Música

Romero Ferro se inspira na Tropicália para revitalizar o frevo em novo disco

Romero Ferro se alia a talentos da nova e velha guarda da MPB em seu novo álbum, Frevália, como parte de uma iniciativa para o frevo ultrapassar as barreiras temporais do carnaval

Publicado em: 10/06/2024 06:00 | Atualizado em: 10/06/2024 02:41

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Frevo é mais do que um chamado para brincar carnaval. É liberdade, é resistência, é Pernambuco, e mais ainda, é Brasil. Essa é a premissa do movimento Frevália, onde o cantor Romero Ferro convoca a classe artística e o público brasileiro para difundir e revitalizar a fervura da manifestação cultural em todo o país de janeiro a janeiro. Sem se preocupar com a concorrência da alta temporada do São João, o artista pernambucano liberou o ‘’Lado B’’ do álbum homônimo em todas as plataformas digitais, com a participação de convidados de peso.

 

Em fevereiro, foram lançadas as primeiras cinco faixas do disco. Agora, com a adição da segunda parte, Frevália não tem a audácia de reinventar o frevo, mas sim de explorá-lo como ritmo secular que pode universalizar sua linguagem musical. O compasso apaixonado se alinha com o estilo pop tropical de Romero e a pluraridade de vozes, incluindo Rodrigo Alarcon na releitura de Bicho Maluco Beleza, Bixarte e Orquestra 100% Mulher em Bloco Paixão”, Lia de Itamaracá em Frevo da Saudade, Maestro Spok em Tudo Em Você é Tão Bom, além do grande encontro de Frevinho com participação de Fafá de Belém e composição de Moreno Veloso e Thaís Gulin.

 

O álbum dá sequência ao movimento cultural iniciado por Romero Ferro, em 2016, com a intenção de afastar o frevo do arquétipo carnavalesco. Em parceria com o sócio Maurício Spinelli, produtor e curador musical, o cantor se inspirou na Tropicália para acentuar a sonoridade tropical do projeto. “Ficamos pesquisando possibilidades e vimos essa terminação "Ália", da Tropicália, que foi um movimento de música tropical. Então, pensamos: 'Nossa, por que não brincar com esse lance do Frevo com a música tropical?' Porque é isso que o projeto realmente é: a mistura do frevo com a música pop tropical do Brasil. Faz super sentido e soou muito bonito também”, destaca Romero.

 

Frevália é uma carta de amor à tradição pernambucana, mas também atua como um pedido de resgate. O público é apresentado ao disco com a súplica 'Não Deixe o Frevo Morrer', uma alusão ao clamor de Alcione para salvar o samba. Romero lembra a atuação fundamental do museu Paço do Frevo, centro de referência, salvaguarda e difusão do ritmo, mas acredita que há margem para mais iniciativas. “É uma atitude de resistência, um movimento de resistência sustentar aquele museu e falar do frevo como patrimônio da nossa cultura afro-brasileira. Mas a gente precisa de mais. Precisamos de mais pessoas indagando isso. Precisamos de mais pessoas colocando o dedo nessa ferida do frevo”.

 

Em 1978, Carlos Fernando (1938-2013), compositor dos clássicos Banho de Cheiro (1983) e Noites Olindenses (1989), lançou Asas da América, um projeto pioneiro e ousado para a época. Ele reuniu a elite da MPB para dar voz a um novo estilo de frevo, incluindo artistas como Jackson do Pandeiro, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Fagner, Moraes Moreira e outros, em seis volumes lançados entre 1979 e 1993. Sob a mesma convicção que impulsionou Carlos Fernando, Romero Ferro lamenta a ausência do frevo no mainstream nacional. “Não existe prateleira para o frevo. Não existem playlists digitais nas plataformas para o frevo, para fazer a curadoria de frevo, para fazer a música de frevo girar. Mas, ao mesmo tempo, também não há uma demanda de produções de frevo para que haja essa demanda de playlists”.

 

Não é parte do mainstream, porém, o encanto é inevitável desde o primeiro ou último toque dos clarins. A Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, se deixou levar para gravar seu primeiro frevo em 80 anos de vida na faixa “Frevo da Saudade”. “Quando a convidei para gravar, tinha acabado de ir ao aniversário dela em Itamaracá e a vi fazendo aquela ciranda gigantesca e maravilhosa. Aquilo foi emocionante para mim”, conta Romero. No embalo do “tecno frevo”, Fafá de Belém foi outro ícone da música popular brasileira que topou colaborar. “O Frevália traz essas possibilidades, para que possamos dialogar e vejamos que o frevo é uma célula muito potente”.

 

No segundo semestre o Frevália será materializado em um grande festival de música tropical. Aprovado pela Lei Rouanet, o projeto passará por seis capitais brasileiras (Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador e Belém), com dois palcos, artistas tropicais, orquestras de frevo, intervenções artísticas, documentários, debates e muito mais. O show principal será comandado por Romero e contará

com participações de Pabllo Vittar, Alceu Valença, Elba Ramalho, Gloria Groove, Gaby Amarantos, Liniker e Daniela Mercury.

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