Assim como nos terreiros de Candomblé, os instrumentos no afoxé são considerados sagrados. O percussionista do Afoxé Alafin Oyó, Chiquinho de Assis, da comunidade do V8, no Sítio Histórico de Olinda, conta que eles são vistos como uma extensão do corpo. “Eles possuem a intenção de comunizar aos sentidos do nosso corpo e fazer a conexão com as divindades”, explica.
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O percussionista do Afoxé Filhos de Dandalunda, Bribri N'Zazi, do bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, fala sobre a diferença entre os nomes dados aos músicos dentro dos terreiros e no afoxé. “Enquanto nos barracões somos chamados de Ogãs, no afoxé recebemos o nome de Alabê, mas nos dois locais temos a função de conservar, preservar e cuidar desses instrumentos sagrados”, elucida.
Instrumentos
Os instrumentos dentro dos afoxés recebem nomes diferentes devido a tradição religiosa que os grupos representam. Nos de tradição nagô, por exemplo, os três atabaques que dão a base dos ritmos do afoxé são conhecidos como Ian, Melé-Ancó e Melé; nos de tradição Ketu os mesmos instrumentos são conhecidos como Rum, Rum-pi e Lé e na tradição Bantu eles recebem os nomes de Cumcumbi, Cumcumbu, Cumcumbê.
Outros instrumentos utilizados na musicalidade do afoxé são:
- O agogô (instrumento feito de metal geralmente tocado com uma baqueta de madeira ou ferro);
- O agbê (instrumento feito de cabaça envolvido com uma rede de miçangas). Esses elementos também são vistos nas celebrações dos terreiros de candomblé;
- Tantan (tambor com sonoridade grave);
E o Timbal (instrumento de metal com sonoridade mais aguda).
Ouça a sonoridade deles no vídeo abaixo:
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Segundo Fabiano Santos, presidente do Afoxé Alafin Oyó, hoje em dia existem grupos que colocam até instrumentos de sopro para harmonizarem seus repertórios”, pontua. A forma como se executa cada instrumento é bem similar.
Os ritmos
A tradição religiosa que cada grupo segue e a divindade que rege os afoxés influenciam diretamente na musicalidade. No Alafin, o principal ritmo tocado é o Alujá (toque em reverência a Xangô), no Omo Inã é o Adahum (toque em reverência a Oyá), no Obá Iroko é o Agueré (toque em reverência às divindades ligadas às matas), no Ará Omim é o Batá e no Filhos de Dandalunda é o Ijejá ou Ijexá (ritmo em reverência ao orixá Oxum, que na tradição Angola recebe o nome de Dandalunda).
Nos vídeos a seguir, você irá perceber as identidades através dos percussionistas de cada grupo:
FELIPE SILVA (Afoxé Alafin Oyó)
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MAYCON FERREIRA (Afoxé Ará Omim)
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PINHA BRASIL (Afoxé Omo Inã)
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Como visto, o orixá exerce influência direta na musicalidade. Abaixo seguem alguns ritmos e suas divindades.
De acordo com Fabiano Santos, os toques que sonorizam os orixás são:
Exu: Bravum
Ogum: Adahum
Egó: Iansã
Oxóssi: Agueré
Xangô: Alujá
Iroko: Ramúnia
Nanã: Adahum e Sete por um
Obá: Adahum com passado (Aluja para Obá)
Ewá: Adahum
Obaluaê: Adahum
Iemanjá: Batá
Oxum: Ijexá Nagô
Oxalá: Bravum
As composições
Sendo o Afoxé um instrumento de militância negra, nas músicas, além da religiosidade, os compositores encontram inspirações em temáticas como o combate ao preconceito racial, a discriminação e a falta de oportunidades para a população negra, em sua maioria, marginalizada pelas esferas públicas. Sendo o Brasil um país historicamente marcado pela desigualdade na distribuição de renda e na relações étnico-raciais, as entidades culturais se transformam em grandes manifestações de denúncias e afirmação da identidade.
O vocalista e compositor do Afoxé Obá Iroko, Clóvis Ramos, do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife, relata que o amor pelos orixás e o combate à intolerância religiosa estão sempre presente em suas canções. “Nosso repertório faz saudação a todos os orixás, pedindo justiça por um mundo sem desigualdade onde a gente possa caminhar livremente e cultuar os nossos ancestrais”, relata.
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Observação: A reportagem faz parte do especial "Afoxés de Pernambuco", produzido como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo, sob orientação da Doutora em Comunicação Social, Nataly Queiroz.