Cadernos

DP+

Blogs

Serviços

Portais

Viver

Em atividade até o fim da vida, xilogravurista J. Borges encantou o mundo entalhando a cultura do Nordeste

Mestre da xilogravura morreu aos 88 anos, nesta sexta-feira (26)

Artista começou a fazer xilogravuras em 1965

 

Mestre da xilogravura, o pernambucano José Francisco Borges, conhecido como J.Borges, morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos. Em atividade até o fim da vida, o artista nascido em Bezerros deixa legado inestimável à cultura nordestina, que teve suas cores, costumes e imaginário ressaltados por ele ao mundo a partir de entalhes em imburana e louro canela.

 

Um dos 16 filhos dos agricultores Joaquim Francisco Borges e Maria Francisca da Conceição, J. Borges nasceu no dia 20 de dezembro de 1935, no Sítio Piroca, a aproximadamente 15 quilômetros do Centro de Bezerros. O início de seu envolvimento com a arte ele atribuía ao pai.

 

"A gente se divertia ouvindo ele ler cordel. Então, o cordeu nasceu em mim quando eu era criança. E meu pai era simples agricultor e não entendia nada de arte. Ele lia pra mim e os outros irmãos", contou em J. Borges: Entre fábulas e astúcia, biografia escrita pela jornalista Maria Alice Amorim.

 

Antes de se descobrir xilogravurista, J. Borges se tornou poeta cordelista. Foi a literatura que o levou aos desenhos entalhados em madeira. Sem dinheiro para pagar um ilustrador, resolveu ele mesmo fazer a capa de seu segundo folheto: O verdadeiro aviso de frei Damião sobre os castigos que vêm, em 1965.

 

Primeiro cordel ilustrado por J. Borges

 

"Com 20 anos, entendi de comprar e vender cordel nas feiras. Eu já trabalhava de carpinteiro, de marceneiro, e no fim de semana, ia para a feira. Me deu vontade de escrever. Mostrei para um amigo que já era veterano e ele disse que estava muito bom. Imprimimos um milheiro. Eu vendi dentro de um mês, reimprimi e cuidei de escrever outro. Aí comecei escrevendo e ilustrando. Quando eu já tinha uns dez, outros cordelistas começaram a encomendar: um vaqueiro, um casal, um pé de árvore, um passarinho", relembrou em entrevista ao Diario, em 2023, no Memorial J. Borges, seu ateliê, em Bezerros.

 [VIDEO1]

 

O trabalho de Borges começou a ganhar projeção nos anos 70, quando ele conheceu o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna.

 

"Quando Ariano viu, ele disse: ‘onde é que mora essa fera? Eu quero conhecer essa pessoa’. Depois que ele falou que eu era o melhor do Nordeste e o melhor do Brasil, aí encaminharam e eu não tive mais sossego, até hoje", brincou o mestre.

 

Em quase sete décadas de trabalho, o pernambucano produziu uma extensa obra, que vai desde a ilustração de livros de escritores como Eduardo Galeano e José Saramago a uma versão de A Sagrada Família entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao papa Francisco.

 

Ao viver, a biógrafa Maria Alice Amorim destacou a influência e impacto do artista no cenário cultural pernambucano e brasileiro. "Ele conseguia conquistar as pessoas com a conversa, com o sorriso. Sempre me chamou a atenção a capacidade de reinventar-se, esse espírito de fabulação, essa disponibilidade para interagir com as pessoas e, sobretudo, de liderar e aglutinar para trabalhar em equipe", afirmou.

 

"Com muita vitalidade, ao longo das décadas de atuação, ele buscou se adaptar às novas demandas relacionadas ao universo do cordel e da xilogravura, por isso se manteve atuante, produzindo, inserido nos circuitos artísticos e no mercado. Viveu até os últimos momentos com disposição, alegria, vitalidade. E a mesma gigantesca memória de toda a vida", completou. 

 

 

Em atualização

Leia a notícia no Diario de Pernambuco