TEATRO

Grupo Magiluth questiona convenções teatrais com poesia de Miró da Muribeca

Na semana do 64º aniversário de Miró,grupo pernambucano reflete sobre a hierarquia teatral em nova temporada de ''Miró: Estudo Nº 2''

Publicado em: 08/08/2024 06:00

 (Foto: João Maria Silva Jr)
Foto: João Maria Silva Jr
Miró da Muribeca (1960-2022) utilizava seu corpo e voz para canalizar sua poesia, sempre presente nas ruas do Recife. O grupo Magiluth, reconhecido por sua atuação na dramaturgia local e nacional, emprega o mesmo método para transmitir a potência e a diversidade da literatura marginal na peça-palestra "Miró: Estudo Nº 2". A nova temporada coincide com a semana em que o poeta pernambucano completaria 64 anos, na última terça-feira. O espetáculo está em cartaz a partir de hoje até o dia 18 de agosto no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, de de quinta à sábado, às 20h; e aos domingos, às 17h.

Magiluth dá continuidade às suas reflexões sobre as novas formas de fazer teatro com base nas vivências da pandemia. Após o "Estudo Nº 1: Morte e Vida", que bebe na fonte dos versos de João Cabral de Melo Neto, o grupo volta sua atenção para a criação e desenvolvimento de um personagem. “Miró: Estudo Nº 2”, o 12º projeto do coletivo pernambucano, fez sua estreia em abril de 2023 no Itaú Cultural, em São Paulo. O espetáculo se afasta da biografia cênica convencional para oferecer ao público uma experiência poética e sensorial com o revezamento dos atores Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Bruno Parmera no papel de protagonista.

“A busca por criar algo relevante para o tempo em que vivemos é um guia que orienta o Magiluth em suas criações. No caso de 'Miró: Estudo Nº 2', não é apenas uma homenagem a esse poeta que recentemente nos deixou, mas que permanece vivo e vibrante entre nós. Ele também representa a continuidade de uma pesquisa. Estudar o teatro é, na verdade, estudar a nós mesmos. É um trabalho em que começamos a nos questionar sobre a construção de um personagem. A partir dessa pergunta, misturamos o próprio Miró com a essência dessa figura. Pensar no personagem de maneira mais ampla inclui considerar o bairro da Muribeca e as questões de uma cidade que vive em um eterno xeque-mate”, explica Giordano Castro, membro e um dos fundadores do Magiluth.

Em 2016, a transferência da sede para o Edifício Texas, no bairro da Boa Vista, proporcionou um intercâmbio artístico entre o Magiluth e diversos artistas, incluindo Miró, que havia recentemente deixado o Conjunto Muribeca. Foi através dos encontros regulares com aquele homem em ebulição poética que surgiu a vontade de investigar sua obra e biografia. “Fizemos com que aquele trabalho de investigação fosse além daquela figura, abrangendo todos que circulavam ao seu redor. Para nós, foi uma dor muito grande, pois ele partiu um ano antes da estreia, mas até então estávamos em diálogo constante com ele”. Depois de se mudar para o Hotel Central, o poeta viveu na Boa Vista até falecer em julho de 2022,.

Com cerca de 15 livros publicados e traduzidos para várias línguas, Miró é um dos maiores nomes da poesia contemporânea no Brasil. Seu legado é tão marcante que ele está entre os autores destacados na exposição permanente do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, saudando e apresentando os visitantes ao seu universo logo na entrada. “Assim como Leminski é associado a Curitiba, Miró é sinônimo de Recife. Nossa missão hoje é garantir que ele receba o reconhecimento que merece”, ressalta Giordano. Neste ano, uma estátua em sua homenagem foi inaugurada na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife, como parte do Circuito da Poesia, que homenageia outras 20 personalidades da literatura e da música na capital pernambucana.

Fundado em 2004, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Magiluth retoma as apresentações de "Miró: Estudo Nº 2" para celebrar seu vigésimo aniversário. Apesar da consolidação em nível nacional, o ator Giordano Castro valoriza a conexão e o diálogo do grupo com suas origens. “Não é uma celebração apenas para nós, mas para a cidade. Comemorar os 20 anos no Recife é fundamental e importante para nós. Embora o grupo tenha circulado bastante e realizado muitos projetos fora, nossa base é aqui, e é daqui que produzimos. Trazer essa festa para a cidade é maravilhoso para nós.

Ainda este ano, o grupo pretende anunciar novas sessões de “Luiz Lua Gonzaga”, que recentemente foi apresentado no Festival Pernambuco Meu País. Também estão previstas novas exibições de “Apenas o Fim do Mundo”, embora a definição das datas enfrente desafios devido a questões logísticas. "Estamos correndo para concretizar esses planos e esperamos que esta festividade alcance outras pessoas”, pontua Giordano.

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