George Pelecanos, nomes por trás de The wire (2002-2008, HBO), sobre a rotina de detetives de homicídios de Baltimore nos idos de 1980. The Deuce ficcionaliza o surgimento e a evolução inicial da indústria a partir dos envolvidos com a prostituição e à base da extravagância setentista: a caracterização se vale de ternos chamativos, carros possantes e o neon pulsante da noite novaiorquina.
Os tipos lembram filmes de gângsteres: o cafetão mulherengo, o policial conivente, a prostituta independente, a suburbana inocente. O mosaico de relações entre eles expõe traços comuns ao universo da exploração sexual da época (com nítidos paralelos contemporâneos), como a fragilidade e a objetificação femininas, o predomínio do machismo na arquitetura das decisões, a prevalência do dinheiro e o florescimento do tráfico e das gangues sob a omissão do estado.
James Franco dá vida a dois irmãos gêmeos e reféns da máfia da indústria. Ele também dirige episódios e é produtor-executivo da série. HBO/Divulgação |
A série se propõe a mostrar a transformação do cenário caótico das ruas na locomotiva da pornografia bilionária - e como a transição da clandestinidade para prática legítima da economia lidou com vícios de poder da estrutura original, nem sempre sanados. A mudança - catalisada pela revolução nos costumes da década - flagra o papel desempenhado pelas casas de massagens e o controle das máfias sobre os estúdios produtores dos filmes até a derradeira profissionalização.
A ambiguidade da indústria se reflete no protagonismo, exercido pelos gêmeos de personalidades opostas Vincent e Frankie - enredados em negócios sexuais e interpretados pelo ator James Franco (também diretor e produtor-executivo). O elenco conta com Maggie Gyllenhall na pele da garota de programa Candy, futura atriz de filmes pornôs. A coexistência de valores contrários tem o toque da produtora-executiva e diretora dos episódios piloto e final da primeira fase Michelle MacLaren - de Breaking bad (2008-2013, AMC), notório pela oscilação moral do herói.
A série é uma criação ficcional de David Simon e George Pelecanos, mas conta com uma pesquisa histórica profunda para dar alicerce verossímil à narrativa, conduzida por Marc Henry Johnson, experiente na produção de documentários. A vida do protagonista, refém de mafiosos na trama, remete à atuação da família real Gambino, organização criminosa de origem italiana e uma das linhagens proeminentes no submundo de Nova York, com domínio sobre tráfico de drogas, jogos de azar, agiotagem, prostituição, lavagem de dinheiro, fraude e extorsão. O patriarca Carlo teria inspirado diversas produções - entre elas, a composição do papel de Don Corleone, em O poderoso chefão. Um dos irmãos Gambino prestou consultoria para The Deuce, mas morreu antes do início das gravações do piloto.
Com oito episódios na temporada inicial, The Deuce surge como obra oportuna para refletir sobre as histórias nem sempre prazerosas do império erguido sobre o prazer alheio.
SERVIÇO
The Deuce estreia neste domingo (17), às 21h
Assista ao trailer de The Deuce:
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