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Dira em voo alto

Em sua estreia como diretora de longa-metragem, Dira Paes leva o contemplativo 'Pasárgada' à competição do 52º Festival de Cinema de Gramado


Ao som dos pássaros da Mata Atlântica e nas paisagens montanhosas do interior do Rio de Janeiro, Dira Paes se lança a um dos maiores desafios de sua carreira. Concebido e rodado durante os dois anos de pandemia a partir de uma inquietação pessoal da atriz, Pasárgada – um dos sete filmes selecionados para a competição da 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado – convida o público a uma viagem sensorial pela floresta com um espírito de denúncia do tráfico de animais silvestres, mas também de libertação pessoal e conexão com a natureza.
 
Com estreia comercial marcada para 26 de setembro, o filme traz a própria Dira no papel de uma ornitóloga que se afastou da família para se dedicar à vida na mata e acaba se isolando em uma fazenda próxima a Macaé, no estado fluminense, auxiliando o tráfico de pássaros, na captura e na documentação. A convivência com o nativo da região Manuel (Humberto Carrão) na escuta das aves e na observação do meio ambiente faz com que, aos poucos, a bióloga repense suas ações ao ponto do esgotamento, embarcando em uma transformação emocional e onírica.
 
Fotografado por Pablo Giannini Baião, marido da diretora, Pasárgada demonstra uma notável sensibilidade da dupla tanto para a contemplação de tempos 'mortos' (remetendo aos silêncios florestais do filme Garoto, de Júlio Bressane) como para o desenvolvimento gradual da trama. A personagem está constantemente reportando suas atividades para um personagem estrangeiro por chamada de vídeo e cada conversa é um degrau a mais de insatisfação dela consigo mesma. Esse equilíbrio entre um estilo narrativo e uma abordagem mais simbólica ajuda no ritmo do filme, ainda que sua aptidão para o contemplativo seja maior do que para os conflitos e resoluções práticas da história. Na forma e no conteúdo, Pasárgada soa e ecoa na plateia menos como uma ambição do estabelecimento de um novo nome autoral do cinema brasileiro e mais como um sentimento traduzido em sons e imagens que, de alguma maneira, Dira precisava colocar para fora do seu sistema. E, verdade seja dita, ela conseguiu.

Ao Viver, ela falou sobre suas principais intenções ao contar essa história, destacando preocupações ambientais que acompanham toda a sua carreira. “Minha intenção era levar o espectador a viver esse tempo parado, que é uma coisa que a gente não consegue mais hoje. Eu queria mostrar a importância desse termo 'observação': é esperar, é atravessar, é o tempo, enfim. A gente é alimentado constantemente por filmes que têm essa necessidade de ser velozes e excitantes. A minha intenção era buscar algo que se relacionasse com o que eu estava vivendo naquele período e, para mim, era essencial fazer uma conexão também com esses compradores fora do Brasil. Eu precisava mostrar, através das cenas feitas online, que refletem também muito desse período pandêmico, como a tecnologia beneficia também esse tráfico", contou a atriz e diretora. "Estamos falando do terceiro maior tráfico do mundo. O filme tinha que demonstrar que existe uma conexão global com relação a isso."
 
Sobre seus próximos passos na carreira de cineasta, Dira falou não ter planos imediatos após este projeto. "Não sei ainda. Durante a pandemia eu tinha uma intensa necessidade de criar e essa personagem, junto com essa história nasceu disso, e foi alimentada pela minha parceria de vida há 19 anos e de trabalho com o Pablo, que fez a fotografia. E eu queria muito estar como atriz do filme para participar de todas essas etapas. Mas não estou fazendo disso um rompimento do meu trabalho na atuação, que já tem muita coisa encaminhada. Tenho alguns roteiros interessantes e alguns possíveis projetos, mas nesse momento minha prioridade é me dedicar ao meu ofício de atriz. Vamos ver o que vem por aí. É tudo muito novo e eu quero isso, descobrir junto com a vida”, completou.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco