Especial

Afoxé: força e resistência da religiosidade de matriz africana na rua

Conheça a ligação dos grupos com o sagrado e o significado dos elementos no segundo episódio da série

Publicado em: 27/03/2019 22:00 | Atualizado em: 01/10/2019 00:27

Afoxé Obá Iroko, do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife. Foto: Samuel Calado/DP

O afoxé leva para as ruas a força do Candomblé, logo, torna-se impossível dissociá-los. Cada grupo tem um orixá patrono que protege a entidade cultural. Esta divindade africana exerce influência direta na estética, na musicalidade, nos movimentos e até nas vestimentas do coletivo. Orixás são os deuses cultuados nas religiões de matriz africana. Eles estão conectados à natureza e cada um responde pela vitalidade de um elemento no universo. No Alafin Oyó, por exemplo, tem-se Xangô (ligado a justiça, ao fogo, aos trovões e pedreiras); no Omo Inã é Oyá/Iansã (a deusa dos ventos e das tempestades) que protege o grupo; no Ara Omim quem rege os caminhos é Iemanjá (a rainha dos mares e da maternidade); No Obá Iroko, é o orixá Iroko (árvore da ancestralidade) e nos Filhos de Dandalunda é a Oxum (fertilidade, amor e águas doces), e assim por diante. Em Pernambuco existem mais de 30 grupos e cada um traz o legado e a força de uma deidade. 

Afoxé Filhos de Dandalunda, do bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife. Foto: Samuel Calado/DP


Quem tem a responsabilidade de zelar pela questão espiritual dos grupos é o babalorixá (homem) ou a yalorixá (mulher), conhecidos também como pai e mãe de santo. São aqueles que lideram os cultos, executam os fundamentos religiosos e invocam o sagrado. O antigo sacerdote do Afoxé Omo Inã, Jefferson Nagô, falecido no mês de dezembro de 2018,  disse no periodo da elaboração deste especial, que antes dos grupos saírem no carnaval existe uma série de preceitos para pedir proteção aos deuses. “Na cerimônia participam as lideranças do grupo e os integrantes que possuem uma certa aproximação com a religiosidade. Um afoxé sem uma casa de Candomblé se torna fraco, sem axé”, ressaltou o babalorixá. O grupo está localizado na comunidade da Mangabeira, na Zona Norte do Recife.



Na celebração primeiro saúdam o orixá Exu, ligado à criação e a comunicação. Para esta divindade é oferecido o ‘Padê’, uma espécie de farofa de mandioca preparada com dendê e pimenta. Entre as saudações, cantam Agô, Agô lonan, que  quer dizer "licença, licença Exu". Em seguida, são saudados os outros orixás do panteão e também os antepassados, conhecidos como eguns. Na ocasião, preparam alguns banhos de ervas especiais com o propósito de proteger o corpo e equilibrar as energias para a festividade considerada como ‘a festa da carne’. “Na obrigação, louvamos as nossas divindades e pedindo proteção espiritual para o nosso povo”, relatou Pai Jefferson.   

No culto, há também o preparo espiritual do estandarte e da Yalotin ou Babalotin, um boneco feito com de madeira talhada, extraído da árvore sagrada Iroko. O presidente do Omo Inã, Anderson Delaveiga, conta que este elemento sagrado protege os participantes na avenida. “Ele representa o orixá que rege o grupo e vem a frente do cortejo junto com o estandarte. Levando a paz e tirando todo o mal do caminho”, elucida.

Yalotin do Afoxé Filhos de Dandalunda. Foto: Samuel Calado/DP


A diferença entre Yalotin e Babalotin está no orixá que rege o coletivo como contou Pai Jefferson. “Se este for masculino (boró) é babalotin e se for feminino (Yabá) é Yalotin. Geralmente eles ficam guardados o ano inteiro dentro dos terreiros e só saem nas festividades carnavalescas. Sem esse boneco, o afoxé não tem vida, não tem brilho e não tem cor”, explica.



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Observação:  A reportagem faz parte do especial "Afoxés de Pernambuco", produzido como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo, sob orientação da Doutora em Comunicação Social, Nataly Queiroz. 
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