SÃO JOÃO

As labaredas do afeto junino

Exposição 'A Festa do Fogo: Retrato de um forró do meu Sertão' reflete as memórias do São João de Tacaratu pela lente saudosa da fotógrafa Ana Araújo

Publicado em: 20/06/2024 06:00 | Atualizado em: 20/06/2024 10:18

 (Foto: Ana Araújo (uma das 43 da exposição, disponível até o dia 1º de setembro))
Foto: Ana Araújo (uma das 43 da exposição, disponível até o dia 1º de setembro)
Celebrando a cultura nordestina através de uma coleção de imagens que homenageiam o forró, os festejos e a riqueza do São João, o Observatório Cultural Torre Malakoff, no Recife Antigo, será palco da exposição 'A Festa do Fogo – Retrato de um forró no meu Sertão', da fotógrafa e artista visual Ana Araújo, já aberta para visitação. Realizada com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secult-PE e do Governo do Estado de Pernambuco, a exposição estará aberta ao público de 20 de junho até 1 de setembro de 2024. As visitas são gratuitas e podem ser feitas de terça a sexta, das 10 às 17 horas, e aos domingos, das 14 às 18 horas.
 
Com 43 fotografias inéditas, tanto a cores quanto em preto e branco, entre símbolos do semiárido pernambucano e de todo o Nordeste brasileiro, o projeto oferece um olhar pessoal e cheio de memórias afetivas de alguém que nasceu e viveu em Tacaratu – no interior de Pernambuco, onde foram capturadas as imagens entre 2005 e 2019 – e transpõe para sua criação esse desejo constante de retornar para as noites juninas da sua terra.

Guiada pelo instinto inerente de fotógrafa e pela vontade de contar histórias através delas, Ana, que já lançou os fotolivros As loiceiras de Tacaratu: A arte milenar das mulheres do meu sertão, em 2018, e Pankararu: Identidade, memória e resistência, em 2021, faz agora, com essa exposição, um mergulho nas labaredas do sentimento junino que preservou durante todo o tempo em que morou fora de sua cidade natal. A fotógrafa trabalhou durante 15 anos em Brasília e, sempre que tinha a oportunidade, voltava para visitar sua casa e seus amigos de Tacaratu, ocasiões em que registros eram mais do que inevitáveis, eram essenciais.
 (Foto: Ana Araújo)
Foto: Ana Araújo
Descrevendo seu trabalho como parte de uma apaixonada e emocionada homenagem também à sua mãe, Dolores (in memoriam), Ana, juntamente com a cocuradora Maria do Carmo Nino, artista e Ph.D. em Artes Visuais pela Sorbonne, elaborou A Festa do Fogo em duas partes separadas pelas salas do espaço da Torre Malakoff. Na primeira parte, o público é guiado pelas imagens grandes e coloridas, cheias da dinâmica de movimentos que caracterizam a obra da fotógrafa e que exploram essa narrativa da apresentação às festividades juninas. A partir da segunda parte, porém, que abre com uma imagem em preto e branco da mãe de Ana acendendo a fogueira na frente de casa, a atenção é voltada para personalizar o projeto mostrando as pessoas que fazem parte da região e da memória afetiva da idealizadora.

Parte importante da visita é a atmosfera sonora evocada pela trilha indispensável, sobretudo do repertório de Luiz Gonzaga, que pode ser ouvida através de QR code. Em conversa com o Viver, Ana destacou esse clima evocado por suas lembranças que se mantém vivo através da exposição. "Quando morava na minha terra, até 1980, tinha a sensação de fotografar, mesmo sem câmera, criando imagens e memórias ao ouvir e cantar as músicas de Luiz Gonzaga e seus parceiros poetas. Foi numa viagem imagética que esta exposição começou a ser concebida, quando avistei a beleza das fogueiras acesas, em frente às casinhas ao longo da estrada, quase chegando a Tacaratu, em 2011, nas primeiras horas de uma noite de São João. A música é muito importante para evocar essas sensações e é essencial na exposição também”, contou.

"Acho que todo repórter fotográfico gosta de guardar seus registros para concretizar em algum trabalho futuro. Eu tenho uma relação visceral demais com a terra onde cresci e em 2011 tive uma grande epifania quando me atrasei para o São João de Caruaru por conta do trânsito e notei, na estrada, que havia toda uma história a ser contada ali no percurso. As fogueiras na beira da estrada, as luzes nas casas, todo esse imaginário que é talvez a mais importante expressão cultural de todo o semiárido brasileiro e que é incrivelmente rico do ponto de vista imagético", exaltou a fotógrafa. "O fogo sempre foi bem inspirador pra mim e esse trabalho me deu muita liberdade visual, coisa que tem muito a ver com esse caráter expansivo do fogo também. As imagens lidam com bastante movimento e experimentações que eu fiz, inclusive, inteiramente com câmera digital. Nesse trabalho está envolvido muito amor, tanto pela presença mesmo que encantada da minha mãe quanto pela importância de valorizar a cultura do meu povo", completou Ana.
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