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Inspirado em Chico Science, Mago de Tarso emula manguebeat no trap

Com 25 anos, Mago de Tarso defende raízes pernambucanas em seu trap, que tem viralizado no Brasil; cantor se apresentará no tradicional Festival Mada, agendado para os dias 18 e 19, em Natal


Com a partida de Chico Science, em 2 de fevereiro de 1997, a lama do Recife silenciou o caos por um instante. Mas o legado do cantor transformou a cidade em um celeiro inesgotável de manguebeat, onde o diálogo entre a cultura popular e a música pop floresce em novas direções. Entre as novas vozes pós-mangue, destaca-se Ian Siqueira, mais conhecido como Mago de Tarso, que nasceu um ano após a morte de Chico. Ele desponta como fenômeno no trap e, sendo um autêntico bairrista, preserva o sotaque que enaltece a identidade pernambucana e nordestina em cada verso.

Seu reconhecimento é evidenciado pelo convite para se apresentar no Festival Mada, um dos eventos mais tradicionais do Nordeste que ocupa o estádio Arena das Dunas, em Natal, nos dias 18 e 19 deste mês. Na época do convite, Mago de Tarso não tinha vínculo com a ONErpm, sua gravadora atual, e foram seus amigos que cuidaram dos trâmites. “Foi muito gratificante, porque, como artista totalmente independente na época, ser chamado por um festival grande, que reconheceu alguém fora do mainstream, foi uma oportunidade incrível”, celebra o rapper. 

“Mago de Tarso evoca os caranguejos do manguebeat para criar um trap profundamente identificado com a cultura pernambucana e, por que não, nordestina. Colocando a singularidade do nosso palavreado em evidência, ele se tornou um fenômeno viral e fez o sotaque da nossa terra ser ouvido pelos quatro cantos do país. Esperamos um grande show do nosso caranguejo do trap”, afirma Pedro Barreira, diretor artístico do MADA.

Diretamente de Jaboatão dos Guararapes, Mago deu seus primeiros passos no rap em eventos como a Batalha do Rap Jordão, onde se destacou e chamou atenção pelos improvisos nas rimas. A capacidade visionária do jovem artista se revelou não apenas nas letras, mas também no aspecto mercadológico, ao citar personalidades pernambucanas em suas canções, como Mirella Santos em Magia e Anderson Neiff em Carolina Freestyle. A estratégia foi um tiro certeiro: eles divulgaram as respectivas músicas em suas redes sociais e alavancaram o nome de Mago.

Com rimas que exaltam as raízes nordestinas, Mago de Tarso explora os limites do manguebeat ao fundir sonoridades distintas como trap, bregafunk e forró. Carolina, por exemplo, é uma versão contemporânea de Mago para o clássico Cheiro de Carolina (1956), e interpretada por Luiz Gonzaga. Seus pais costumavam frequentar a Soparia, o epicentro musical do Recife na década de 1990, e influenciaram diretamente o rapper a se conectar com Chico Science e Nação Zumbi. “Baseado no que Chico fazia na época dele, misturando rock com elementos regionais, como maracatu e ciranda, hoje estou tentando fazer o mesmo com trap, misturando com forró, brega funk e outros gêneros atuais.

“Eles me chamam de novo Chico”, canta Mago em Caranguejo do Trap. O artista explica que sua intenção não é substituir o Rei do Mangue, mas sim ressaltar a riqueza cultural associada a ele. “Eu nunca quis me colocar nesse mesmo patamar, estou construindo a minha própria trajetória. Mas sempre faço questão de exaltá-lo, porque ele foi um gênio, e ainda é pouco reconhecido”. Mago não pretende nacionalizar as músicas para agradar o público do Sul-Sudeste. “Precisamos vencer esse medo de que, se falarmos com nosso sotaque, o pessoal do Sudeste não vai nos absorver. O pessoal do Sudeste não se preocupa se o Nordeste vai absorver ou não o que eles fazem. Eles simplesmente fazem a arte deles. E aqui, acabamos consumindo e colocando no pedestal”, questiona. 

Mago de Tarso vai reafirmar seu sotaque e a sonoridade diversificada que o reveste com Som do Litoral, seu álbum de estreia que será lançado em breve e fará parte do repertório de seu show no Festival Mada. “Estamos preparando uma estratégia de marketing que nunca vi nada parecido aqui em Recife, pelo menos. Já estamos na reta final para lançar tudo. Estou muito ansioso, de verdade. Quem é de Recife vai se identificar bastante, e quem é de fora vai conhecer um pouco mais da nossa cultura”. Lúcio Maia, ex-guitarrista da Nação Zumbi, é uma das parcerias confirmadas,

Leia a notícia no Diario de Pernambuco