Especial
O sentido da dança nos Afoxés de Pernambuco
O corpo dentro dos grupos é livre para expressar a fé, o posicionamento político e a resistência contra o preconceito
Por: Samuel Calado
Publicado em: 24/04/2019 20:40 | Atualizado em: 01/10/2019 00:26
Dentro nos Afoxés, a sonoridade - enquanto ritmo afro - tem a intenção de aguçar os sentidos do corpo. Quem escuta as batidas dos atabaques, dos agbês e agogôs sente logo a vontade de arriscar algum passo. Os bailarinos, por sua vez, preocupam-se além de expressar os sentimentos diante das canções, em evidenciar os movimentos que são executados dentro dos terreiros de Candomblé. Pode-se observar nas músicas dos grupos que além do aspecto religioso, as letras também versam sobre representatividade, combate a intolerância e ao racismo.
Segundo o vocalista e coordenador de dança do Afoxé Ará Omim, Augusto César, da comunidade do Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, existe uma preocupação enorme entre os integrantes para analisar a dinâmica dos corpos nos barracões religiosos. "Temos um trabalho imenso de observação das pessoas que estão participando dos cultos e daquelas que incorporam os Orixás. A partir dessa vivência, vamos incluindo tais repertórios às coreografias do afoxé”, explica.
O coordenador de dança do Afoxé Omo Inã, Jefferson Belarmino, da comunidade da Mangabeira, na Zona Norte do Recife, diz que mesmo o grupo tendo como patrono o orixá Oyá (dos ventos e das tempestades), todos as outras divindades são reverenciadas. “Assim como nos terreiros, de Exú a Oxalá, todos são cultuados e expressados”, pontua.
O presidente do Obá Iroko, Clovis Ramos, do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife conta que nos cortejos sempre traz três um grupo de bailarinos, que executam movimentos coreografados e livres em homenagem à Iroko. “Além do corpo de balé, trazemos uma uma pessoa interpretando o orixá da ancestralidade", reforça.
Mas é importante saber que não existe um padrão a ser seguido por todos os afoxés. Cada entidade cultural é livre para expressar a fé e o posicionamento político como explica o presidente do Alafin, Fabiano Santos: "Nem tudo é só isso, nem tudo é só aquilo. Tudo pode ser tudo", elucida. Devido a falta de adesão da comunidade e comprometimento dos participantes, em alguns grupos não existe um corpo de bailarinos. Outros optam por trazer em suas apresentações apenas uma pessoa vestida com o orixá regente da entidade.
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