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Os Quatro da Candelária: Netflix traz sonhos infantis mortos pela barbárie

O Diario conversou com os diretores da série, que deram detalhes exclusivos da produção que conta mais um episódio trágico da história brasileira


 

Na noite de 23 de julho de 1993, na Igreja da Candelária, área central do Rio de Janeiro, oito pessoas, entre elas seis menores, perderam a vida em um ataque conhecido como o "Massacre da Candelária".

 

Durante a madrugada, três policiais e um ex-PM chegaram em dois carros com placas cobertas e atiraram contra as dezenas de pessoas que dormiam no local, entre elas crianças.

 

Hoje, em um monumento construído nos arredores da igreja, estão os nomes das vítimas fatais inscritos em uma cruz de madeira. 

 

Para além deste gesto, a Netflix, através dos diretores Luis Lomenha ('Luto Como Mãe') e Marcia Faria ('Me Chama de Bruna'), tomou depoimentos de sobreviventes do massacre para construir uma minissérie ficcional, mas que conta uma história palpável que mistura drama e sonhos.

 

'OS QUATRO DA CANDELÁRIA' 

 


 

Com quatro episódios, cada um seguindo a perspectiva de um dos protagonistas e vítimas do massacre 36 horas antes do ocorrido, a produção transita entre drama, ação e aventura, em uma mistura excitante de fantasia e realismo.

 

Em conversa com o Diario de Pernambuco, Luis Lomenha, roterista e diretor da série ao lado de Marcia Faria, afirmou que o formato é uma experimentação.

 

"A gente tem muitas referências, principalmente literárias do realismo fantástico. Cem Anos de Solidão, a própria obra do Dias Gomes, do Ariano Suassuna, conteúdos com muitos personagens. Mas a gente não tem uma referência cinematográfica neste formato multiplote. Esse formato nativo, eu te confesso que a gente não encontrou nenhum", afirmou Lomenha. "Então, a gente está experimentando um formato novo, que é uma uma miscelânea ali de gêneros, né? Ação, aventura, fantasia, realismo. E é uma aposta, uma aposta estética", contou o diretor.

 

São quatro crianças diferentes com quatro histórias diferentes, unidos por data, hora e local. Entre essa família que se criou ao redor da Igreja da Candelária, a série mostra a existência de um mesmo senso de sobrevivência, que ao ser misturado com as alegrias e ousadias da jovielidade, cria um ritmo frenético para o espectador. Acompanhamos a linha do tempo até a tragédia, testemunhando a fundo os aspectos psico e sociológicos que envolvem esses personagens.

 

"Nós queríamos que todos os quatro fossem protagonistas dessas histórias, que fosse uma espécie de uma GoPro no olho de cada um deles. Mas, ao mesmo tempo, a gente queria passar essa ideia de família diferente, de cooperação entre eles, de parceria, de generosidade. E foi aí que a gente encontrou esse formato", explicou Lomenha. 

 

Segundo ele, as histórias que vieram dos encontros com os sobreviventes de 1993 não são trazidas de forma exata, mas sim pintadas de ficção em prol dos protagonistas. "A gente pensou em fatos que tivessem acontecido. Alguns são inspirações de fatias, outros são completamente inventados, e que esses fatos pudessem se repetir ao longo dos quatro episódios, que eles pudessem participar de tudo. São os momentos onde a gente consegue, de fato, mostrar que eles são um grupo unido forte. Porque, nos outros momentos, eles estão nos 'corres' individuais de cada um".

 

Para Faria, trazer o ponto de vista das crianças é "o maior acerto da série". Esse ponto se torna mais surpreendente ainda quando é destacado o fato de que as crianças são "não atores", como os diretores classificaram na conversa.

 

Andrei Marques (Jesus), Samuel Silva (Douglas) e Wendy Queiroz (Pipoca) fazem sua estreia à frente das câmeras. Dos protagonistas, apenas Patrick Congo (Sete) já era ator, tendo um papel na série 'Dom'. Os quatro - incluindo Wendy com seus 9 anos - mergulham de cabeça no enredo, que os motiva a atuarem como veteranos.

 

"A gente vai contar isso pelo olhar de cada criança, o que ela estava vivendo ali, o que ela estava desejando, o que ela estava sonhando, até que chegue num momento fatídico do massacre. Então, é trazer humanidade para essas crianças, para além dos desafios formais de contar a mesma história de maneira interessante, de maneira diferente, e trazer a personalidade de cada ator, de cada personagem. Então, isso foi um grande desafio", comentou a diretora. 

 

'Os Quatro da Candelária' é uma produção nacional da Netflix e estreia nesta quarta-feira (30). 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco