Cadernos

DP+

Blogs

Serviços

Portais

Viver

Qual o futuro do jazz no Brasil e no mundo?

Diferentes vertentes do jazz impressionam no C6 Fest, em São Paulo, e festival pode ser grande abertura para crescimento do público do estilo musical no país

São Paulo (SP) - Em que momento do jazz estamos hoje? Evento que desde a sua primeira edição, no ano passado, traz ao Brasil nomes de várias regiões do país e do mundo para explorar a diversidade e renovação desse e de outros estilos musicais, do rock ao soul, o C6 Fest abriu na última sexta-feira (17), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, com uma sequência de apresentações que desafiam essa pergunta com músicos de variadas origens e formatações estilísticas – e de permanente espírito de vanguarda.
 
Um dos mais experientes saxofonistas do gênero, o flautista norte-americano Charles Lloyd, aos 85 anos, por exemplo, é um dos precursores do jazz psicodélico e tocou por muitos anos com a geração do rock da década de 1960, incluindo Jimi Hendrix, The Doors e Grateful Dead. A apresentação do quarteto do artista, composto tradicionalmente por piano, bateria e contrabaixo, demonstrou como a versatilidade do gênero se mantém viva e em constante transformação. Com um fôlego que sustenta mais de uma hora de espetáculo, o saxofone de Lloyd passeia pelos diferentes tempos do jazz, do mais lento ao acelerado, e consegue surpreender a cada minuto com seus improvisos.
 
Em uma chave mais rigorosa, a apresentação da maestrina sul-coreana Jihye Lee, um dos nomes proeminentes do gênero hoje, mostra como essa mesma imprevisibilidade do estilo também pode seguir uma formatação clássica sem perder sua força. A regente teve grande sucesso no começo da carreira como cantora de indiepop e surpreendeu ao quebrar o tom instrumental da sua apresentação e soltar a voz acompanhada pelos metais, intensos metais, liderados pelo saxofone, e uma bateria cheia de idas e vindas.


Na presença do dueto instrumental composto pelos brasilienses Pedro Martins e Daniel Santiago, o C6 Fest explorou em sua abertura o potencial sensorial, intimista e contemplativo do dedilhado de violão e guitarra. A dupla fortemente inspirada com Tom Jobim, Dorival Caymmi e Clube da Esquina transforma uma sonoridade reconhecível desses ícones da música brasileira e algo novo e tão imprevisível e cheio de balanços quanto o melhor do jazz. Composições autorais de ambos, que já possuem projetos em conjunto (como os álbuns “Simbiose” e “Movement”), surpreenderam a crítica e o público do festival – e eles vem sendo cada vez mais considerados promessas do gênero do país.


Uma demonstração curiosa da linha experimental do jazz é o guitarrista dinamarquês Jakob Bro, que cria paisagens sonoras desafiadoras através de uma vertente mais eletrônica e que mistura seu trompete com ruídos sombrios que remetem a trilhas musicais noir. Seu trio Uma Elmo, composto pelo trompetista norueguês Arve Heriksen e o baterista espanhol Jorge Rossy, constrói um clima abstrato e demonstra um estilo característico da cena escandinava do gênero. 


Cada uma dessas vertentes contou, na abertura do C6 Fest, com grande apreço da plateia, com aplausos de pé para todas as apresentações. Em entrevista ao Viver, a curadora e organizadora do festival, Monique Gardenberg, comentou sobre a importância de mostrar essa diversidade e atualização frequente do jazz para os brasileiros.

 
“O C6 Fest tem esse propósito de explorar múltiplas formatações para evidenciar o que há de maior qualidade em cada uma delas e principalmente as dimensões a que o jazz pode ser levado. Jakob Bro, por exemplo, tem uma pegada incrível de experimentação com o eletrônico e nos leva para outros lugares. Precisamos abrir este leque e, nos próximos anos, pretendemos trazer, além dessas atrações internacionais, cada vez mais nomes do Brasil também, como o pernambucano Amaro Freitas, que tem um trabalho maravilhoso”, destaca Monique. “É muito lindo ver o jazz se reinventando, porque mesmo os artistas consagrados, como Charles Lloyd, estão constantemente nos surpreendendo e são uma eterna vanguarda do gênero. É isso, inclusive, que faz com que tantos jovens procurem eventos como esse e o jazz siga atemporal e vivo”, completa. 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco