E-BOOK

A ciência do questionamento

Novo livro digital do professor pernambucano Ulysses Paulino de Albuquerque debate diferença entre ceticismo e negacionismo em um contexto de bombardeio de informações

Publicado em: 03/07/2024 06:00 | Atualizado em: 02/07/2024 17:45

 (As ilustrações do livro foram feitas através do uso de inteligência artificial.)
As ilustrações do livro foram feitas através do uso de inteligência artificial.
Reflexões e inquietações durante o período pandêmico, especialmente diante do amplo debate sobre desinformação e negacionismo, levaram o professor e pesquisador pernambucano Ulysses Paulino de Albuquerque, titular do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a desenvolver o livro Errados são os outros! Ceticismo, pseudoceticismo e ciência, já disponível gratuitamente em formato ebook para computador, celular e leitor digital.

Considerado um dos 100 mil pesquisadores mais influentes do mundo em 2023 pela Universidade de Stanford, na Califórnia, Ulysses se dedica cada vez mais ao estudo interdisciplinar e, com doutorado em Biologia Vegetal, foi fundador e coordenador do Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA) na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), onde lecionou até 2017. Desde 2021, ocupa a cadeira 46 da Academia Pernambucana de Ciências e vem apresentando em suas publicações a importância do papel da ciência e do pensamento crítico na sociedade contemporânea, cada dia mais bombardeada de informações as quais aparecem de modo exponencialmente acelerado.
 (Foto/Arquivo Pessoal (Ulysses Paulino Albuquerque))
Foto/Arquivo Pessoal (Ulysses Paulino Albuquerque)
Com estudos e interesses voltados para as áreas da filosofia e sociologia, Ulysses demonstra desde sempre interesse em compreender a relação humana com a natureza e suas questões comportamentais também de outros segmentos, como formações ideológicas, negacionismo climático, xenofobia, entre outros fenômenos que se tornaram ainda mais debatidos a partir de 2020. Após a produção dos livros O que você precisa saber sobre ciência para não passar vergonha e O que você precisa saber sobre hipóteses científicas para não passar vergonha, o autor resolver reunir, a partir de 2022, todas as suas ideias e pesquisas sobre o comportamento negacionista para conceituar objetivamente termos caros a esse tema.
 
“Foi doloroso assistir à irresponsabilidade gerada por notícias falsas e pelo mau uso da ciência, inclusive por aqueles que deveriam defender a perspectiva científica, assim como agora é angustiante ver os prejuízos dessa prática de disseminar desinformações em relação à tragédia climática enfrentada pelo estado do Rio Grande do Sul”, compara Ulysses na apresentação do livro. É essencial para o pensamento do autor destacar o significado de ‘ceticismo’, palavra comumente – e equivocadamente – associada ao negacionismo.
 
Logo no início, ele pondera a importância de um olhar cético que, na sua definição, dialoga com o questionamento contínuo diante dos fatos, conhecimentos e crenças. “É uma abordagem que valoriza a investigação, a busca por evidências para avaliar a veracidade de alegações. Diferentemente da descrença ou da negação automática, o verdadeiro ceticismo envolve um processo analítico e reflexivo”, explica.
 ((Capa do livro))
(Capa do livro)
A publicação discorre ainda sobre a chamada ‘Síndrome de Gabriela’, que faz referência à personagem antológica de Jorge Amado, adaptada duas vezes para a televisão. “Eu nasci assim, eu cresci assim, sou mesmo assim, vou ser sempre assim”, trecho icônico da música eternizada pela novela, ilustra bem o comportamento que o pesquisador critica.
 
“Confrontar nossas próprias ideias faz parte da minha reflexão sobre ceticismo constante e é, sim, bastante doloroso. Ninguém quer deixar sua zona de conforto de conhecimento, mas o ceticismo saudável é isso, um processo/hábito constante de investigação e de dúvida – que não deve jamais ser confundido com o que eu chamo no livro de ‘pseudoceticismo’. Esse último se trata de uma postura dogmática e inflexível que se disfarça de pensamento cético e simplesmente rejeita qualquer alegação sem nenhum tipo de investigação ou escuta. A mensagem principal que eu quero deixar é a defesa do pensamento crítico. É essencial questionarmos sempre os nossos próprios conceitos inclusive para não ficarmos presos a eles”, explicou Ulysses em entrevista ao Viver.

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