CINEMA

'O Clube das Mulheres de Negócios', de Anna Muylaert, é o filme mais ambicioso da diretora

Cineasta responsável por 'Durval Discos' e 'Que horas ela volta?' retorna à comédia do absurdo em filme exibido no último sábado (10) na competição do 52º Festival de Gramado; filme tem previsão de estreia para novembro

Publicado em: 11/08/2024 14:18 | Atualizado em: 11/08/2024 17:10

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Primeiro longa-metragem da competição oficial do 52º Festival de Cinema de Gramado, a comédia absurdista O clube das mulheres de negócios, novo trabalho de Anna Muylaert (Durval Discos, Que horas ela volta?), se tornou rapidamente tópico de discussões acaloradas com a crítica e o público. Carregado de um enorme elenco feminino (como Irene Ravache, Cristina Pereira, Polly Marinho, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, entre outras) no papel de um grupo de mulheres milionárias, o filme inverte os papéis sociais de poder para explorar situações de autoritarismo, abuso e violência.

Rafael Vitti interpreta o neto da líder do grupo, um jornalista que vai até a casa de campo onde ocorrerá uma reunião seguida de um banquete para entrevistar as participantes, junto ao seu amigo vivido por Luis Miranda. Quando uma jaula cheia de onças é deixada aberta, o caos começa a se instalar no lugar, desencadeando uma série de situações bizarras.

Em toda a sua filmografia, Muylaert nunca teve medo de ousar tematicamente e menos ainda de se metamorfosear estilisticamente, mas aqui ela chega ao seu trabalho mais arriscado - e, pode-se dizer, mais ambicioso. Talvez por isso, altamente irregular também. Dispondo de dezenas de atores em cena, um cenário amplo e, ao mesmo tempo, gradualmente claustrofóbico, animais criados por computação gráfica e ainda uma infinidade de assuntos a serem alfinetados, a diretora e roteirista consegue bons insights de uma comicidade ácida que, nos seus melhores momentos, é apropriadamente escrachada ao colocar uma lente de aumento nos absurdos do dia a dia que todos reconhecem rapidamente.

Certamente o maior mérito de O clube de mulheres de negócios é a imprevisibilidade com que ele sai do registro bem humorado para a escalada de brutalidades (de diferentes ordens) que toma conta da segunda metade, ganhando contornos claros e desavergonhados de horror. Katiuscia Canoro encabeça o lado mais despudorados do filme, como se espera dela, e rende as situações de comédia mais assumidas (e eficientes). Outras participações, no entanto, como Maria Bopp, não registram no meio de tanta informação ou são pouco aproveitadas pelo roteiro, cujas ambições temáticas frequentemente são engolidas seja pela obviedade do comentário, seja pela dissonância entre a sátira e o drama. 
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A inversão pretendida pelo filme foi feita há alguns anos também pelo francês Eu não sou um homem fácil, que coloca mulheres na posição de comando e os homens em vulnerabilidade, mas Muylaert tenta trazer tudo ao máximo para a realidade brasileira, dando a uma personagem o nome de 'Brasília' para ficar na administração de tudo, fazendo menções constantes a corrupção e a mostrando relação da imprensa com as autoridades. São muitos tiros disparados por minuto, o que torna o resultado geral muito mais desconjuntado do que propriamente provocativo, já que não há sensação de novidade nem na inversão e menos ainda no texto.  

A intenção de propor à masculinidade um olhar para o espelho a partir dessa perspectiva é louvável e, mais marcante ainda, a ideia de trazer um elenco feminino tão variado (em tipos, vertentes de comédia e faixas etárias) demonstra grande valor de produção. Fica claro também como todas as pessoas que participaram de O clube das mulheres de negócios estavam comprometidas em colocar tantas coisas em pauta, a começar pela própria diretora, que pensou no roteiro há quase 10 anos e só conseguiu filmar em 2022, fase ainda marcada pelos efeitos da pandemia, acalorada pela política e de grande dificuldade para o audiovisual brasileiro. 

Dentro da excelente filmografia de Muylaert, nesta estreia em Gramado, este filme soa mais como uma bomba de ideias a serem elaboradas no pós-sessão do que elementos bem amarrados dentro da própria história. Será provavelmente o projeto mais divisivo da carreira dela, o que, no final, sempre rende alguns dos melhores debates.
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