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Escritora pernambucana Micheliny Verunschk disputa fase final do Prêmio Oceanos

Com 10 finalistas, premiação é dividida nas categorias poesia e prosa. Micheliny compete pelo seu último livro ''Caminhando com os mortos''

Micheliny Verunschk iniciou como poetisa e depois enveredou nos romances

Considerada uma das principais vozes literárias contemporâneas do país, a recifense Micheliny Verunschk está entre os finalistas do Oceanos — Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, com seu livro Caminhando com os Mortos (Companhia das Letras), na categoria prosa. Na fase final, ela tem a concorrência de quatro escritores, entre os quais dois são brasileiros. Os vencedores das categorias de prosa e poesia serão conhecidos em 5 de dezembro, durante cerimônia no auditório do Itaú Cultural, em São Paulo.

De 60 semifinalistas, 30 de prosa e 30 de poesia, eleitos entre 2619 obras inscritas, o júri intermediário do Prêmio Oceanos escolheu cinco finalistas em cada categoria. Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal estão representados no conjunto, que ao todo conta com cinco brasileiros (Airton Souza, João Silvério Trevisan e Micheliny Verunschk, na prosa; Juliana Krapp e Rodrigo Lobo Damasceno, na poesia); dois cabo-verdianos (Germano Almeida, na prosa; José Luiz Tavares, na poesia); um moçambicano (Álvaro Taruma, na poesia) e dois portugueses (Hélia Correia, na prosa; Nuno Júdice, na poesia).

Micheliny chega pela segunda vez à fase final do Oceanos. Em 2022, a escritora ficou em terceiro lugar com O som do rugido da onça, obra que também foi premiada na categoria “romance literário” do Prêmio Jabuti. “Todos que escrevem estão sujeitos a se tornarem finalistas ou a serem premiados, então vejo essa indicação com alegria, claro, pois é algo importante. Mas não crio expectativa, sabe? Outro dia, ouvi de uma colega escritora que ganhar não significa que aquele livro é o melhor, nem que os que não ganharam são inferiores. No fim, é uma contingência. Ainda assim, estou feliz e, como todos os finalistas, quero ganhar — mas isso pertence ao imponderável”, afirma Verunschk.

Nascida no Recife, em 1972, passou grande parte da infância e adolescência em Arcoverde, no sertão pernambucano. Foi aos 10 anos, segundo ela, que começou a desenvolver sua consciência literária e a criar suas próprias histórias. “Nessa época comecei a criar minhas primeiras narrativas curtas, de forma independente, sem influência da escola, escrevendo apenas pelo prazer de contar histórias”. Micheliny recorda que, além de se perder em fantasias sobre o futuro, ela escrevia para expandir sua imaginação. “Quando as pessoas perguntavam às crianças o que queriam ser quando crescessem, eu também tinha minhas fantasias: queria ser astronauta, queria ser pirata. Mas foi na escrita que encontrei um espaço para explorar esse mundo de fantasia e fabulação com mais propriedade”. 

Autora de 13 livros, Micheliny transita entre romances e poesias, da mesma forma que percorreu os diversos cantos de Pernambuco antes de chegar a São Paulo. Ela estreou como poetisa com Geografia Íntima do Deserto, finalista do Prêmio Portugal Telecom 2004. Após lançar mais três poemas, seu primeiro romance, intitulado Nossa Teresa - vida e morte de uma santa suicida, foi publicado em 2014. Seja na poesia ou na prosa, seu objetivo permanece o mesmo: seduzir o leitor. “Quero que ele se sinta absorvido por aquele universo, que encontre um mundo sólido, sedutor e fascinante. Mais do que fazer sentido, desejo que esses mundos, personagens e histórias sejam memoráveis”. 

Em Caminhando com os mortos, uma mulher é queimada viva em um ritual que busca purificá-la e “corrigi-la” para o bem, sob pretexto religioso. O leitor é convidado a juntar fragmentos e seguir pistas deixadas por outra mulher que tenta compreender e organizar essa narrativa trágica. O livro integra a Trilogia do Mato, que inclui O Som do Rugido da Onça. Micheliny escreveu recentemente o terceiro volume, Depois do Trovão, que será lançado no próximo ano e vai explorar a Guerra dos Bárbaros – uma campanha genocida financiada pela coroa portuguesa, que encorajou os bandeirantes a cruzarem o sertão, de São Paulo ao Rio Grande do Norte, dizimando comunidades indígenas pelo caminho.

Para preservar a integridade dos romances, a escritora pernambucana trabalha temas sociais e históricos em segundo plano. “Como indivíduo, tenho interesse por determinados temas e uma visão política que inevitavelmente atravessa minha obra. No entanto, para evitar que essa abordagem se torne panfletária ou datada, coloco essa preocupação em segundo plano”, afirma.  “Assim, em meus romances, você encontrará a questão da mulher, da causa indígena, do meio ambiente, da ditadura militar e da religião — aspectos que, como pessoa, me interessam profundamente. Mas o que busco com isso não é levantar bandeiras ou criar panfletos”, pontua Micheliny. 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco