CINEMA

Reais chances do Brasil no Oscar, com filme sobre ditadura

'Ainda estou aqui', filme de Walter Salles, entra numa rede de apostas que pode consagrar até mesmo a atriz Fernanda Torres, em escalada rumo ao prêmio mais badalado do cinema

Publicado em: 24/09/2024 16:18 | Atualizado em: 24/09/2024 18:13


Repeteco na parceria: Fernanda Montenegro e o diretor Walter Salles (foto: Videofilmes/Divulgação)
Repeteco na parceria: Fernanda Montenegro e o diretor Walter Salles (foto: Videofilmes/Divulgação)

"Não tenho dúvida que o filme Ainda estou aqui tem grandes chances de colocar o Brasil de novo entre os melhores do mundo", declarou Bárbara Paz, à frente da comissão da Academia Brasileira de Cinema que definiu, entre 11 títulos qualificados, a representação do longa nacional dirigido por Walter Salles na lista dos futuros títulos estrangeiros a disputar a vaga de melhor filme internacional, em 2025. O longa Ainda estou aqui estrelado por Selton Mello e Fernanda Torres terá distribuição pela Sony Pictures, e chegará às telas em 7 de novembro, no Brasil. Até 17 de dezembro, quando da divulgação da primeira lista de pré-candidatos oficiais ao Oscar, a expectativa paira.

 

Selecionado para o Festival de Nova York, na mostra Spotlight, em outubro, o filme entrou para o segmento dos títulos "mais relevantes da temporada". A sinopse estrangeira atenta para a determinação contra a injustiça de uma família que, em 1971, viu o ex-deputado e ativista Rubens Paiva ser levado de casa no Rio de Janeiro por representantes da ditadura militar, a título de apresentar " testemunho" diante das chamadas autoridades. Vale a lembrança da recente projeção internacional do longa, no Festival de Veneza, vitorioso na categoria de melhor roteiro (Murilo Hauser e Heitor Lorega), criado a partir de livro do filho de Paiva, o escritor Marcelo Rubens Paiva (autor ainda de outro best-seller, Feliz ano velho).

 

Na 81ª edição do festival italiano, no começo deste mês, o longa ainda faturou o prêmio Signs, por meio de votação de associação internacional ecumênica que exalta o cinema humanista e o Green Drop, que exalta filmes com vocação para sensibilizar "gerações futuras". Nome associado à instituição da Comissão da Verdade no Brasil, Rubens Paiva, em 1996, foi oficialmente dado como morto, a partir da instituição da Lei dos Desaparecidos (no governo de Fernando Henrique Cardoso).

 

Já exibido em festivais de cinema em Toronto (Canadá) e em San Sebastián (em curso, na Espanha), o filme de Walter Salles angaria ampla repercussão no ciclo internacional de cinema que pode chegar à festa do cinema mundial em 2 de março, caso esteja entre os finalistas que terão divulgação em 17 de janeiro. A circulação por meio da Sony Pictures Classics, promotora de filmes estrangeiros ou de festejados realizadores norte-americanos, em grupo que traz os recorrentes indicados ao Oscar Pedro Almodóvar, Michael Haneke, Woody Allen, Pablo Larraín e Paul Verhoeven, reflete a latente promoção da fita.

 

Morta em 2018, a viúva do deputado, Eunice, promete ser o coração do longa de Walter Salles, sob a comentadíssima atuação de Fernanda Torres. Já retratada no cinema, por Eva Wilma, em Feliz ano velho (1988), Eunice, por décadas, buscou esclarecimento de fatos. Tendo sido citada, no exterior, pela personificação da "alquebrada" figura da mãe de Marcelo Rubens Paiva, Fernanda Torres conta com a soma de "uma comovente aparição" de Fernanda Montenegro no filme. Publicações vitais ao ciclo de cinema, como Variety, Deadline e Time Out, rasgaram elogios par a atuação de Fernanda Torres, enquanto artigos no Los Angeles Times e na Hollywood Reporter trataram da estrondosa receptividade da fita fora do Brasil.

 

Num retrospecto, é impossível não associar a atual conjuntura de sucesso de Ainda estou aqui com a de Central do Brasil (também de Walter Salles), em 1999, ano em que além de finalista ao título de melhor filme estrangeiro, ainda celebrou a presença da magistral Fernanda Montenegro, no Oscar, depois de o filme faturar o Globo de Ouro. Em Berlim, Central obteve os prêmios Urso de Ouro (melhor filme) e de Prata (para a atriz). Seria raro, mas, desde já, os brasileiros podem torcer por simultâneas indicações a melhor atriz e melhor coadjuvante para as Fernandas. Seria o segundo caso do Oscar, que, há 33 anos, viu Diane Ladd e Laura Dern, mãe e filha (na vida real), disputarem prêmios nesta condição.

 

Uma verdadeira grife em termos de cinema nacional e de reconhecimento no exterior, a trajetória de Walter Salles encerra circuitos em festivais expressivos como Veneza, Cannes e Berlim. Com Diários de motocicleta (2005), ele competiu em Cannes, além de ter vencido o importante prêmio inglês Bafta; Abril despedaçado, em 2002, esteve na vitrine de Veneza — isso tudo, num painel de prestígio que incluiu o circuito de Cannes para o filme Na estrada (2012), baseado em clássico literário de Jack Kerauc, e também para o longa Linha de passe (2008), filme codirigido por Daniela Thomas, e que rendeu à atriz Sandra Corveloni o prêmio de melhor intérprete.

 

Na lista dos mais de 20 profissionais que selecionaram Ainda estou aqui como representante brasileiro para a comissão do Oscar, curiosamente estão Lucy Barreto (mãe dos antigos candidatos ao Oscar, além de irmãos, Bruno e Fábio Barreto) e a viúva do precursor do Cinema Novo Nelson Pereira dos Santos, Ivelise Ferreira, formada pela Universidade de Brasília. Na ampla representação feminina, diretoras politizadas deram as caras, entre as quais Sandra Kogut e Lô Politi.

 

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