O romantismo do passado se renova na voz emblemática da cantora pernambucana Dalva Torres. Considerada a grande dama do Choro pernambucano, a artista de 82 anos não abranda o passo na carreir a. Seu trabalho mais recente, A Leveza Nua das Horas, com produção artística assinada por Gonzaga Leal, é um mergulho na vida e obra de Dalva no ritmo de várias gerações e gêneros musicais. Às 20h desta terça-feira (21), no Teatro Santa Isabel, o público terá a oportunidade de conhecer a obra, como parte das apresentações do Janeiro de Grandes Espetáculos. Os ingressos estão à venda no Sympla.
Sob a supervisão de Gonzaga Leal, o show é uma extensão do álbum ao incorporar canções extras. A apresentação assume um conceito teatral, com direito a fotografias de Dalva de todas as épocas, e é enriquecida pela presença de um piano - considerando a sua formação como pianista - além de outros elementos de cenografia. O figurino tem assinatura do estilista Eduardo Ferreira.
Cada faixa do álbum reflete a espiritualidade profunda de Dalva. Como católica fiel, ela destaca a influência persistente da fé em sua vida, evidenciada por suas idas à missa, confissões, comunhões e a recitação do terço. A composição Vida de Artista de Suely Costa captura a essência dos sentimentos de Dalva, enquanto Diz nos meus olhos, um choro de Guerra Peixe, evoca momentos significativos de sua jornada.
Com composições inéditas que se entrelaçam à trajetória de Dalva, o álbum explora minuciosamente seus afetos e emoções por meio de faixas como Vai Meu Barco, de Socorro Lira, Madrugada Alta, de PC Silva, Dentro de Mim Mora um Anjo e Vida de Artista, ambas de Suely Costa, assim como Quando Eu Canto, de Isadora Melo. “Foram as letras que foram me guiando no sentido da escolha das canções que Gonzaga me trazia e que eu também ia buscar. Além da canção do meu pai, tem no disco a música Cinema Mudo, que me lançou como artista. Então é um disco que eu canto com toda emoção, com muita interpretação, porque todas as músicas estão muito inseridas no contexto de minha vida”, revela a cantora.
A Dama do Choro também abraça a diversidade musical brasileira que é característica da sua carreira. Em A Leveza Nua das Horas, o timbre vocal de Dalva emociona ao som de valsas, bolero, choro, guarânias e samba-canção. O projeto era uma vontade antiga da artista. “Há muito tempo queria fazer esse disco. Estava na minha cabeça, só estava esperando a oportunidade. Fui juntando os recursos, e disse, vou fazer”, explica.
Consagração como diva do chorinho
A incursão no choro representou uma virada de chave na carreira musical de Dalva Torres. Após se aposentar como Auditora Fiscal do Trabalho, Dalva retomou os estudos da música com os renomados mestres Nenéu Liberalquino e Thales Silveira. Reconhecida como "A Diva do Chorinho", ela se destacou com arranjos para chorinho e frevo de bloco. Seu mestre e inspiração, Canhoto da Paraíba, a conduziu por palcos nacionais e internacionais, incluindo uma memorável apresentação em onze cidades de Portugal no projeto Complicidades em 1994.
A consagração nacional de Dalva ocorreu durante o Projeto Pixinguinha, em 1984, quando a então artista local teve a oportunidade de abrir para a renomada Elizeth Cardoso. A amizade estreita com Elizeth foi fundamental, levando à sua nomeação como a atração nacional do Pixinguinha em 1985. A partir desse momento, Dalva Torres consolida e firma sua trajetória nos palcos, uma jornada musical caracterizada pela autenticidade e pelo compromisso com a tradição, tornando-se uma das grandes intérpretes do choro e do frevo de bloco.