MOSTRA DE SP

Força e melancolia do circo intinerante são retratadas no filme 'Mambembe'

Dirigido por Fabio Meira ('Tia Virgínia') e rodado no agreste pernambucano, longa mostra o seu próprio processo de produção, transformando o que seria uma ficção em um documentário

Publicado em: 22/10/2024 11:33 | Atualizado em: 22/10/2024 16:13

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Dirigido por Fabio Meira (do aclamado Tia Virgínia) e refletindo o anseio por fazer cinema a partir da interseção entre ficção e documentário, Mambembe, que conta com uma parcela muito importante de Pernambuco dentro dele, está na programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ainda não tem data de estreia nos cinemas.

Projeto que usa a metalinguagem para falar sobre o próprio processo de sua produção, o longa coloca em discussão diante do próprio espectador as maneiras com que ele poderia ter sido feito, com o diretor entrevistando seus personagens para que eles sugiram caminhos e possibilidades narrativas e performáticas.

A história trata de três mulheres de um circo mambembe acompanhadas por um topógrafo solitário pelo agreste pernambucano. Apresentando cada uma delas e, a partir daí, suas relações com o mundo circense, seus dramas pessoais e a relação que se estabelece entre elas e o homem que permeia a história (nem sempre de maneira narrativamente produtiva), o cineasta compõe um bonito quadro da alegria e da melancolia desse mundo para muito além dos seus espetáculos.
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Em Mambembe, na verdade, o show é o depoimento dessas mulheres para as quais o circo é um estilo de vida e uma forma de ver o mundo. Ao perguntar a uma delas quem deveria interpretá-las no filme que está em produção, Fabio Meira escuta a sábia afirmação de que ninguém melhor do que elas mesmas para contar suas histórias e ninguém poderia sentir esse afeto por aquele universo com a mesma autenticidade.

Embora não haja nada de novo na estrutura ou no dispositivo do documentário, o cineasta encontra beleza e humor suficiente em cada uma dessas personagens para fazer suas jornadas bastante cinematográficas. A narração completa algumas informações, mas nunca se torna impositiva ou intrusiva e a trilha sonora surge como uma adição igualmente pertinente, sem manipulações emocionais até esperadas para algumas das falas.

Em um dado momento no filme, são mostradas para as mulheres algumas de revelado para as mulheres algumas imagens feitas com elas muitos anos antes (uma dessas cenas passadas na Casa da Cultura). Este é um momento ao mesmo tempo de melancolia e de catarse: imaginamos o filme de ficção que poderia existir a partir dessas figuras e histórias, por um lado, mas, por outro, celebramos a beleza de ver personagens reais tão fascinantes dando vida em tela às suas próprias narrativas.
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