Para refletir sobre as marcas deixadas pelos estudos sociais e filosóficos no mundo contemporâneo, o professor e escritor pernambucano Michel Zaidan Filho lança Nove lições da Escola de Frankfurt, abordando as três gerações que guiam o Instituto para Pesquisa Social. A publicação, editada pela Editora Colaborativa, é fruto de uma série de palestras sobre a Escola de Frankfurt oferecidas na pós-graduação de direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e conta com contribuições do autor e o link das aulas gravadas em vídeo. O lançamento será nesta sexta-feira, às 17h, através das redes sociais do Núcleo de Estudos Eleitorais Partidários e da Democracia (NEEPD). O evento conta com a participação do professor e filósofo Marcos André de Barros, da UFRPE. Os exemplares custam R$ 30.
Criado no contexto pós-Revolução Russa, em 1924, a partir das ideias de Karl Marx, o Instituto para Pesquisas Sociais, popularmente chamado de Escola de Frankfurt, buscava compreender o movimento russo e as suas consequências em níveis globais, observando a forma como se dava o crescimento do capitalismo, exaltando a arte e a cultura nas relações sociais, a rejeição das ideias tradicionais e buscando a emancipação do indivíduo. As nove lições destacadas no livro de Zaidan permeiam as três fases da Escola de Frankfurt, desde os principais fundadores, como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Walter Benjamin, até o atual diretor, Axel Honneth, passando pela figura exponencial de Jurgen Habermas e pelos atuais movimentos identitários (grupos sociais, feministas, LGBT%2b), que atuam na luta pelo reconhecimento.
A ideia de escrever o livro surgiu da vontade de esclarecer a relação de Marx e o materialismo histórico com as teses elaboradas pela Escola de Frankfurt. “Eu contribuí com críticas e comentários sobre o tema. E também para refletir sobre o momento que estamos atravessando agora no mundo: barbárie e destruição da sociedade, que são reflexões que têm muito a ver com a Escola de Frankfurt, crítica da cultura, da razão...”, explica Zaidan. O livro seria lançado no fim do ano passado, mas foi adiado. “Já há uma expectativa pelo livro, há um público preparado para o lançamento. Muitas pessoas estão interessadas na questão de Frankfurt.”
O escritor evidencia ainda um paralelo entre a pandemia e o capitalismo. “O próprio capitalismo é visto como uma pandemia, é possível visualizar a doença por uma perspectiva social, é uma questão de saúde coletiva, tudo tem a ver com forma de gerir a sociedade e provocar a desestruturação de grupos sociais. Para além da doença e tão sério quanto, é que estamos caminhando para uma sociedade auto-segregacionária”, constata Zaidan.
A reflexão remete às análises de Freud, segundo o autor. “Freud falava sobre o mal estar da civilização ainda no século 20, sobre a renúncia que fazemos para viver em sociedade em detrimento do bem-estar e o desequilíbrio que gera. Vivemos um um mal-estar civilizatório.” De acordo com o autor, possivelmente haverá uma mudança no perfil de sociedade que resultará no pós-pandemia. “Será uma sociedade mais individualista, mais egoísta ou uma sociedade mais solidária?”, questiona o professor em seus escritos.
“O formato da biopolítica que nós estamos vivendo neste momento também é discutido, onde condena milhões de pessoas à morte, através do darwinismo social, que é a política implícita nesta forma de tratamento dos mais pobres, dos velhos e dos miseráveis”, afirma Michel. “É uma discussão muito séria porque, vencida a pandemia, ainda vai ficar entre nós uma doença mais séria: o medo do desempregado, do pobre, do velho. Ficamos reféns, talvez de forma tão séria quanto a outra. De nada adianta sobreviver em uma sociedade dessa forma, nós estamos numa direção perigosa”.
O seu novo livro dialoga intimamente com o título anterior, A doença como metáfora social: política e sensibilidade em tempos de pandemia, lançado em dezembro, que tem a missão de trazer algumas reflexões sobre a atitude antissocial, intolerante, preconceituosa em relação ao outro. “É uma contribuição para uma sociedade mais solidária, mais humana, menos fútil, superficial e preocupada com a aparência. Espero que essas ref lexões venham ajudar a visão crítica de meus leitores sobre essa enorme catástrofe social que se abateu sobre o mundo e nós”, conclui.
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