Viver

Axé music com voz e violão

Luiz Caldas e Saulo Fernandes se apresentam nesta quinta (14) no Teatro Guararapes, revivendo grandes clássicos baianos

Pedro Cunha
Especial para o Diario

Da ferveção nos trios elétricos a um show intimista nos palcos. As canções que têm a potência de arrastar multidões no carnaval ganharam uma nova roupagem para um encontro afinado de gerações do axé music. Com apenas um violão, voz e um banquinho, Luiz Caldas e Saulo Fernandes se apresentam nesta quinta (14) no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Pernambuco, revivendo grandes clássicos e também os mais recentes em um repertório de 25 músicas autorais das carreiras individuais de cada um, além de composições de amigos. 

Em entrevista exclusiva ao Diario, Luiz Caldas, precursor do movimento axé music, e Saulo, herdeiro de toda a bagagem dessa fusão rítmica, falam sobre o novo projeto, o espaço do axé music no mercado, e também sobre ambas as carreiras no cenário musical.

Diario - Dos trios elétricos para os palcos. De quem surgiu a ideia de lançar um projeto intimista? 

Luiz Caldas - A ideia desse show surgiu da necessidade de ajudarmos um grande artista, um grande maestro que a música baiana teve, que foi Ademar Furtacor. Ele passou por um momento delicado antes de falecer e todos estavam se mobilizando para poder ajudá-lo. A forma que encontramos, o Saulinho até que deu a ideia, foi de fazermos um show no teatro, na Casa do Comércio. E ali, naquele momento, só nós dois no palco, voz e violão… A gente já sabia que o amor da gente é gigante, é imenso e faz com que as coisas deem certo. 

Diario - Você acredita que esse tipo de apresentação mais intimista permite uma conexão diferente do público com a música?

Saulo - Sim. É sem artifício. Alma despida. O público sente a verdade no olho.

Diario - Diferente das apresentações típicas da música da Bahia, nesse projeto os embalos da percussão cedem espaço ao encanto e à melodia do violão. Como foi fazer a escolha do repertório? 

Luiz Caldas - É um repertório como a língua portuguesa, ele é vivo. Para cada lugar a gente acrescenta algumas canções que são clássicos da música brasileira e que são canções feitas por artistas e compositores desse determinado local. É um show que vai ficando, ele é intimista até nessa coisa de ter essa intimidade com o público, do público poder cantar algo que ele está acostumado até do seu próprio sotaque.

Diario - Há muitos anos se fala sobre uma crise no axé, com a chegada de outros ritmos, como o sertanejo, por exemplo. Como enxerga isso?

Saulo - Eu enxergo os gráficos normais da arte em geral. Penso que tudo é orgânico como tem que ser. A nossa música sempre está viva e em movimento, em transformação. O mais importante é a música brasileira sempre em alta. 

Diario - São 60 anos de vida e cerca de 50 anos na música. Como é seguir ativo na música até hoje? 

Luiz Caldas - O que me mantém ativo é a música, literalmente. Eu comecei com sete anos de idade, são 53 anos de música. Nunca fiz outra coisa. Mesmo que eu tivesse feito algo, seria paralelo à música. É uma coisa que me faz bem. E por virar a minha profissão é uma sorte tremenda, né? O trabalho que dá é prazeroso. Desde a elaboração de um show, de uma luz, de uma direção, de alguma coisa que a gente divide. Eu e Saulo, as ideias, todos os laços com a nossa equipe, que são profissionais maravilhosos. Eu sou muito feliz porque a música é minha mãe e eu sou um filho muito dedicado a ela. 

Diario - Você mudou de estilo quando optou pela carreira solo ao trazer mais referências poéticas às canções. Você acha que é importante para a música estar sempre trazendo um pouco de poesia?

Saulo - Estou aprendendo e convivendo com os textos desde jovem. Ainda na Banda Eva, lá eu já dava sinais de amor profundo pela palavra. Estou evoluindo ainda. Um dia, quem sabe, quando crescer, serei poeta. 

Diario - Você é um dos precursores do axé music, ritmo base para esta turnê. Você imaginava que o axé ganharia o tamanho que ganhou?

Luiz Caldas - Eu criei o axé music, que é um movimento musical totalmente diferente, e logo depois de mim vieram os outros que levaram e fizeram o axé ser grande dessa forma. Não dava pra imaginar porque quando você está no olho do furacão criando alguma coisa, você é mais um elemento naquela situação. O distanciamento é que faz com que essa sua criação seja notada e, o mais importante, ter pessoas que sigam fazendo axé da melhor forma possível, como é o caso de Saulo, que acaba de lançar o disco “Acho Que É Axé”, uma pérola, um disco maravilhoso.

Diario - Você é um defensor da cultura afro. Qual é a importância de falar sobre essas tradições e não renegar essa origem?

Saulo - Porque sou feito dessa cultura rica e potente e ancestral. Sou baiano. Desde sempre se sabe que a Bahia é preta. A minha tentativa sempre nas canções foi dizer isso…Quem era a fonte fundamental e quem eram os donos de tudo. 

Diario - O que você não abre mão de fazer para seguir com energia para shows e composições?

Luiz Caldas - Eu não abro mão de me exercitar, tanto a parte física como a mental e a instrumental. Porque se você não tocar todo dia você não vai conseguir executar com clareza o que você propõe a fazer como musicista dentro de um arranjo. Para poder ter essa energia legal e continuar fazendo música.

Diario - O que o público pode esperar para o show?

Saulo - Esse show é muito lindo! Estou do lado do amor da minha vida. Do meu maior exemplo. É um sonho sendo vivido. Tem muita emoção e devoção à Bahia. É uma delícia cantar esse show no Recife. Me sinto feliz e realizado por isso.

SERVIÇO
Espetáculo Luiz Caldas & Saulo
Data: 14/12/2023
Abertura dos portões: 21h
Local: Teatro Guararapes
PREÇOS: PLATEIA: Meia R$ 75 | Inteira R$ 150; BALCÃO: Meia R$ 50  | Inteira R$ 100. No site sympla.com.br  e nos quiosques da Ticket Folia nos shoppings RioMar e Boa Vista. 

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