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Terceiro filme da saga iniciada em 2022, 'MaXXXine' decepciona

Longa tenta ser no mínimo três coisas ao mesmo tempo, sem êxito em nenhuma delas


Consagrada como uma das musas do terror contemporâneo ao protagonizar X: A marca da morte e em seguida o filme de origem, Pearl, Mia Goth – conhecida carinhosamente no Brasil como “a neta da Maria Gladys” – provou seu magnetismo nesses e em outros projetos, mas seus esforços infelizmente não são o suficiente para segurar as rédeas do aguardado MaXXXine, em cartaz nos cinemas. O longa escrito e dirigido por Ti West, voz criativa da trilogia, ao lado da própria atriz/produtora, tenta ser no mínimo três coisas ao mesmo tempo, sem êxito em nenhuma delas.

Ambientada em 1985, a trama acompanha Maxine, a jovem popular de filmes pornográficos que, em X: A marca da morte, sobreviveu à chacina que matou todos os seus amigos na fazenda do casal Pearl e Howard. Perseguindo o sonho de ser uma atriz de cinema famosa em Hollywood, ela consegue uma oportunidade em uma produção comandada por uma rigorosa cineasta (Elizabeth Debicki), mas uma série de assassinatos misteriosos começam a acontecer na região. E, levando em conta o seu passado, os crimes cada vez mais parecem possuir uma ligação forte com ela.

Enquanto o primeiro da saga era uma homenagem aos filmes de terror de baixo custo e sem censura dos anos 1970, como O massacre da serra elétrica, e Pearl contava a história pregressa da idosa assassina do filme original numa abordagem de fábula mórbida, a brincadeira de MaXXXine é explorar o estado do terror em Hollywood nos anos 1980 referenciando a estética do slasher, subgênero de maníaco sanguinário muito popular nos Estados Unidos daquela década. Curiosamente, o apogeu desse subgênero é indissociável de um período de forte conservadorismo no país, governado por oito anos pelo republicano Ronald Reagan. Apesar de jamais mencionada, essa contextualização é central aqui: frequentemente é possível ver protestos na porta dos estúdios contra filmes de terror e suas supostas ‘obscenidades’, assunto que vai se revelar ainda mais importante ao longo da projeção.

Chama atenção, porém, que MaXXXine seja, em teoria, militante na defesa do gênero e ironicamente tão puritano na maioria das escolhas. Ti West não demonstrou receio em sujar as mãos nos dois capítulos anteriores, mas neste ele parece inexplicavelmente contido. As poucas cenas gráficas do filme são espaçadas demais e, quando ocorrem, vêm desprovidas de qualquer impacto dramático ou visual. Há uma sequência de perseguição em um set de filmagens que tinha todo o potencial para mostrar aquele ambiente de forma tensa e inventiva, mas, na prática, ela conclui sem propósito algum.

Se a abordagem de MaXXXine com o slasher é morna, o mistério em relação ao assassino e a subtrama investigativa são ainda menos interessantes, visto que não há suspeitos à vista para gerar curiosidade ou suspense no espectador. Falta de material para construir essa galeria de possibilidades não era: o filme tem, na verdade, uma série de coadjuvantes de luxo – Elizabeth Debicki, Kevin Bacon, Giancarlo Esposito, Michelle Monaghan, entre outros –, quase todos mal aproveitados ou simplesmente abandonados pelo roteiro.

A própria premissa, sobre a produção cinematográfica oitentista e os seus bastidores, é explorada de maneira pobre: o público não vê sequer uma cena das gravações do filme em que a protagonista vai atuar. MaXXXine não apenas termina com odor de anticlímax como de incompletude de todas as vertentes que anunciava trilhar. Já tarimbada no papel, Mia Goth tenta ser um pino que segure as engrenagens folgadas, mas não tem muito para construir em um filme que, não sabendo o que priorizar, prioriza praticamente nada.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco