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'O Clube das Mulheres de Negócios', de Anna Muylaert, é o filme mais ambicioso da diretora

Cineasta responsável por 'Durval Discos' e 'Que horas ela volta?' retorna à comédia do absurdo em filme exibido no último sábado (10) na competição do 52º Festival de Gramado; filme tem previsão de estreia para novembro

Primeiro longa-metragem da competição oficial do 52º Festival de Cinema de Gramado, a comédia absurdista O clube das mulheres de negócios, novo trabalho de Anna Muylaert (Durval Discos, Que horas ela volta?), se tornou rapidamente tópico de discussões acaloradas com a crítica e o público. Carregado de um enorme elenco feminino (como Irene Ravache, Cristina Pereira, Polly Marinho, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, entre outras) no papel de um grupo de mulheres milionárias, o filme inverte os papéis sociais de poder para explorar situações de autoritarismo, abuso e violência.

Rafael Vitti interpreta o neto da líder do grupo, um jornalista que vai até a casa de campo onde ocorrerá uma reunião seguida de um banquete para entrevistar as participantes, junto ao seu amigo vivido por Luis Miranda. Quando uma jaula cheia de onças é deixada aberta, o caos começa a se instalar no lugar, desencadeando uma série de situações bizarras.

Em toda a sua filmografia, Muylaert nunca teve medo de ousar tematicamente e menos ainda de se metamorfosear estilisticamente, mas aqui ela chega ao seu trabalho mais arriscado - e, pode-se dizer, mais ambicioso. Talvez por isso, altamente irregular também. Dispondo de dezenas de atores em cena, um cenário amplo e, ao mesmo tempo, gradualmente claustrofóbico, animais criados por computação gráfica e ainda uma infinidade de assuntos a serem alfinetados, a diretora e roteirista consegue bons insights de uma comicidade ácida que, nos seus melhores momentos, é apropriadamente escrachada ao colocar uma lente de aumento nos absurdos do dia a dia que todos reconhecem rapidamente.


A intenção de propor à masculinidade um olhar para o espelho a partir dessa perspectiva é louvável e, mais marcante ainda, a ideia de trazer um elenco feminino tão variado (em tipos, vertentes de comédia e faixas etárias) demonstra grande valor de produção. Fica claro também como todas as pessoas que participaram de O clube das mulheres de negócios estavam comprometidas em colocar tantas coisas em pauta, a começar pela própria diretora, que pensou no roteiro há quase 10 anos e só conseguiu filmar em 2022, fase ainda marcada pelos efeitos da pandemia, acalorada pela política e de grande dificuldade para o audiovisual brasileiro. 

Dentro da excelente filmografia de Muylaert, nesta estreia em Gramado, este filme soa mais como uma bomba de ideias a serem elaboradas no pós-sessão do que elementos bem amarrados dentro da própria história. Será provavelmente o projeto mais divisivo da carreira dela, o que, no final, sempre rende alguns dos melhores debates.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco