LITERATURA

O abolicionista da confederação

História em Quadrinhos criada por Paulo Santos de Oliveira, 'Mundurucu na Confederação do Equador' resgata personagem histórico esquecido no tempo

Publicado em: 13/06/2024 06:00

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Este ano completa o bicentenário da Confederação do Equador, movimento histórico revolucionário ocorrido em Pernambuco com a adesão de outros estados do Nordeste, em 1824, num período de forte reação ao governo de Dom Pedro I, as tendências monarquistas e interesses da Coroa Portuguesa. A história de um importante pernambucano que participou do movimento, porém, nunca ganhou o devido destaque, ao menos até agora, com o lançamento de Mundurucu na Confederação do Equador, romance gráfico publicado pela Cepe e criado por Paulo Santos, Libório Melo e Luciano Félix, que será lançado hoje, às 19 horas, na Livraria do Jardim, na Boa Vista.

O jornalista e romancista Paulo Santos dedicou muitos anos da sua vida à história de Pernambuco e, em uma de suas pesquisas, se deparou com esse personagem em um livreto pouco conhecido, passando a buscar mais detalhes sobre seu envolvimento no ativismo brasileiro e conhecendo também, no processo, a trajetória de combate à escravidão e pioneirismo na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos do começo do século 19. Emiliano Felipe Benício, o Mundurucu do título, tem, dessa forma, sua importância trazida na mistura de base histórica com ficcionalizações e aventuras ilustradas no livro de HQ.

"Trabalhei muito tempo em jornal e fui cartunista por anos, mas sempre me interessei pela nossa história. 20 anos atrás, quando comecei a me debruçar sobre esse personagem ainda não era viável a produção desse material. Libório, que trabalhou comigo na minha empresa de comunicação na época, fez o layout da história e somente agora, com o bicentenário da Confederação do Equador, o projeto foi aprovado e estou muito satisfeito com a publicação. É um personagem fascinante e que precisa ser mais conhecido", afirmou Paulo ao Viver.

“Ele foi comandante do Regimento Montabrechas, formado por homens pardos (na época, as tropas eram constituídas de acordo com a cor da pele: brancos, negros ou pardos). Ele era abolicionista radical e liderou um movimento para replicar, aqui, o que aconteceu no Haiti, no final do século 18, quando os brancos foram todos expulsos pelos negros. Só não conseguiu seu intento porque ocorreu algo absolutamente extraordinário, que é narrado no livro. E, mais adiante, exilado na América do Norte, tornou-se um ícone da luta contra o supremacismo branco, por lá”, conta o autor. “O Major Mundurucu teria sido incumbido por frei Caneca de cumprir uma missão secreta, enquanto é ferozmente perseguido pelas tropas imperiais que ocupavam Pernambuco. E haja correrias, aventuras e encontros amorosos. A HQ faz referência à figura histórica do frade, morto por fuzilamento, e também à sua obra poética”, observou.

O livro conta também com audiodescrição desenvolvida por três profissionais: Silvia Albuquerque, Liliana Tavares e Michele Alheiros, com colaboração de Edson Amorim.

A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

O movimento aconteceu em 1824 e, apesar do início em Pernambuco (que, em 1817, havia protagonizado a Revolução Pernambucana), as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará também embarcaram nas ideias contrárias à concentração do grande poder imperial após a declaração da independência, em 1822. O nome 'Confederação do Equador' fazia referência à proximidade da região da Linha do Equador. O movimento convocava uma Assembleia Constituinte e propunha o fim do tráfico negreiro, mas sua trajetória foi curta e o poder central rapidamente o reprimiu, condenando à morte seus principais líderes.
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