MÚSICA

Protagonismo feminino e popularidade mainstream marcam nova era do funk

A criação do Dia Nacional do Funk acontece em meio à desconstrução da dominação masculina no gênero e sua ascensão nos principais festivais de música

Publicado em: 12/07/2024 06:00 | Atualizado em: 12/07/2024 12:36

MC Rebecca vai subir no palco do Rock In Rio (Crédito: Divulgação)
MC Rebecca vai subir no palco do Rock In Rio (Crédito: Divulgação)
A história musical do Brasil é marcada por uma diversidade de ritmos, desde os tambores e atabaques até as batidas eletrônicas graves de hoje. Contudo, quando emergem das periferias, os movimentos culturais são alvo violência e preconceito. O funk, símbolo cultural dos bairros marginalizados, se tornou um estilo de vida e plataforma de empoderamento, apesar das controvérsias e repressões que o cercam. O Viver investiga as origens e polêmicas em torno do gênero, considerando que a data desta sexta-feira (12/07) deve se tornar o Dia Nacional do Funk, mediante a sanção da lei aprovada recentemente no Senado.

Os funkeiros escolheram o dia 12 de julho para celebrar o histórico Baile da Pesada, que teve sua primeira edição há exatos 44 anos, no extinto Canecão, considerado um dos eventos pioneiros do movimento no país. Era apenas uma das diversas festas de black music onde a juventude negra carioca se reunia para se divertir. Contudo, foi somente na década de 1980, inspirado pelo Miami Bass, com suas batidas eletrônicas aceleradas e erotizadas, que o gênero começou a ganhar visibilidade e a incorporar elementos característicos do Brasil. 

Em 1995, surgiram os primeiros hits do funk carioca pelo Brasil, como o Rap da Felicidade, de Cidinho e Doca: Eu só quero é ser feliz/ Andar tranquilamente na favela onde eu nasci. Em virtude de sua origem e expansão nas classes econômicas mais baixas, o ritmo sofreu processo de marginalização pela mídia e classe política, que começaram a validar argumentos como “a existência das favelas é por causa dos favelados". “Essa demonização cria a sensação de que pessoas pretas, pobres e faveladas (historicamente subalternizadas) são o mal da sociedade. Sendo assim, pode-se matar sem que ninguém se manifesta”, afirma Thiago Alves de Souza, professor de Música Clássica que faz doutorado em Funk na Universidade de São Paulo (USP).

O funk brasileiro se desdobrou em duas correntes principais: a primeira, com temáticas eróticas e alusões sexuais; a segunda, conhecida como 'proibidão', abordava temas de violência e criminalidade. Tradicionalmente dominado por homens, o funk proibidão agora é também o território de artistas femininas, como MC Rebecca, que está confirmada no Rock in Rio 2024. “Vou continuar criando músicas que falam sobre os nossos desejos, fazendo clipes com danças sensuais e trabalhando para mudar esse conservadorismo que nunca existiu nos momentos em que o funk era dominado pelos homens”, ressalta a cantora de 26 anos ao Viver.

O funk carioca quebrou barreiras regionais e se difundiu de norte a sul do país: funk minimalista e barulhado (Minas Gerais), megafunk (Santa Catarina e Paraná), beat fino (Espiríto Santo) e tecnofunk (Pará). Em Pernambuco, a união do brega tradicional com o batidão funk do Rio marca apenas o início de um movimento cultural profundo, repleto de lutas identitárias e histórias de resistência, que hoje é conhecido como bregafunk. Esse movimento começou na década de 1980 e alcançou seu ápice nos anos 2000 com o Baile do Clube Rodoviário, conhecido também como Baile do Rodó.

Em maturação musical desde 2011, com sucessos de MC Troia, Dadá Boladão e da dupla Shevchenko e Elloco, o bregafunk contemporâneo enfatiza a dança, caracterizado por batidas metálicas e repetitivas que evocam o passinho. Entre os destaques da nova fase da vertente pernambucana do funk, Rayssa Dias, cria de Salgadinho, deseja utilizar sua visibilidade para inspirar outras mulheres. “Meu foco sempre foi levar o empoderamento feminino para outras mulheres, especialmente para mulheres negras, para aquelas que têm cabelo black e pele retinta. É importante mostrar e provar que é possível chegar lá, que podemos alcançar o reconhecimento. A música e a cultura são fundamentais para tornar tudo isso possível”. 

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