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Comédia de ação 'Argylle: O Superespião' é reciclagem embalada como novidade

Em cartaz, filme dirigido por Matthew Vaughn ('Kick-Ass' e 'Kingsman') e com elenco de pedigree intenta ser o início de uma trilogia, mas já começa criativamente em baixa

Conhecida por uma série literária de sucesso sobre um agente de grandes habilidades, a autora de modos ingênuos Elly (Bryce Dallas Howard) acaba se envolvendo numa teia de perseguições e mistérios tão ou mais complicados do que seus próprios livros. Formando uma parceria improvável com o espião Aiden (Sam Rockwell), ela precisa escapar do alvo que a organização poderosa Divisão colocou em suas costas devido à posse de um material sigiloso. Ao longo da jornada, a ficção e a realidade começam a se misturar e as coincidências entre as histórias da protagonista e a sua podem ser a chave dos mistérios.

Durante muito tempo da produção e pré-lançamento de Argylle: O superespião, em cartaz, o material de divulgação o vendeu como uma adaptação da obra de uma autora desconhecida chamada Elly Conway – especulada até recentemente por várias teorias como um pseudônimo de pessoas célebres. Apesar da existência do livro, publicado em em janeiro deste ano, hoje já é sabido que se trata de uma figura ficcional e que o longa é escrito por Jason Fuchs (um dos responsáveis pela história de Mulher-Maravilha, de 2017).

Para quem não estava por dentro desse tratamento externo, porém, não sobram muitos enigmas para decifrar em Argylle, exceto o porquê de um projeto tão derivativo e formalmente irregular como esse ter sido produzido por cerca de 200 milhões de dólares. Bancado pela Apple, com distribuição nos cinemas pela Universal, e dirigido por Matthew Vaughn (X-Men: Primeira classe, Kick-Ass e Kingsman), o filme é pensado como o primeiro de uma suposta trilogia, mas não oferece um material consistente quiçá para um longa de mais de duas horas de duração.


A falta absoluta de originalidade no roteiro e nas viradas do filme nem é, por si só, o maior dos problemas. Afinal, é perfeitamente possível transformar uma história de ação/espionagem clichê em um jogo assumido de estímulos visuais. As sagas Missão impossível e John Wick, de formas distintas, se renovam a cada filme e transformam as suas obsessões em aspectos quase conceituais. Infelizmente, Argylle não possui personalidade para ganhar vida para além das reciclagens que faz desse imaginário contemporâneo do gênero.


O que já vinha fora de tom e plastificado nos seus últimos filmes, em especial King’s Man: A origem, fica mais aguado ainda aqui, já que nem a violência recreativa está presente como apelo visual e tudo precisa se resumir a sacadas inusitadas (com gato, petróleo, cores, fumaça) para compensar a ausência de uma iconografia própria. Argylle é, na prática, um festival pomposo de movimentos descartáveis bem menos instigante do que o marketing fez parecer.

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