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Cinebiografia nacional de Allan Kardec ressalta a necessidade de dosar fé e razão

Do mesmo diretor de Nosso Lar, filme expõe que o fundador da doutrina espírita era contra o ensino religioso nas escolas, sendo perseguido pela Igreja Católica e o estado francês

Allan Kardec é interpretado por Leonardo Medeiros. Foto: Daniel Behr/Divulgação

O longa também chega como celebração aos 150 anos da morte - ou desencarne, para os adeptos - de Kardec, responsável por elaborar uma investigação científica das “mesas girantes”, difundida por toda a Europa no século 19. A produção é totalmente nacional, assinada pela Conspiração, com distribuição da Sony Pictures. A direção ficou com Wagner de Assis, já conhecido por trabalhar com a temática espírita em Nosso lar (2010) e Menina índigo (2017). Ele divide o roteiro com L. G. Bayão (Irmã Dulce e Minha fama de mau). O protagonista é vivido por Leonardo Medeiros, enquanto Sandra Corveloni interpreta a esposa, Amélie-Gabrielle.

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"A ideia para o longa veio do próprio Marcel Souto Maior. Eu li a biografia e, quando entendi a história, não pude dizer um ‘não’. A produtora também já estava com interesse de trabalhar a vida do Allan, então foram movimentos paralelos que se juntaram”, explica Wagner de Assis, em entrevista ao Viver. “A produção foi um grande esforço, porque é um filme de época que se passa em uma Paris que não existe mais, então gravamos todas as cenas externas na França e as internas no Rio de Janeiro. Não usamos chroma key, apenas extensões de cenário e efeitos visuais para apagar a modernidade.”

Pode parecer um tanto desmedido tal afinco de uma produção brasileira para abordar a vida de um francês que viveu há 150 anos. Mas, na verdade, Allan Kardec não é famoso na França. Depois de sua morte, uma cooperação bem-sucedida entre o governo francês e a Igreja Católica conseguiu criar um tribunal que julgou toda a sua obra, inclusive o canônico Livro dos espíritos (1869), como farsa. “Os franceses nos paravam no meio das filmagens para perguntar sobre o filme e, quando citamos Allan Kardec, ninguém conhecia, nem os mais velhos”, relata Wagner. "Talvez esse filme só pudesse ter sido feito no Brasil mesmo. Existem várias interpretações, inclusive, sobre o porquê do kardecismo vingar tanto por aqui".

Foto: Daniel Behr/Divulgação

Outro desafio ficou por conta do ator Leonardo Medeiros, que teve de construir o protagonista de forma bastante intuitiva, já que não existem muitas imagens ou fontes que tratam da personalidade e trejeitos de Kardec. “O que temos dele é um único daguerreótipo, método fotográfico em que a pessoa precisava passar 30 minutos diante da câmera. Ele aparece muito sério e sisudo, então a foto não serve muito. Existem documentos históricos, muitos recuperados pelo Marcel Souto Maior, mas de forma estritamente jornalística".

Foto: Daniel Behr/Divulgação

“Acredito que tenha três discursos muito atuais”, enumera Leonardo Medeiros. “O ensino laico, já que Kardec defendia um senso crítico, que também é muito discutido atualmente; a liberdade religiosa, pois ele foi perseguido por defender a doutrina que não era o padrão da sociedade francesa; e a liberdade de expressão em geral. São três pilares da democracia.” O diretor Wagner Assis, por sua vez, destaca a simbiose entre fé e razão numa época escura da sociedade francesa, contemporânea ao contexto de Os miseráveis (1862), de Victor Hugo. “Allan Kardec queria unir as pessoas ao invés de jogar pedras nos outros por conta de religião. É um homem de uma razão que, infelizmente, não encontramos muito nos dias de hoje".

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