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Referência mundial do semba, músico angolano Paulo Flores é um dos destaques do Festival Mimo, em Olinda

Festival gratuito será realizado na Cidade História de sexta a domingo, com programação que também inclui sessões de cinema, oficinas e workshops

Paulo Flores tocou no Mimo do Rio de Janeiro, na semana passada. Foto: Beto Figueiroa/divulgação


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Hoje, prestes a completar três décadas de carreira e com mais de 15 discos lançados, tem plena consciência da forte identificação com as sonoridades tupiniquins. Tal proximidade ficou clara quando subiu ao palco erguido na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, onde tocou na programação do Festival Mimo. Uma semana depois, o mesmo show será apresentado ao público pernambucano – nesta sexta-feira (17), às 22h, na Praça do Carmo, em Olinda. 

Para Paulo Flores, há certa dificuldade em exportar os ritmos de Angola porque o país ainda está em processo de conhecer a própria música. O semba, por exemplo, gênero ancestral africano do qual o artista é defensor ferrenho, tanto contribuiu para o surgimento do samba brasileiro como foi influenciado por ele. Isso porque na tentativa de recriar o semba em instrumentos harmônicos foi impossível não se contaminar pelo filho mais novo, hoje já centenário.  “A música de Angola tem muito isso. Os escravos a levaram para Cuba, para a América do Norte, para a América do Sul, e depois voltaram. Nós tentamos pegar tudo o que vinha dessas pessoas, porque, no fundo, sempre tivemos essa vontade de fazer parte do mundo. É normal que isso aconteça”, opina. 

Em Olinda, Paulo Flores apresenta o novo disco, Bolo de aniversário, além de sucessos da carreira. Ele será acompanhado por Manecas Costa (guitarra), Mayo (baixo), Gobliss (teclados), João Ferreira (percussão) e Ivo Costa (bateria). Antes do artista angolano, a programação do Mimo em Olinda terá duas atrações francesas: Laura Perrudin, conhecida por tocar harpa cromática eletrificada e misturar jazz, hip hop, soul e música eletrônica (às 19h, no Convento de São Francisco) e o violinista Didier Lockwood, que apresentará repertório de gipsy jazz ao lado do guitarrista Adrien Moignard  e do baixista Diego Imbert (20h30, na Igreja da Sé). Às 23h45, na Praça do Carmo, sobem ao palco os músicos da banda colombiana Ondatrópica.

* O repórter viajou a convite do Festival Mimo

DUAS PERGUNTAS // PAULO FLORES, músico 

Afinal, o semba é a origem do samba?
Ritmicamente isso acontece. Na Bahia, estive com Humbeto Mendes e Carlitos vieira Dias, um senhor importante na criação do semba desde os anos 1960. Eles dois, quando se juntaram, cada um com  seu violão, um a tocar o samba do recôncavo, o outro a tocar o semba, pareciam dois primos que não se viam há muitos anos. Não acho que por isso o semba seja origem do samba. O semba é a origem de vários ritmos, assim como o samba influenciou de certa forma o semba. É um ritmo em construção. Funciona mais ou menos como a capoeira. Todo mundo sabe que a origem da capoeira é na Angola, mas nós não lutávamos com a mão. Normalmente era para ver qual homem se tornaria chefe da comunidade ou ficaria com determinada mulher. Uma espécie de duelo, mas sempre com respeito. A capoeira do Brasil se tornou nessa coisa estética, assim como a música. A capoeira que nós temos hoje, em Angola, é a do Brasil. 

Quais são as outras influências da música angolana, além da sonoridade brasileira?
Nós também temos nossa rumba, e você quando está ouvindo percebe influências diversas. Temos muita influência do Congo. Cuba a mesma coisa. Não sei dizer qual delas é mais forte. Nós estamos sempre ávidos em fazer da cultura do mundo a nossa cultura. Angola é um país que vive muito da transgressão, da atitude, de querer fazer parte, de pessoas que têm pouco acesso às coisas. E é isso que nos dá esperança. A vontade de juntar essas gerações, ou mais velhos que eu, os mais novos, e promover o diálogo sobre muitos assuntos. 

[PROGRAMAÇÃO 

SEXTA-FEIRA
19h - Laura Perrudin (França), no Convento de São Francisco
20h30 - Didier Lockwood (França), na Igreja da Sé
PALCO PRAÇA DO CARMO
21h - DJ Montano (Brasil)
22h - Paulo Flores (Angola)
23h45 - Ondatrópica (Colômbia)

SÁBADO 
16h - Eduardo Neves e Rogério Caetano, na Igreja da Misericórdia
17h30 - Salomão Soares (Brasil), na Igreja de Nossa Senhora do Carmo
19h - Zé Manoel (Brasil)
20h30 - 3MA: Rajery, Ballaké Sissoko e Driss El Maloumi (Madagascar, Mali e Marrocos), na Igreja da Sé
PALCO PRAÇA DO CARMO
21h - DJ Montano (Brasil)
22h - Vieux Farka Touré (Mali)
23h45 - Emir Kusturica & The No Smocking Orchestra (Sérvia)

DOMINGO 
PALCO PRAÇA DO CARMO
17h – DJ Montanno (Brasil)
18h - Manel Cruz (Portugal)
19h30 - Otto (Brasil)

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