ESTADOS UNIDOS

Primeiro debate entre Trump e Biden é marcado por ofensas e mentiras

No duelo em Atlanta, Trump chama Biden de ''o pior presidente da história'' e o acusa de destruir o país, além de abrir a fronteira para ''terroristas''. O democrata contra-ataca e define republicano como ''trouxa'', ''criminoso condenado'' e com ''a moral de um gato de beco''

Publicado em: 28/06/2024 08:02

Joe Biden (D) e Donald Trump (E) travam duelo nos estúdios da emissora CNN, em Atlanta: economia e imigração no primeiro bloco do debate  (Crédito: Andrew Caballero Reynolds/AFP)
Joe Biden (D) e Donald Trump (E) travam duelo nos estúdios da emissora CNN, em Atlanta: economia e imigração no primeiro bloco do debate (Crédito: Andrew Caballero Reynolds/AFP)

De um lado, um Donald Trump incisivo, com respostas imediatas e agressivas. De outro, um Joe Biden que parecia acuado e, algumas vezes, tinha dificuldades de se articular. A 131 dias das eleições presidenciais, o atual inquilino da Casa Branca, potencial candidato do Partido Democrata, e o antecessor republicano travaram um duelo histórico, na noite desta quinta-feira (27/6), no primeiro debate, nos estúdios da emissora CNN, em Atlanta (Geórgia). Economia, aborto, imigração e o conflito no Oriente Médio abriram o embate em meio a um clima nada amistoso: não houve aperto de mãos.

Os moderadores questionaram Biden sobre o fato de a inflação ter reduzido, enquanto os preços se mantêm altos. "Quando assumi, a economia estava em colapso. Não existia emprego", disse, tentando controlar o pigarro. "Muito ainda precisa ser feito. (...) Quando ele (Trump) saiu, deixou o caos." Trump tratou de defender o seu legado e garantiu que, após a pandemia de covid-19, fez com que o país retomasse o crescimento. "Ele (Biden) está fazendo um trabalho muito ruim, está nos matando. (...) É a pior administração da história", declarou o republicano.

Imigração

Trump prosseguiu no ataque, ao abordar a crise migratória nos EUA. "Tudo o que o 'Joe sonolento' fez foi abrir nossa fronteira. Temos o maior número de terroristas vindo para os Estados Unidos, não apenas da América do Sul, mas de todo o mundo. Esse cara apenas abriu as fronteiras", disparou Trump, antes de afirmar que os migrantes assassinam pessoas em vários estados do país. "Nós passamos a ser um país não civilizado nesse momento. Essas pessoas estão destruindo o nosso país. Nós temos que expulsá-las. (...) Estão matando nossos cidadãos em um nível nunca antes visto."

Biden reagiu, acusou Trump de mentir e de cometer violações dos direitos humanos durante o seu governo. De acordo com o democrata, alegar que os EUA abrem os braços aos migrantes que entram ilegalmente no país "simplesmente não é verdade". "Não há dados que sustentem o que ele disse. Ele está exagerando. Ele está mentindo", disse. "Nós nos encontramos em uma situação em que, quando ele era presidente, ele separava os bebês de suas mães, os colocava em gaiolas, garantindo que suas famílias fossem separadas. Esse não é o caminho certo."

Em um dos momentos mais tensos, Biden questionou se Trump chamou os veteranos de guerra de "trouxas e perdedores", ao visitar um cemitério militar, na França, durante seu mandato. "Meu filho não foi um trouxa nem um perdedor. Você é trouxa e perdedor", disparou o atual presidente, ao citar Beau Biden, o filho falecido, que combateu no Iraque. O republicano replicou e qualificou o democrata de "o pior comandante-em-chefe da história dos EUA".

Minutos depois, o magnata foi chamado de "criminoso condenado" por Biden — em alusão ao caso envolvendo o suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels — e lembrou que Hunter Biden, filho de Joe Biden, também é "um criminoso condenado". A reação de Biden foi um dos pontos altos para o democrata. "Os crimes dos quais você é acusado — e pense em todas as penalidades civis contra você. Quantos bilhões de dólares você deve em penalidades civis por molestar uma mulher em público? (...) Por fazer sexo com uma estrela pornô à noite, enquanto sua mulher estava grávida?", perguntou. "Você tem a moral de um gato de beco".

Em relação à política externa, o debate apresentou três instantes simbólicos. Questionado pela jornalista Dana Bash se apoiaria a criação de um Estado palestino, Trump desconversou: "Eu teria que ver". O republicano classificou a retirada de tropas americanas do Afeganistão como "o dia mais embaraçoso da história dos EUA". E assegurou que a guerra na Ucrânia jamais teria começado "se tivéssemos um líder".

A invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, foi trazida ao debate e parece ter provocado mal-estar em Trump. Ao ser confrontado sobre se foi omisso, ao não evitar o ataque, o republicano respondeu: "Eu poderia ver, não tinha praticamente nada para fazer; eles me pediram para discursar".

Resultado da eleição

Ao fim do debate, Trump foi perguntado, por três vezes, se aceitará o resultado das eleições. Nas duas primeiras ocasiões, tergiversou. Pressionado, disse que "se as eleições forem livres, justas e boas, absolutamente". "A fraude e tudo o mais é algo ridículo." Em entrevista ao Correio, Jennifer McCoy — cientista política da Universidade Estadual da Geórgia — disse que Biden mostrou boas respostas com conteúdo, mas elas foram fracas na entrega. "Biden tem boas respostas com conteúdo, mas fracas na entrega. Trump pareceu enérgico, mas mentiu", avaliou. "Não houve vencedores. Trump é pura mentira e não respondeu às perguntas. Nesse sentido, ele controlou o conteúdo, e Biden falhou ao não reagir." Para ela, o debate foi mal organizado, à medida que os moderadores se recusaram a intervir e não verificaram os fatos. "Isso não ajudará Biden em nada. Ele parece fisicamente fraco, ainda que com respostas mais substantivas. Trump escapou, impune, com suas mentiras e ignorou as perguntas", concluiu McCoy.

Historiador político da American University, em Washington, Allan Lichtman admitiu ao Correio que o debate girou em torno de respostas às constantes mentiras de Trump. "Aqueles que acreditam que Trump está mentindo pensarão que Biden venceu. Aqueles que acreditam em Trump pensarão que Trump venceu", avaliou.
 
As informações são do Correio Braziliense. 
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL