Especial
Afoxé: sinônimo de resistência e trabalho social
Além de representarem a religiosidade de matriz africana na rua, os afoxés desempenham um importante trabalho de profissionalização dentro das comunidades
Por: Samuel Calado
Publicado em: 30/03/2019 17:15 | Atualizado em: 01/10/2019 00:26
O músico do Afoxé Omo Inã, Pinha Brasil, da comunidade da Mangabeira, na Zona Norte do Recife, relata que os jovens dentro do afoxé são motivados pelo amor e pela esperança em terem a realidade transformada através da cultura. ”A maior alegria é perceber que com o pouco que ensinamos mudamos a realidade de muitos. Aqui ninguém é melhor que ninguém e eu sou apenas um facilitador do conhecimento, tão aluno quanto eles”, declara.
O presidente do Ará Omim, Lourival Santos, da comunidade do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, defende que o principal objetivo do grupo é tirar as crianças e os adolescentes do universo das drogas, dando-lhes ocupação e instrução. “Antigamente na nossa comunidade tinham projetos que ofereciam diversas atividades profissionalizantes. Com o passar do tempo, eles acabaram por falta de recursos. Na ausência dessas atividades, a violência e o tráfico aumentaram na localidade. O Afoxé trouxe esse resgate e fez com que várias pessoas deixassem o lado errado da história para construir uma nova realidade”, relata.
O percussionista do Alafin, Chiquinho de Assis, conta que dentro do afoxé não tem toque pelo toque, uma vez que o ensinamento não termina no instrumento musical. “Dentro do grupo no mesmo lugar onde se aprende sobre música, se aprende sobre redação, economia, política e etc. Nós discutimos os mais variados assuntos e estabelecemos rodas de diálogos e formações”, explica.
É assim que os participantes enxergam o afoxé e o terreiro: um núcleo de formação política e educacional, ou seja, um quilombo contemporâneo. Espaço onde se vive a fé e se aprende a vida. “É preciso colocar essa garotada no mercado de trabalho. Se não fizermos isso, estaremos nas mãos dos opressores”, alerta Fabiano.
E o retorno positivo pode ser visto na mudança do comportamento tanto dos integrantes quanto da comunidade no geral. O presidente e vocalista do Obá Iroko, Clóvis Ramos, do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife, narra que no início das atividades da entidade cultural, em 2012, as pessoas discriminavam o grupo por ser de tradição africana. “Quando a gente começava a tocar, as mães colocavam as crianças para dentro de casa, dizendo que era coisa do demônio. Mesmo diante dessa intolerância nós resistimos e continuamos levando a nossa mensagem de união. Hoje as mesmas mães que escondiam suas crianças fazem questão de participar dos ensaios e acompanhar o nosso afoxé durante as apresentações”, relata.
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*Este material faz parte do especial "Afoxés de Pernambuco", produzido com a orientação da Doutora em Comunicação, Nataly Queiróz, como trabalho de conclusão de curso.
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EP 01: Conheça a história dos Afoxés em Pernambuco
EP 02: Afoxé: força e resistência da religiosidade de matriz africana na rua
EP 03: Afoxé: sinônimo de resistência e trabalho social
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EP 05: A essência da musicalidade nos afoxés de Pernambuco
EP 06: Filhos de Dandalunda: beleza e riqueza da Nação Angola em Pernambuco
EP 07: Afoxé Ará Omim, o canto da resistência negra na Região Metropolitana do Recife
*Este material faz parte do especial "Afoxés de Pernambuco", produzido com a orientação da Doutora em Comunicação, Nataly Queiróz, como trabalho de conclusão de curso.
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