Filme que abriu a 15ª edição do Janela Internacional de Cinema do Recife na última sexta-feira (1º), no aguardado retorno do Cinema São Luiz, Manas é um dos lançamentos brasileiros mais prestigiados e surpreendentes de 2024. Exibido no Festival de Veneza, onde venceu o prêmio da Jornada dos Autores (Giornate degli Autori), e premiado também pela crítica na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa-metragem de estreia em ficção da diretora Marianna Brennand é um conto ao mesmo tempo duríssimo e delicado sobre a realidade de meninas, crianças e adolescentes, em comunidades isoladas como a Ilha de Marajó, no Pará, onde a trama se desenrola.
Apesar de Manas ser o primeiro trabalho de Marianna Brennand em ficção, fica muito evidente tanto o controle espacial da cineasta – que nos coloca no isolamento daqueles rios e florestas de modo simultaneamente familiar e desorientador – como a sua sensibilidade na condução do elenco. Tudo no filme fala mais através dos olhares e gestos do que pela verborragia, ainda que, apropriadamente, o longa eleja a personagem da policial (vivida por Dira Paes) para fazer esse trabalho textual pontualmente.
A água que circula a casa das personagens é sufocante pelo distanciamento do horizonte e, de algum modo, convidativa a um futuro longe daquele ambiente. A precisão visual e simbólica do trabalho de Marianna Brennand em Manas está, inclusive, em compreender como é possível, sim, escapar desse ciclo, mas está longe de ser fácil ou unilateral. Tragicamente, aliás, ele é resolvido das maneiras mais brutais.
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