MÚSICA

Paulo Xisto não descarta despedida do Sepultura no Recife: 'É nosso desejo'

Maior banda brasileira de heavy-metal da história, Sepultura se despede do público na turnê ''Celebrating life through death''

Publicado em: 26/07/2024 06:00

Sepultura escreve último capítulo em 40 anos de estrada (Foto: Edu Deferrari)
Sepultura escreve último capítulo em 40 anos de estrada (Foto: Edu Deferrari)
Shows épicos, pioneirismo, hits globais e um legado eterno. O Sepultura é uma das poucas bandas que reúne todas essas qualidades, ocupando um lugar especial nesse grupo seleto. Após o anúncio do fim das atividades, definido como “uma morte consciente e planejada” em dezembro do ano passado, os fãs têm o privilégio de acompanhar os últimos riffs de um dos maiores conjuntos de metal da história na turnê 'Celebrating life through death". Os músicos estão de volta ao Brasil, depois de uma passagem por países da América Latina e da Europa.

Em 4 de dezembro de 1984, Max e Iggor Cavalera e um grupo de amigos adolescentes subiram ao palco pela primeira vez como Sepultura. Aquela apresentação despretensiosa em Belo Horizonte deu início a uma trajetória que se estendeu por mais de quatro décadas. A história da banda pode ser dividida em duas eras: uma marcada pela presença dos irmãos fundadores, e a outra na qual Andreas Kisser deu continuidade ao grupo após a saída dos Cavalera. Além de Kisser, a formação atual conta com o vocalista Derrick Green, o novo baterista Greyson Nekrutman, e o baixista Paulo Xisto - último remanescente da estrutura original.

As diferentes fases do Sepultura resultam em uma discografia eclética, variada e mundialmente respeitada. Alguns dos destaques são Morbid Visions (1986), Schizophrenia (1987), Beneath the Remains (1989), Arise (1991), Chaos A.D (1993) e Roots (1996). Na década de 1990, o trabalho de Max Cavalera foi crucial para moldar o som de bandas norte-americanas como Korn, Slipknot, System of a Down e influenciar artistas como Dave Grohl.

O grupo brasileiro, por sua vez, também absorveu influências e ferveu no caldeirão cultural do manguebeat. Chico Science e Nação Zumbi foram decisivos para o Sepultura incorporar elementos percussivos e afrobrasileiros em Roots, cujas vendas ultrapassaram meio milhão de cópias apenas nos Estados Unidos. 

Amanhã, às 21h, a turnê 'Celebrating life through death' faz parada no Centro de Convenções de João Pessoa, como parte da programação do Imagineland. Ainda sem show confirmado no Recife, os fãs pernambucanos devem comparecer em grande número, segundo a produção do evento. O Viver teve uma conversa exclusiva com Paulo Xisto sobre as emoções dos últimos momentos do Sepultura, a cena do metal no Nordeste, uma possível despedida na capital pernambucana e muito mais.

Entrevista - Paulo Xisto (baixista do Sepultura)

Quais sentimentos predominam ao fim desta trajetória de 40 anos?
São vários os sentimentos, né? Mas acho que o mais importante é o de missão cumprida. Estamos felizes por termos alcançado tudo isso durante esses 40 anos. Foi uma carreira consolidada, com altos e baixos, mas que no final é mais positiva do que negativa. É triste, claro, porque tudo na vida tem seu ciclo, e estamos chegando ao fim de um deles. No entanto, estamos de cabeça erguida e muito orgulhosos por toda essa trajetória.

Que legado você espera que o Sepultura deixe no metal brasileiro?
Eu acho que o legado, o pontapé inicial, já foi dado há muitos anos. Essa abertura de portas que conseguimos para outras bandas, esse incentivo, mostrar para todos que é possível alcançar algo além do seu território, é fundamental. O legado está todo aí: as músicas, os discos, a história, as influências, as inspirações. Tudo isso faz parte do nosso legado. As bandas que nos influenciaram e que ainda nos influenciam, tudo faz parte dessa história. É um legado bonito e complexo, que nos deixa muito orgulhosos.

Entre as influências do Sepultura, Max sempre ressalta a importância de Chico Science e da Nação Zumbi na trajetória da banda. Ao olhar para trás, como você avalia o impacto do manguebeat na evolução do Sepultura?
Entre as influências do Sepultura, com certeza Chico Science e a Nação Zumbi foram marcantes, assim como vários outros artistas do Brasil. Principalmente quando tivemos a oportunidade de fazer excursões e viajar pelo mundo inteiro, começamos a absorver a cultura brasileira de uma forma diferente e a enxergar o Brasil de outra perspectiva. Isso tudo acabou trazendo essas influências e revelando nosso lado mais brasileiro. Com a mistura do heavy metal, surge esse som, esse timbre único, que conseguimos alcançar.

A cena nordestina do metal é bastante relevante, especialmente em Pernambuco, com eventos como o Abril Pro Rock. Qual a importância de diversificar o metal brasileiro, indo além do eixo Rio-São Paulo?
É de extrema importância. Acho que o que nos atrapalha um pouco em expandir mais isso é o tamanho do nosso país. Ainda é muito difícil conseguirmos fazer 100% dos shows que gostaríamos devido aos custos. É sempre mais complicado. Todas as regiões do Brasil são relevantes e fortes. O Nordeste tem um público maravilhoso, assim como o Norte, o Sul, o Centro-Oeste e o eixo Rio-São Paulo também. Mas é algo que precisa continuar sendo trabalhado. O que realmente nos segura, essa distância que nos separa, é a dificuldade de produção e os custos. Trazer qualquer coisa fora do eixo é muito mais caro. Acho que isso é o que realmente atrapalha todas as bandas de heavy metal.

Recife não faz parte desta turnê, mas muitos pernambucanos estarão na Paraíba para o show. Pode deixar uma mensagem para nossos leitores que vão comparecer?
Vai ser lindo. Espero que ainda consigamos ir a Recife. É o nosso desejo voltar a todos os lugares por onde já passamos e tentar ir a alguns lugares onde ainda não estivemos. Acredito que ainda haja uma brecha para negociação para nos apresentarmos em Recife, assim como em Salvador, que não entrou, e São Luís, onde também não passamos. É algo que ainda pode acontecer. Estamos torcendo por isso. Fico feliz que o pessoal de Pernambuco esteja se deslocando para nos assistir aqui em João Pessoa. Somos muito gratos e vamos tentar dar o melhor show para esses fãs.

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